Profiteroles com morango e creme de baunilha
Expectativas ao som de Debussy.
Expectativas. Conviver com elas pode ser o céu, mas num instante, pode converter-se numa tortura. Elas podem ser o combustível que movimenta nossa vida. Para planejar e colocar as coisas no papel. Para ir para ação e tirar as coisas do papel. Catalizadores de sonhos. Da etereidade elas podem se transformar em combustão e, então, trazer o futuro para o presente.
Mas a imaterialidade, muitas vezes, faz com que as expectativas gerem ansiedade, e de modo geral, uma angústia inquietante. Da falta de chão, do aperto no estômago, da cabeça que voa. Ficar esperando, provoca sentimentos complexos que te paralisam, da busca sem resposta, e por sua natureza etérea inflamável, faíscas viram fogo. Que queima e consome.
"Pois tem razão o filósofo ao dizer que entre a felicidade e a melancolia não medeia espessura maior que a de uma lâmina de faca"
- Virgínia Woolf, em Orlando: Uma Biografia.
Tenho vivido as últimas semanas nesse fio de faca: entre a angústia e o anseio. O mundo não acabou e a credibilidade do calendário Maia foi por água, mas a sensação é de que, se o planeta não irá sofrer um ataque que dizimará a humanidade, e nem será invadido por discos voadores, alguma outra mudança, de natureza menos chocante ou catastrófica está por vir. Os dias andam agitados, parece que situações por tanto tempo pendentes, finalmente, encontram seu desfecho. As apostas vão, enfim, definir os ganhadores, e os dados, agora, giram na mesa.
Eu não sei você, mas quando consigo domar minha ansiedade, pressinto a sorte do meu lado. Daí eu me enxergo uma apostadora nata, com uma certa fissura na ponta dos dedos, daquelas que sabem que o jogo vira, quando a gente menos espera. Esperar, no entanto, é sabido, faz parte das regras. Com paciência e alguma disciplina, você faz a sua sorte. Com o camelo amarrado, deus vigia. E amanhã, o dia pode nascer ensolarado.
Esse sentimento crescente de alguma forma está movimentando os meus dias. Num instante, eu vejo coisas boas no caminho. Apesar de em outros, me remoer em ansiedade. De concreto, ainda não posso dizer nada. Como uma noiva a espera do casamento, ou de um réu à espera de sua sentença. Oscilando como os dedos no piano de Debussy em Rêverie. A impotência diante do incontrolável. Nada a fazer, a não ser esperar. E a ânsia corroendo e atropelando como uma orquestra tocando Wagner e sua Cavalgada por dentro. Haja meditação e oração nessas horas.
Mas eu vejo quanta sorte eu tive até aqui. O quanto dela foi presente da vida. O quanto dela foi fruto de escolhas e apostas. O quanto dela foi conquistada no dia-a-dia. E o quanto dela, ainda está por vir. Essa positividade me acalma. E eu convivo na expectativa de mais um dia na espera.
A vida segue seu rumo, a despeito das minhas expectativas. Nos ouvidos, Clair de Lune de Claude Debussy e a Gymnopédie N.1 de Erik Satie. Como eu adoro o som do piano.
Receita da semana: profiteroles. Quando decidi fazer as éclairs, queria que fossem o mais tradicional possível, se é que isso existe, eu gosto de fazer receita do jeito que as nossas avós faziam, com manteiga a dar enfarto e gemas a zerar colesterol da vida.
Fui eu fazer a receita pela primeira vez na minha vida. Primeira e segunda. Porque ao assar pela primeira vez, acabei deixando o fogo muito alto, a massa dourou e quando eu tirei do forno, elas murcharam. Lá fui eu cozinhar a farinha de novo, ensacar a birosca e assar tudo outra vez.
E daí, decidi não dar bola para as instruções, deixar em fogo baixo, assar bem devagarinho. A massa das carolinas cresceram e lá fui eu a fazer o creme pasteleiro. Leite, maisena, ovos e um favo inteiro de baunilha. O creme não engrossou o suficiente para deixá-la consistente, a receita dizia para bater com a manteiga e quase talhou, adicionei mais maisena e nada. Decidi rechear as carolinas com o creme molengo mesmo. Ficou tudo meio escorrido. Ao final coloquei morangos e chuva de açúcar por cima, e tudo melhorou.
O que pode ter dado e, provavelmente, deu errado:
A massa. Coloquei em fogo muito algo, a massa queimou por fora e ficou crua por dentro.
O creme. Eu usei o ovo inteiro, ao invés de só gemas. Não sei porque às vezes teimo em coisa simples, e depois choro pelo leite no chão. Usar só gemas têm a função de dar textura e corpo ao creme. Então não seja boba como eu e siga a receita direito.
A realidade. Minhas noções de confeitaria continuam péssimas.
O resultado. Os profiteroles ficaram gostosos e no ponto da crocância. O creme, mesmo mole, ficou bem gostoso. Combinou bem com o morango.
Profiteroles com Morango e Creme de Baunilha
Uma receita confeiteira tradicional e deliciosa, para dias especiais.
Rendimento: 15 unidades
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Tempo de Preparo:
Tipo de Prato: doces, chá da tarde
para a massa
- 1/2 xícara de leite
- 1/4 xícara de água
- 115g de manteiga sem sal
- 1/2 colher de chá de sal
- 1 xícara de farinha de trigo
- 4 ovos (temperatura ambiente)
para o recheio
- 1 e 1/2 xícara de leite
- 1/2 xícara de açúcar
- 3 colheres de sopa de amido de milho
- 4 gemas
- 1 fava de baunilha pequena
- 15 morangos (aproximadamente)
- 2 colhers de sopa de açúcar confeiteiro para polvilhar
para a massa
- Pré-aqueça o forno a 220° C.
- Numa panelinha, junte o leite, amanteiga, sal e a água, e leve ao fogo alto até ferver.
- Adicionar farinha e mexa constantemente até formar uma massa que desgrude da panela, e reduza o fogo para médio e cozinhe, mexendo sempre com uma colher de pau, até secar, por cerca de 2 minutos.
- Transfira a massa para uma batedeira e vá adicionando os ovos, um a um até a massa ficar homogênea e macia.
- Coloque a massa no saco de confeitar, com o maior furo redondo, e faça bolas numa assadeira forrada com papel manteiga, deixando um espaço de cerca de 3 dedos entre cada bola.
- Coloque a assadeira no forno e reduza a temperatura para 170° C. Asse até que elas cresçam e fiquem douradas, por cerca de 45-50 minutos.
para o recheio
- Ferva 1 xícara de leite e açúcar, numa panela panela em fogo médio.
- Enquanto isso, numa tigela, misture o restante do leite, com o amido de milho e as gemas de ovos com um batedor.
- Junte aos poucos metade do leite quente, misturando sempre, e depois adicione a mistura na panela com o restante do leite.
- Leve ao fogo baixo novamente e cozinhe o creme, mexendo constantemente com uma colher de pau, até engrossar e ferver.
- Junte as sementes de baunilha, misture bem e transfira para uma recipiente, e cubra com filme plástico.
- Quando esfriar, leve para gelar na geladeira.
- Bata o creme de leite até fazer picos firmes, mas cuidadeo para nào sobrepassar e talhar
- Adicione delicadamente ao creme.
para o a montagem
- Corte os morangos em fatias finas.
- Parta os profiteroles ao meio com uma faca de pão e recheie-os com o creme e os morangos.
- Polvilhe o açúcar de confeiteiro por cima de tudo.

Pavê de bolo de chocolate
O que fazer quando o bolo cola na fôrma.
Das receitas que tenho vontade de fazer (e acertar), no topo da minha lista está o bolo red velvet. A massa vermelho rubi, com cobertura branca. Só que minha vontade constitui fazê-la sem corantes sintéticos ou artificiais, com a cor da beterraba mesmo. Busquei receitas pela internet, explicações sobre o ph, alcalinidade, vinagre de arroz, cacau em pó sem lavagem, trigo orgânico - sem tingimento químico que acaba conferindo alcalinidade à farinha.
Não sei você, mas tenho uma dificuldade enorme de seguir receitas à risca. Seja pela quantidade que nunca acho suficiente, ou acho sempre que leva açúcar demais. Quero fazer em fôrma quadrada com camadas, quando a receita aconselha em forma redonda desmontável. Trocar o licor por chá, fruta por chocolate, e assim vamos. Às vezes, tenho sucesso e as adaptações acertam o paladar em cheio.
Outras vezes, as mudanças se mostram equivocadas elevadas à quinta potência, como foi o caso da minha tentativa de fazer um red velvet "autêntico". Quis mudar a receita original, usei óleo ao invés de manteiga, quis fazer 1/2 receita a mais, e no final, por conta da massa mais líquida que eu esperava, decidi optar por uma fôrma maior e não desmontável. Escolhi uma daquelas nórdicas, cheias de curvas, que só com mandinga e reza braba para desenformar um bolo nela, quando feita à base de óleo vegetal.
Ao final, a massa daquela p$%&*#, não ficou vermelha. Terminei com um bolo marrom colado na minha fôrma importada. Quando me dei conta do desastre tive vontade de: (a) arremessar na parede o bolo grudado na fôrma; (b) sentar e chorar, comendo o bolo com a mão no chão da cozinha; (c) jogar tudo fora e começar do zero outra vez. Respirei fundo, dei risada, e não fiz nada disso. Só não queria jogar fora pelo desperdício. Deixei o bolo lá na forma por algumas horas, até que decidi fazer uma sobremesa montada com ele mesmo: uma espécie de torta ou pavê, com o bolo, creme pasteleiro, e cacau em pó.
Então, da próxima vez que seu bolo colar na fôrma, nem tudo está perdido. Faz um creme, monta numa tigela bacana e serve assim mesmo. Red velvet, não foi dessa vez. Ficamos com um pavê por enquanto.
Pavê de bolo de chocolate
- 01 bolo de chocolate colado na fôrma
- 400ml de leite
- 01 colher de sopa de maisena
- 02 ovos
- 1/2 xícara de açúcar
- 01 colher de sopa de extrato de baunilha
para molhar o bolo
- 1/4 xícara de leite
- 02 colheres de sopa de vinho do porto ou licor de laranja
Modo de Preparo
Esquente o leite até começar a subir um vapor. Bata os ovos com o açúcar até ficar um creme esbranquiçado. Junte a maisena e a baunilha. Adicione o leite quente e continue batendo até ficar homogêneo. Leve ao fogo médio, misturando sempre, até engrossar. Coloque um plástico filme por cima, para que ele não forme uma película. Deixe esfriar um pouco.
Numa fôrma ou travessa, faça uma camada com o bolo e jogue a mistura de leite com vinho sobre ela. Jogue o creme por cima e leve à geladeira. Decore com frutas, caldas, ou cacau em pó. Sirva gelado.