Sobre a tristeza que me acompanha
Um mundo sem Kate Spade e Anthony Bourdain.
Eu estava ensaiando há algumas semanas escrever sobre o lado B do mundo cor-de-rosa que aparece no meu feed do instagram e aqui no blog. Só que as palavras não vinham, ficava tudo meio pesado, talvez íntimo demais para escrever e deixar público. Eu preferi não escrever, esperar essa sensação ruim passar, já que não chegava a ser uma depressão, eu venho levando a vida, pode-se dizer numa boa, alguns dias mais arrastados, outros tirando de letra. Mas o fato é que não havia motivo tão grave para justificar essa angústia que às vezes aparece, uma tristeza que me acompanha desde criança, e que eu fui aprendendo a conviver e estar no mesmo recinto em que ela.
E aí, vieram as notícias, primeiro Kate Spade, em seguida Anthony Bourdain. Talento, sucesso, filhos jovens. Tinham tudo e mesmo assim optaram por tirar suas vidas. Fiquei em choque, fiquei triste, meu coração se aninhou. Queria entender o que se passou, quais motivos, razões. E, ao mesmo tempo que fiquei surpreendida no primeiro momento, me senti compassionada, logo em seguida, como se eu pudesse entender claramente suas atitudes.
Não quero ser mais uma a escrever e aconselhar que você converse com alguém ou busque ajuda se estiver em depressão ou alguma crise de ansiedade ou pânico - também não estou dizendo para não buscar, veja bem, essa realmente é a única coisa que pode te ajudar. - Mas verdadeiramente, o que eu posso compartilhar é sobre mim mesma, sobre a minha própria experiência. Faço terapia há mais de 15 anos. Me conhecer e me aprofundar sobre mim mesma, é algo que persigo desde sempre. Sou casada com um terapeuta, trabalho com grupos de meditação e autoajuda, anseio em evoluir como ser humano. Mas estou distante de não sofrer, ou de não me afetar, de não me frustar, ou de não me abalar com o mundo à minha volta. Ou com a minha própria história, com o meu passado.
Eu acho que todo mundo carrega memórias tristes. A maioria de nós supera, ou diz que, passa por cima delas. Uma vez li que as merdas do passado são como uma pedra pesada, se você não souber como largá-la, uma hora ela irá te afundar. Na minha vida, eu já perdoei e deixei ir muita coisa. Mas de tempos em tempos eu entro num buraco, onde moram as tristezas e onde eu me sinto absolutamente só. Não me vejo uma pessoa infeliz, mas sei reconhecer o pesar nas pessoas à minha volta. O mundo sofre e eu me compadeço com ele.
A vida é um mistério e eu não tenho nenhuma receita para a felicidade. Mas eu acredito que aprender a conviver com a própria tristeza, se reconhecer nesse sentimento é um caminho possível. Não negar ou fugir dela, talvez seja a única forma de não ser tomado por ela ou de ser pego desprevenido. Isso, é claro, se você quer buscar uma solução. Eu não sou capaz, e nem quero, julgar moralmente uma pessoa que comete suicídio. Minha crença é de que a vida, assim como a morte, deveriam ser escolhas individuais a serem respeitadas.
Mas se você desconfia que precise de ajuda, não pense duas vezes. Se conhecer um pouco mais, é a melhor forma de fazer um mundo melhor àqueles que estão à sua volta. Não há fraqueza, não há vergonha e, muito menos, não há desculpas para você não buscar ajuda, neste caso. A tristeza não poupa ninguém; fuja de pessoas que querem que você a justifique ou que te façam sentir culpado por senti-la, que acham que a felicidade é "estar para cima" ou alegre 100% do seu tempo. Você provavelmente se sentirá ainda mais incapaz de sair da deprê. Busque ajuda profissional, ou grupos de ajuda, de pessoas que já passaram por isso, você verá que não está sozinho nessa.
Eu sigo vivendo meus dias, um de cada vez, às vezes triste, às vezes alegre, às vezes inspirada e às vezes emocionada. Sempre plenamente, em cada um desses momentos. Mas a grandiosidade da vida me dá medo e não deixo de me espantar com ela. Que o céu receba com carinho essas duas pessoas que trouxeram tanta inspiração, beleza e inteligência ao nosso mundo, e que eles possam descansar em paz.
A tristeza também está lá
Ninguém gosta de falar de depressão. De compartilhar desânimo ou parecer que a vida não vai bem… É só a gente atualizar nosso feed de notícias de alguma de nossas redes sociais, que a gente percebe que a vida das pessoas é feita de festa, coisas gostosas, viagens e declarações de amor e de humor… Falo isso, sem hipocrisia, a minha mesmo está recheada dos clichês.
Mas no fundo, a gente sabe que não é bem assim. Bom, falo por mim. Tem dias que não há inspiração que te levante o ânimo, que contratempos e frustrações nos jogam para baixo, quando não nos deixam desnorteados. E às vezes isso não acontece só por algumas horas no dia, ou no período de tpm, às vezes acontece repetidamente por semanas.
Mesmo que a gente faça coisas legais, e que olhando de fora não haja absolutamente nada de errado com nossas vidas, o sentimento de tristeza está lá. Uma pontinha de dúvida e desconfiança que dá uma sensação de ingratidão com a vida.
Bom, este post não tem a intenção de deprimir ninguém, por mais que pareça o contrário. É mais uma vontade de dividir essa realidade que às vezes se passa comigo. E que tem sido assim durante algumas semanas. Tenho trabalhado normal. Dormido, comido, feito minhas atividades de lazer, minha yoga, viajado, namorado, enfim. Mas existe uma tristeza que está lá. Sem nome e sem rótulo. Só tristeza. Se fosse dar um nome, talvez fosse uma nostalgia saudosa de coisas e pessoas que se foram. Da inexorável condição humana. Do fim, do desapego inerente ao que somos e ao que nos cerca.
O que eu quero dizer, em outras palavras, é que esse estado de ânimo (ou de desânimo) me dá alguma profundidade. É o que me deixa compassionada pelas coisas ao meu redor, o que de alguma forma, me conecta com o outro. Se a alegria expande, a tristeza intima. Uma não é melhor que a outra, mas uma sem a outra é vazia. Aqueles que só sabem transparecer alegria sem se permitir a tristeza, vivem na superficialidade. Aqueles só deprimidos, que não se permitem um dia de sol, são impossíveis de se relacionar em sua miséria.
O tão almejado equilíbrio, ah!, o equilíbrio… Ele existe ou é mais um pêndulo que oscila entre dois pólos? Acho que a resposta vem por outro canal, a aceitação. Aceitar a tristeza que também nos caracteriza, assim, como a alegria que nos embeleza. Aceitar que há dias em que você tem direito de estar desgostoso, uma nuvem que passa cobrindo o sol, mas passa…
Então, eu tô nesse processo. Na verdade, acho que sempre estive. Dessa vez, só, não vou fugir ou desmoronar. Vou aceitar e torná-lo parte de mim também. E quem sabe, crescer. Afinal, mar calmo nunca fez marinheiro habilidoso. E de tantos altos e baixos, talvez a bússola encontre seu equilíbrio… ah!, o equilíbrio.