sugar in my bowl, slowliving Lilian Fujiy sugar in my bowl, slowliving Lilian Fujiy

Bolinhos de banana com cardamomo

Feliz ano novo, vida nova.

Amo finais de ano. Mas tenho dificuldade com os inícios. Na verdade, tenho dificuldade de começar qualquer coisa. Minha vontade é de ficar olhando para o papel imaculado, eternamente. E adiar o quanto posso o encontro do lápis com a folha em branco. Na minha cabeça, as possibilidades são infinitas e perfeitas, a realidade será sempre um esboço das imagens platônicas dentro de mim.

As expectativas criadas pelo tempo zerado no calendário são como páginas em branco de um revigorante vazio, e seu espaço infinitamente possível, tão bem descrito por Rubem Alves. A sensação é de que só com o melhor é que se poderia preencher essa lacuna tão perfeitamente vazia. Aos poucos, a transição de vida, sincronizada com a virada do ano, acontece aqui na casinha nova na Serra. Rodeada de uma beleza tão singela, o mundo parece outro, dentro de mim, virando a página para um álbum completamente desconhecido até aqui. 

O ano começa junto com um começo de vida. Não há pressa, no entanto. Há tanta vida em volta de mim, que não há necessidade de esforço.

Uma tranquilidade pacífica inunda o ritmo do meu dia-a-dia, e é nessa toada que eu pretendo levar o resto do ano. Há otimismo, há uma alegria silenciosa e discreta. Não quero desafinar essa sonata, ou minissonata, o tempo que ela dure. Quero que o som de chuva misturado com o do rio que corre atrás da casa, e o cheiro de lenha queimando no fim da tarde sejam o pano de fundo do meu cotidiano daqui para frente. Sair para colher margaridas silvestres, dálias vermelhas, lírios rosados, pela estradinha do terreno aqui do sítio, entre a chuva que vai e vem, num céu nublado de verão. Catar galhos de pessegueiros pelo caminho. Assar um bolo com os ingredientes da despensa, cobri-lo com mel das abelhas aqui do sítio. Pequenos luxos do dia-a-dia.

Tinha um pacote de cardamomo esquecido no fundo do armário. Decidi fazer um bolo com a banana que passava na fruteira. Enquanto assava, fazia os arranjos com as margaridas e dálias que trouxe do mato. A chuva apertou, fechei as janelas, e a casa ficou com cheiro de bolo assando, misturado com o perfume do cardamomo. Esse momento, com certeza, justificou toda uma vida.


"Senti que o tempo é apenas um fio. Nesse fio vão se enredando todas as experiências de beleza e de amor pelas quais passamos. "Aquilo que a memória amou fica eterno."

Um pôr-do-sol, uma carta que se recebe de um amigo, um único olhar de uma pessoa amada, o abraço de um filho. Houve muitos momentos em minha vida, de tanta beleza, que eu disse para mim mesmo: "Valeu a pena eu ter vivido toda a minha vida para viver esse único momento."

Há momentos efêmeros que justificam toda uma vida."

- Rubem Alves, Concerto para corpo e alma


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Bolinhos de Banana com Cardamomo

10 bolinhos

  • 03 ovos
  • 1/2 xícara de leite
  • 1/2 xícara de óleo de milho
  • 04 colheres de sopa de açúcar
  • 01 xícara de farinha
  • 02 colheres de chá de fermento em pó
  • 02 bananas maçã (ou 01 banana nanica)
  • 03 bagas de cardamomo
  • mel para cobrir

Bata os ovos, óleo, leite e o açúcar até ficar homogêneo. Amasse as bananas e junte à mistura. Adicione a farinha, fermento e as sementes dos cardamomos (descasque e só jogue as sementinhas). Misture delicadamente. Coloque nas forminhas de bolinhos, untadas com manteiga e farinha. Asse em forno pré-aquecido a 180 C graus, por uns 45 minutos ou até que os bolinhos estejam dourados e cozidos. 

Desenforme morno. Sirva com mel se gostar.

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