Bolo de coco com café e calda de chocolate

Às vezes, ser a gente mesmo cansa à beça, especialmente depois de trinta e seis anos. Ando numa crise de identidade, por já me conhecer tão bem e não me convencer mais, como até pouco tempo atrás. Numa sensação de tédio permanente de meu próprio ego. E eu me pergunto, a vida é isso mesmo, sem tirar nem pôr?

Eu que sou adepta ao ritmo lento, às pausas e vazios; em repetir que as coisas boas da vida estão na simplicidade do pouco, nos detalhes desapercebidos, nos entremeios e nos escondidos; tenho me questionado com sinceridade, qual seria o meu propósito além de buscar essa vida para mim. Porque buscar viver dessa maneira, não quer dizer que eu viva dessa maneira - esse é o truque, e a grande mentira das mídias sociais: te fazer acreditar que a vida é essa que a gente posta, que a gente fotografa, que a gente julga só pela capa do livro. 

A vida cotidiana é feita de impasses, uma colagem de recortes simultâneos, situações, problemas, encontros. Alguns deles geram momentos alegres, alguns deles, frustrações. De vez em quando, o pulso se altera com algo que traz angústia, braveza, euforia ou êxtase. Mais do que uma montanha russa, um carrossel sem música, que a gente não pode pedir para descer, senão saltar fora para sair desse moto perpétuo engenhoso. Eu tento enxergar poesia, mas ultimamente tenho visto a vida como ela é. E, às vezes, ela é feia, sem cor e chata.

Estou escrevendo tudo isso, porque não quero ser mais uma a propagar a idéia de que o sucesso é a felicidade permanente, que é ter trilha sonora e cenário produzido com flores. Só a palavra "sucesso" já me faz querer virar os olhos, ôo idéinha errada das boas. Se tem algo que me cansa é dizer que fulano venceu na vida e conquistou o sucesso. Passe longe de mim, por favor, se você tem essas idéias de classificação dentro de você.

Minha vida é como a sua, ou de qualquer outra pessoa ordinária. É feita de sonhos, de vários desfeitos, períodos de mau humor, períodos de TPM. Às vezes brigo com meu marido por motivo bobo, e às vezes erro feio em coisa importante. Gosto de fazer o que gosto, mas não faço o que gosto 100% do meu tempo. Faço muito menos, aliás, do que gostaria. Sim, tenho alguns planos futuros, que estou revendo, porque, como comecei a escrever, tenho a sensação de estar na contramão da vida, sem criatividade para me reinventar, justamente agora que estou no terceiro ato, indo para o quarto. Estou cansada de mim mesma, mas estou é mais cansada dos outros. A verdade é que, estou com 36 anos, com poucas certezas na vida, sem saber bem o que quero.

E precisa querer? Ando tão nos básicos que a decisão do que comer no café da manhã já é um largo passo. Sim, ando com a reforma no sítio, onde pretendo em breve me mudar para viver, uma vida mais bucólica, conectada apenas pelo wi-fi, bem longe da civilização. Se deu para perceber, sou ranzinza, e essa qualidade só parece piorar com o passar do tempo. Já escrevi post sobre o nada, sobre minha tristeza, e hoje sobre a minha rabujisse. Sim, pode contar que tem foto bonita e receita no final, mas até lá, fica com um pouco do meu azedo entediado.


O lado bom da vida são os amigos. O que seria da vida sem eles? Te fazem sorrir quando você quer chorar e te fazem levantar da cama quando você quer passar o dia afundada nela. Diferente de mim, minha amiga anda numa fase boa da vida, de vento em poupa, colhendo os bons frutos de seu trabalho suado. Acompanho-a, desde alguns poucos anos, e vi sua evolução nítida e concreta galgada no esforço e na coragem. É bom quando a gente tem orgulho de amiga/o e pode dizer que sempre acreditamos nela/e. E nesse caso, ela sabe que é verdade, porque já a mandei à merda algumas vezes por duvidar de si mesma. 

Então, em pleno sábado sagrado de descanso, ela me arrastou para fora de casa, para fotografar, me convenceu a fazer um bolo para comemorar, segundo ela, o mês de maio que foi muito bom (para ela!) e me tirou do fastidio - não consigo encontrar tradução que valha dessa palavra - pelo menos por aquele momento. Falou da vida, de como o Studio Elke Noda anda a pleno vapor, contou de seus planos de viagem para Islândia, para comemorar seus 40 anos. Ela transbordava alegria (e amor) e fui tocada, pelo menos durante àquele momento em que passamos juntas, de uma alegria genuína também. 


O bolo que a gente optou, depois de visitar alguns blogs e livros de receita, é o da Linda Lomelino, com algumas poucas adaptações. Sim, o bolo da receita passada também era dela - eu não te contei que ando bem pouco criativa? Ficou divino, bonito como só ele nessa fôrma nova que quis testar, e perfeito sobre a boleira de madeira, do Studio Elke Noda. Receita bem fácil, garanto, e a fôrma garantiu um bolo "cascudo", como eu bem gosto.


Andei indicando alguns filmes ultimamente, e recebi alguns comentários positivos sobre essas dicas. El Ciudadano Ilustre, está em cartaz em alguns cinemas fora do circuito tradicional e é um típico filme argentino: um tragicômico sarcástico, provocador, que caiu como uma luva sobre o meu momento de cansaço e tédio com a vida.


Li anteontem uma postagem ótima (como sempre) do Math. Uma reflexão sincera sobre essa película cada dia mais superficial que é a internet. Essa postagem é 100% inspirada nele.



Bolo de Coco com Café e calda de chocolate | Receita adaptada de Linda Lomelino

para o bolo

  • 150g de manteiga
  • 1 xícara de coco ralado
  • 1 e 1/4 xícara de farinha de trigo
  • 2 e 1/4 colher de chá de fermento em pó
  • 1/4 colher de chá de sal
  • 03 ovos grandes
  • 01 xícara de açúcar granulado
  • 1/4 colher de chá de açúcar de baunilha
  • 2/3 xícara de café forte

para a calda

  • 1/2 xícara de açúcar granulado
  • 2/3 de copo leite
  • 02 colheres de sopa de manteiga
  • 1/4 colher de chá de sal
  • 02 colheres de chá cacau em pó
  • coco ralado para polvilhar ao final

Modo de Preparo

para a massa

Derreta a manteiga e reserve até esfriar. Numa tigela, misture o coco, farinha, fermento em pó e  o sal. Em outro recipiente, bata os ovos, açúcar e açúcar de baunilha até ficar leve e fofo. Adicione a mistura seca e incorpore até ficar homogêneo. Junte a manteiga derretida e o café, misturando até ficar completamente macio. Despeje a massa numa assadeira untada e enfarinhada, de preferência redonda com furo no meio. Asse em forno pré aquecido a 180C graus, por cerca de 50 minutos ou até que o bolo esteja completamente cozido. Deixe o bolo esfriar na fôrma, por uns 15 minutos e, em seguida, desenforme numa grade, para esfriar completamente. 

para a calda

Misture o açúcar, o leite, a manteiga e o sal numa panela e leve ao fogo médio. Mexa sempre até ferver. Deixe a mistura ser por uns 10 minutos, ou até que ela espesse. Coloque o cacau em pó e mexa até ficar completamente liso (use um fouet). Deixe esfriar um pouco e despeje sobre o bolo e polvilhe com coco.