Sambayón

Ovos, açúcar refinado, vinho do porto. Uma pitada de sal para ajustar o paladar. Braço forte e um pouco de destreza para bater as gemas, em banho maria, até espessar. Eu procurei receitas argentinas, italianas, e até assisti videos. São muitas versões e receitas para a mesma sobremesa. Não foi fácil eleger uma. Tentei a versão da D. Petroña, guru da minha sogra, uma espécie de Julia Child argentina. Confesso que ela me convenceu quando vi que as medidas dos ingredientes eram contadas em "cascas de ovos". Meu lado bobo comemorou essa hora, e eu tive que experimentar como era isso.

O resultado, entretanto, não foi bem o que se esperava de um sambayón. Virou uma espécie de calda, que se desfez toda. Ficou gostoso, quase como uma bebida, uma gemada com vinho. Eu adorei o resultado errado (o pessoal aqui de casa também). Mas enfim, como lembrou meu marido, ao final, "isso não é um sambayón". - deixo claro que, muito provavelmente, fui eu quem errou durante o processo, não sei bem se as "cascas" me confundiram, ou errei algo no processo em si. Não culpe a D. Petroña por isso!

E eu tive que recomeçar, dessa vez, com outra receita, mensurando prolixamente os ingredientes e refazendo passo-a-passo o processo de forma tradicional. A receita em si é fácil. Você só tem que encontrar o ponto certo das gemas batidas e semi cozidas. Quase um merengue de gemas. Acredito que a consistência é um tema em discussão; há quem goste mais mole, e há quem goste com uma consistência de mousse. Há quem goste com mais vinho (eu!). Requer mais paciência e um pouco de fé, mais do que prática. Um bom vinho do porto também contribui para o sucesso do resultado final. 

Eu provei pela primeira vez essa receita na Argentina, na casa da minha sogra. Não tinha sido ela quem preparara na ocasião, mas Gabriel. Ele usara um marsala que havia na despensa e ovos inteiros ao invés de só gemas. Mergulhamos os biscoitos no creme e curtimos o inverno. Se tem uma coisa que eles sabem fazer na Argentina, é curtir o frio de uma forma tão aconchegante como tem que ser. 

Com o outono nublado na janela, temperatura caindo e vento frio nas canelas, não vejo outra alternativa além de colocar meias grossas nos pés, uma coberta nos joelhos, e servir um sambayón quente com biscoito de maizena, ao lado da lareira. Sim, acende o fogo, que eu adoro o frio.

Pode guardar a sobremesa na geladeira também e comer gelada, fica deliciosa.


O trabalho tem sido corrido e eu mal tenho tido tempo para fotografar, cozinhar, e ficar quietinha como eu gosto. Note, que isso não é uma reclamação, eu pressinto uma boa onda trazendo movimento para a vida. Tenho me ocupado de tarefas e de gente; ainda vou escrever sobre isso, sobre esse ponto da vida em que tenho me encontrado. Ele é estranho, e desafiador, quando eu bem orava por silêncio e tranquilidade, tantas coisas têm demandado minha presença e meu tempo. Lá do outro lado do meu rio, a reforma no sítio está em andamento, e eu tenho reformado minha vida junto. São tantas dúvidas e questões tão longe de respostas, e eu aqui sem tempo para sonhar. Mas a vida tem sido sonho mesmo assim, desses que a gente vive meio acordado, engatando um sonho atrás do outro, às vezes meio pesadelo, mas é sonho no final e faz sentido mesmo sem fazer. 


Assisti dois filmes no final de semana anterior, que fiquei com vontade de de indicar por aqui, se é que você ainda não assistiu. O primeiro é o Miss Sloane, com a maravilhosa Jessica Chastain, que ganhou o Globo de Ouro por sua atuação. A verdade é que só a sua atuação já valeria o filme, mas além de tudo, o roteiro e trama são intrigantes do começo ao fim.

O segundo é um drama, daqueles que você tem que preparar a caixa de lenço e repetir para si mesmo ao final do filme, "calma, isso é apenas um filme". A Luz Entre Oceanos tem uma fotografia e figurino lindos, uma história triste, mas bonita, e com atores que adoro: o casal Alicia Vikander e Fassbender, e Rachel Weisz


Sambayón

serve 03 taças

  • 05 gemas pequenas
  • 1/4 xícara de açúcar cristal
  • 1/3 xícara de vinho do porto
  • pitada de sal
  • nozes pecã 
  • biscoitos waffle, maisena, amaretti ou champagne para acompanhar

Coloque as gemas, o açúcar e o sal numa vasilha redonda de vidro e bata com um fouet. Leve a tigela ao fogo baixo em banho maria e comece a bater bem até que o creme espesse. Adicione o vinho aos poucos e continue batendo bem. A mistura deve dobrar o volume, o açúcar vai dar brilho ao creme e você deve tirar do fogo quando ainda estiver liso, mas espesso. 

Despeje em taças para porções individuais. Se quiser servir apenas num recipiente, transfira a mistura, pois a tigela quente da preparação pode continuar a cozinhar o sambayón e ressecá-lo. Quebre nozes grosseiramente sobre o creme. Sirva ainda quente ou morno com os biscoitos.