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Torta de alho poró da D. Stella

Às vezes a cabeça dá tantas voltas que a gente se perde nos próprios devaneios. Ela cria realidades que só a gente enxerga, anseios e dúvidas.

Às vezes a cabeça dá tantas voltas que a gente se perde nos próprios devaneios. Ela cria realidades que só a gente enxerga, anseios e dúvidas. Como se num minuto tudo estivesse certo, no seguinte nem tanto. E, nesses momentos a gente dá um tempo, respira fundo e espera os minutos passarem, pesados e lentos. Põe um fone de ouvido e coloca uma seleção de música que te faz querer se mexer e se sentir uma bailarina. Ou canta bem alto debaixo do chuveiro quente, enquanto a àgua escorre pela cabeça, lavando os pensamentos. 

Foi assim quando eu decidi publicar esse post. Já estava tudo meio certo, o texto pronto, inclusive com chamada pelo Instagram. Mas aí, de um minuto para o outro, eu mudei de idéia. Nada de concreto com relação ao post. Mas de repente ele não preenchia minhas expectativas, não tinha mais vontade nenhuma de publicá-lo. Queria era deletar tudo. Não deletei, mas também não publiquei.

Respirei fundo e fui fazer outras coisas. Passou o dia das mães, fiz um almoço gostoso com a minha, minha tia e amigos. Veio a segunda-feira, e um trator chamado trabalho passou por cima de mim, e de todos meus ânimos que já eram poucos. Passei o dia fazendo contas, preenchendo planilhas, visitando contas de banco. Ao menos, os números, por sorte, me acalmam, eles me dão uma certeza que aquelas linhas do meu post não conseguiam me dar. 

Então, mais um dia passou, organizei a bagunça da minha mesa, joguei fora as tralhas acumuladas do mês e parece que a nuvem cinza pesada também passou. Ficou só um céu nublado. Uma lista de tarefas para fazer, e de algumas incertezas para resolver. Mas tudo bem, amanhã já é outro dia. 

O post? Bom, afinal decidi não jogar fora. Mas como não tinha muito como encaixar com isso aqui, ele vai como uma segunda parte, abaixo.


Mais uma daquelas preciosidades, que valem fortunas. Não vinha em seu caderninho de receitas, porque era tão fácil e batida, que se fazia de cabeça, no olho, semana sim, semana não. A tarta de puerros da D. Stella, que além de puerros levava muito queso rallado. Em dia frio, final da tarde, com um copo de vinho e nada mais. Ela fazia duas receitas de uma vez, porque uma não passava de uma tarde sobre a mesa. 

O frio em São Paulo chegou. Agasalhos fora do armário. Meias com chinelo. Chá quente antes de dormir. Vinho com soda (água com gás) nas refeições. Minha estação predileta está em seu auge, como o sol brilhante sobre o céu azul gelado. E essa torta tem lembrança dos meus primeiros anos de visita na casa da D. Stella. Era um pouco mais frio, mas o ar tinha o mesmo cheiro seco, de carvalho.

Há duas semanas atrás foi seu aniversário. Faria 95 anos. Sua receita, Stella, se depender de mim, vai perpetuar e reinar em nossas mesas por muitos anos mais. Salud!

Torta de alho poró da D. Stella

  • 01 e ½ copo de farinha branca

  • cerca de duas xícaras de café de água gelada

  • 02 colheres de sopa de óleo (milho, girassol ou canola)

  • pitada de sal

  • 03 talos de alho poró (pequenos)

  • 250g de queijo parmesão ralado

{ Modo de Preparo }

Corte o alho poro em rodelas grossas. Coloque numa panela com água fervente e deixe ferver até murchar (de 05 a 10 minutos). Passe por um escorredor e deixe por algumas horas, para secar a água. A dica da D. Stella era fazer o alho poró a noite, e deixar secando até o dia seguinte. 

Numa bancada limpa para trabalhar a massa, faça uma montanha com a farinha peneirada e deixe um buraco no meio. Junte aos poucos a água no centro e vá misturando aos poucos. Vá adicionando sal, a água e o óleo, até que a massa se solte, sem ficar pegajosa. Sove bem, até que fique bem uniforme. 

Divida em duas partes a massa. Abra um círculo com um rolo. Coloque na fôrma untada com manteiga e farinha, e disponha a base. A minha fôrma é pequena de 18cm de diâmetro.

Recheie com o alho poró, e o queijo ralado. Não economize no queijo. Abra a outra parte da massa. Se desejar, corte em tiras para decorar, para fechar a torta. Se colocar a massa inteira por cima, faça alguns furos para o ar quente. 

Asse em forno pré-aquecido a 200 graus C, por uns 50 minutos, ou até que a massa esteja bem dourada. Deixe esfriar. Sirva fria ou no dia seguinte com um copo de vinho.

 

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Puchero com ossobuco da D. Stella

Das lembranças mais memoráveis que eu tenho das minhas férias na casa da minha sogra, na Argentina, seguramente, 99,9% foram vividas na mesa de jantar.

Das lembranças mais memoráveis que eu tenho das minhas férias na casa da minha sogra, na Argentina, seguramente, 99,9% foram vividas na mesa de jantar. Acho que o primeiro prato que tive o prazer de provar em sua casa, foi o puchero argentino, com ossobuco, ou caracu, acompanhado de intermináveis piadas infames, proferidas em todo puchero con caracu que comi lá.

Trata-se de uma espécie de cozido com caldo, mas que não tem muito a ver com os nossos cozidos aqui. É como se você fosse preparar um caldo de carne, mas mantivesse os legumes firmes e inteiros. Na versão da casa da D. Stella, você come acompanhado de maionese (caseira de preferência) e uma boa mostarda. Essa última parte é opcional, mas como no puchero tudo é meio fervido, a maionese e mostarda dão um toque bem especial. Não se esqueça do pãozinho para molhar no caldo.

E, se fizer um inverno em pleno verão, como esse que está em São Paulo, fica ainda mais gostoso. Daqueles pratos grandes, que você convida muita gente para se sentar junto à mesa e compartilhar momentos que só um puchero pode proporcionar num almoço entre família e amigos. 

No dia seguinte, se sobrar caldo, você esquenta, adiciona uma xícara pequena de macarrão para sopa que fica uma delícia também. Afinal, na cozinha da D. Stella, nada se perdia e não havia desperdício, especialmente, quando se tratava de comida. 

Salud!

Puchero com ossobuco, da D. Stella

para 04 pessoas (ou mais se forem dividir o ossobuco)

  • 04 ossobucos (calcule 01 por pessoa)
  • 01 abóbora paulista
  • 02 cenouras
  • 04 batatas
  • 01 batata doce grande
  • 01 tomate
  • ½ xícara de grão de bico
  • 02 cebolas
  • 01 talo de salsão
  • 02 milhos
  • 02 paios
  • louro, orégano, tomilho (pouco), sal e pimenta do reino e pimenta calabresa
  • salsinha fresca

Corte os legumes em pedaços grandes, pois o segredo de um bom puchero é que eles permaneçam inteiros na hora de servir. Faça o mesmo com o paio, corte em pedaços grandes. Prefira sempre produtos orgânicos e de produção local!

Numa panela de pressão coloque as cebolas, cenouras, batata doce, grão de bico, tomate, 02 pedaços de abóbora, salsão e as carnes. Adicione água até cobrir um pouco menos da metade da panela, e o tempero: sal, pimenta do reino, pimenta calabresa, louro, orégano e o tomilho. Não economize na quantidade de ervas!

Leve ao fogo alto, quando começar a apitar a pressão, conte uns 07 minutos. Retire a pressão.

Paralelamente, em outra panela, cozinhe as batatas, o restante da abóbora, em água fervente, e condimente com os mesmos temperos. Quando estiverem quase macios (uns 10 minutos), junte os milhos cortados e cozinhe por mais uns 04 minutos. Apague o fogo. 

Num recipiente, junte o conteúdo das duas panelas, misturando os caldos. Jogue a salsinha picada por cima. Leve à mesa e sirva acompanhado de azeite de oliva, maionese e mostarda. Sal e pimenta se faltar. Pãozinho para molhar no caldo. 

 
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Berinjelas em Conserva da D. Stella

Esta é mais uma daquelas receitas que aprendi com minha sogra. A cozinha da D. Stella é certeira em sua seleção de pratos.

Esta é mais uma daquelas receitas que aprendi com minha sogra. Já falei diversas vezes dela por aqui, até publiquei na véspera de natal, sua receita imbatível do Budín Inglés. A cozinha da D. Stella é certeira em sua seleção de pratos. Acho que por ter sido sempre servida aos jurados mais exigentes que conheço (a família do meu marido é assim), ela conseguiu se aperfeiçoar nos sabores e combinações.

Berinjelas em Conserva

Berinjelas nunca foram meu forte, mas estas aqui eu não consigo recusar. Não conheço ninguém também que tenha experimentado e não se surpreendido com o sabor. Geralmente, após gemidos e suspiros, segue-se um “me passa a receita?”. Tenho sempre um pote delas na geladeira, perfeitas para acompanhar qualquer coisa.

Como acompanhamento de carnes são perfeitas. Você pode servi-las também como entrada, com torradas ou pão. Eu costumava, com a Lucy (neta da Stella) abrir o pote de berinjelas no meio da tarde e fazer sanduíches com elas. Essas berinjelas são perfeitas para vegetarianos e, diria, mais ainda para para aqueles que não são. Mais uma preciosidade do caderninho mágico de receitas de D. Stella.


Berinjelas em Conserva da D. Stella
Berinjelas em Conserva
Berinjelas em Conserva
Berinjelas em Conserva
Berinjelas em Conserva
Berinjelas em Conserva
Berinjelas em Conserva
Receita de Berinjelas em Conserva
Berinjelas em Conserva
Berinjelas em Conserva
Berinjelas em Conserva
Berinjelas em Conserva
Berinjelas em Conserva
Berinjelas em Conserva
Berinjelas em Conserva
Berinjelas em Conserva
Receita de Berinjelas em Conserva
Berinjelas em Conserva
Berinjelas em Conserva
Berinjelas em Conserva

Berinjelas em Conserva da D. Stella

Fácil, perfeita e para acompanhar pratos.

  • Rendimento: cerca de 2 litros

  • Tempo de Preparo:

  • Tipo de Prato: acompanhamento

Ingredientes
  • 3 berinjelas médias
  • 1 frasco de vinagre branco - 750ml
  • azeite para cobrir
  • sal, orégano, loura, pimenta, alecrim, alho

Modo de Preparo
  1. Fatie a berinjela em fatias compridas.
  2. Coloque numa panela com o vinagre (sim, vai tudo) e leve ao fogo alto.
  3. Quando levantar fervura, dê uma misturada para todas ficarem imersas e murcharem. É bem rápido.
  4. Apague o fogo e escorra. Deixe esfriar.
  5. Num recipiente que fique bem fechado (ideal que seja de vidro, coloque as berinjelas frias, e tempere com as especiarias. Capricha no orégano e louro tá? Pode colocar os dentes de alho inteiros mesmo.
  6. Cubra com azeite - as berinjelas têm que ficar imersas no óleo. Leve à geladeira e deixe por pelo menos 1 semana antes de começar a consumir.
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Em casa, já tenho um recipiente próprio só para essas berinjelas. Quando estão terminando, eu faço outra leva e reutilizo o mesmo azeite e temperos que sobraram, que ficaram mais saborosos e intensos com o tempo.


Essas fotos foram feitas originalmente em março de 2015.

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Budín Ingles da D. Stella

Essa é uma dessas idéias que estão se espalhando pela web. Ao invés de presentear com um panetone, uma fôrma de bolo inglês caprichada e feita com todo carinho por você mesma. 

Essa é uma dessas idéias que estão se espalhando pela web. Ao invés de presentear com um panetone, uma fôrma de bolo inglês caprichada e feita com todo carinho por você mesma. Nenhuma novidade, até aqui. Minha contribuição fica por conta da receita, que vem da minha sogra, uma argentina de 93 anos, que há 6 anos atrás, me ensinou a assar meu primeiro bolo. Só não daria para imaginar que essa receita seria imbatível pelos 6 anos seguintes e, ao que tudo indica, muitos outros pela frente.

Sem exagerar, já experimentei e publiquei outras tantas boas receitas por aqui de bolo. Mas esta não tem competição. A primeira vez que experimentei, fiquei totalmente obcecada; não conseguia parar de comer, daquele jeito que você perde a vergonha, mas não a gula. Minha sogra arregalava os olhos, levantava uma das sobrancelhas e dizia “mirá como come esta chica!”, enquanto eu cortava o terceiro pedaço, já pensando no quarto.

Lembro até hoje, ela abrindo aquele livro de capa dura, antigo de páginas soltas, rasgadas e amareladas. Buscava a receita do “budín ingles” e separava os ingredientes rigorosamente bem mensurados. E dizia “podés incrementar con lo que quieres: pasas de uvas, nueces, o chocolate! queda muy rico”. E eu não imaginava o quanto essa receita poderia modificar minha vida, más allá del paladar.

Para quem não sabia cozinhar absolutamente nada, como já contei algumas vezes por aqui, esse rito de iniciação na cozinha, despertou algum desejo inconsciente dentro de mim. Talvez pelo choque de gerações e culturas, talvez algo ancestral do arquétipo feminino do encontro de duas mulheres na cozinha, talvez por encontrar algo que eu nem sabia que procurava tanto.

Essa receita portanto é um tanto sagrada para mim. É de ocasiões especiais, é de se comer até a última migalha na assadeira. É o meu presente compartilhado com muito carinho neste natal para quem, assim como eu, vê muito valor nessas raras preciosidades da vida.

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Budín Ingles da D. Stella

  • 250 gramas de manteiga sem sal amolecida
  • 01 xícara de açúcar cristal
  • 04 ovos
  • 02 xícaras de farinha com fermento
  • 01 colher de chá de extrato de baunilha
  • nozes, amêndoas, castanhas, uvas passas, damascos, frutas cristalizadas e chocolate.

Bata bem a manteiga com o açúcar até se formar um creme (por pelo menos uns 5 minutos). Junte os ovos, um a um, batendo bem após adicioná-los. Junte a farinha e apenas misture até ficar homogêneo. 

Desligue a batedeira e junte o extrato de baunilha e as frutas e castanhas picadas. Misture bem. Numa fôrma untada retangular ou com furo no meio coloque a mistura. Leve para assar num forno pré-aquecido à 180 graus e deixe por pelo menos 1 hora e 10 minutos, ou até que fique dourado. Apague o fogo e deixe o bolo dentro do forno até que esfrie para deixar a massa mais sequinha. Se você fizer de noite, após apagar o forno, deixe dentro de um dia para outro.

Feliz Natal!

Para presentear, prefira a fôrma retangular. Utilize papel manteiga ou de seda, barbantes coloridos e adesivos para enfeitar e personalizar seu presente.

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