Crumble de Amoras com Sorvete de Leite
Sirva com uma bola de sorvete! ;)
Faz 20 anos, começava o ano 2000. Vinte anos é quase metade da minha vida. Dez anos atrás, eu tinha acabado de largar a carreira de economista. Eu me assombro com as quantias, com os anos, com a relatividade da percepção do tempo - não há matemática que me faça reconhecer todos esses números sem alarde.
Me sinto um livro de memórias que se acumulam, vivendo em busca constante por significados: dos momentos e dos acontecimentos. Escrevi recentemente o quanto eu já quis ser tantas coisas; perdi a conta das vezes que precisei mudar de plano, e de quantas vezes tive que dar passos para trás. Nada disso, porém, invalida minhas experiências, nada disso me faz menos do que sou. Eu acredito que vivi e criei tantas coisas nesses 10 anos perambulando pela vida, na ânsia por ressignificar e entender minhas escolhas.
Para esse ano, não quero tantas coisas de fora, mas quero ir ainda mais fundo pelo caminho inverso. Quero poder me reconectar ainda mais com o que sou: buscar minhas raízes, resgatar minha história, entender minha família, integrar minha cultura, acolher meu feminino. Quero voltar a pintar, quero ler mais, quero plantar mais, quero meditar, quero viver e celebrar minha casa, quero me nutrir dos meus afetos.
Quero poder viver uma vida tranquila, de bem comigo mesma, e absorver a abundância que me cerca. Quero orar todos os dias, agradecendo pela vida que construí até aqui, honrando as oportunidades (e sim, os privilégios) que recebi.
Cada dia mais entusiasmada com a idéia de ter um canal no Youtube, filmei mais um episódio de receita cotidiana. Dessa vez um crumble de amoras acompanhado por um sorvete de leite. A sobremesa ficou deliciosa e eu adorei as cenas desse vídeo.
Poder compartilhar mais essa faceta do meu trabalho é muito gratificante para mim. Não é fácil, dá uma trabalheira em triplo, ainda estou pegando o jeito, mas estou feliz com os resultados. Se você ainda não me segue por lá, aproveita para me seguir, curtir e me apoiar ok?
Receita de crumble é facil demais, você pode trocar por tantas outras frutas congeladas, ou até mesmo por maçãs verdes. É uma ótima idéia para improvisar quando você precisa de uma sobremesa rápida. Fica uma delícia - o melhor é comer tudo na hora, por causa do crocante. Com um sorvete fica perfeito. Fiz um de flor de leite, que ficou espetacular, e a receita do sorvete fica para outro dia.
Ninguém perguntou, nem pediu, mas vou voltar a dar indicações de filmes e seriados por aqui.
Filme: Bacurau, não dá para deixar de ver.
E Anne with an E, um seriado Netflix que tem me feito chorar todas as noites.
Me sentindo a própria doida desvairada da Janaína Paschoal dando essas duas dicas, mas vai lá.
Crumble de Amoras
Sirva com uma bola de sorvete para atingir a perfeição.
Rendimento: 10-12 porções
Tempo de Preparo:
Tipo de Prato: sobremesa
Ingredientes
- 1 xícara de aveia em flocos
- 1 xícara de farinha de trigo
- 1 xícara de açúcar cristal
- 125g de manteiga com sal cortada em cubinhos
- 500g de amoras - usei congeladas
- suco de 1 limão
- 1 colher de sopa de licor de laranja - opcional
Modo de Preparo
- Num recipiente coloque a aveia, a farinha, o açúcar e a manteiga cortada em cubinhos.
- Amasse com as mãos até virar uma farofa.
- Numa assadeira, espalhe metade da mistura, numa primeira camada.
- Misture o suco do limão e o licor nas amoras.
- Disponha as amoras sobre a camada de farofa.
- Cubra com o restante da mistura.
- Asse por uns 35 minutos - ou até que o crumble esteja dourado.
- Retire do forno e espere esfriar um pouco, mas pode servir quente ou morno, acompanhado de uma bola de sorvete.

Cheesecake "Queimado" com calda de amora e chantilly
Uma tentativa de um Burnt Basque Cheesecake natalino.
Quando criança, eu amava o final do ano, e a época do Natal. Era por causa das férias escolares, dos presentes aninhados sob a árvore enfeitada. Era também por montar a árvore de Natal - minha mãe tinha uma feita de suporte de arame com papel verde escuro, bolas de vidro vermelhas, e luzes pisca-pisca. Era pela relação afetiva com a comida farta na mesa, num momento íntimo de celebração com minha família. As músicas, o jingle bell, o papai noel, e todo clichê distribuído pela overdose de luzes, me traziam uma sensação de felicidade instantânea, numa euforia de ver o ano terminar para começar um novo.
Hoje, se eu pensar bem, eu continuo a adorar essa data justamente pela reconexão dessas memórias sensoriais que me trazem o conforto familiar da lembrança. Até hoje eu tenho uma mania estranha de colocar músicas natalinas para me animar em qualquer época do ano (pessoa estranha sim, prazer!).
Mesmo quando passo essa data longe da família, sem presentes ou grandes celebrações, essa período me convida a entrar numa espiral de acolhimento dessas recordações; a desacelerar para realmente me recolher do mundo. Busco estórias que me reconectem com camadas mais profundas.
Fim de ano também não deixa de ser uma transição e um fim de ciclo: parar para medir os feitos e não-feitos do ano que já se vai, e se preencher de satisfação por ter tentado seu melhor.
Esse ano trago essa receita, além de verdades: foi uma tentativa de uma “Burnt Basque Cheesecake” que, apesar de não ter ficado tão queimado como deveria (por conta do forno que não está regulando bem a temperatura), ficou uma delícia. Incrementei com chantilly e calda de amoras. Montei uma mesa com uma decoração improvisada para uma celebração singela do Natal.
Uma receita que tem leveza e densidade traduzidas numa cremosidade única. Ainda assim, uma receita simples para brindar uma noite de Natal de conforto e nostalgia.
Acabo de estrear um canal no Youtube, e devo compartilhar por lá vídeos de receitas e de cenas cotidianas por aqui. O cheesecake foi a estrela do vídeo. Espero que você me acompanhe por lá também.
Cheesecake "Queimado" com calda de amora e chantilly
Tentativa de um Burnt Basque Cheesecake que ficou delicioso.
Rendimento: 8-10 porções
Tempo de Preparo:
Tipo de Prato: sobremesa
Ingredientes
para o cheesecake
- 450g de cream cheese
- 2/3 de xícara de açúcar cristal
- 1 colher de sopa de extrato de baunilha
- 4 ovos
- 3/4 de xícara de creme de leite fresco
- 1/4 de xícara de farinha de trigo
para a calda
- 200g de amoras
- 1/3 de xícara de açúcar cristal
- suco de 1 limão
para o chantilly
- 200ml de creme de leite fresco
- 4 colheres de sopa de açúcar refinado
Modo de Preparo
para o cheesecake
- Na batedeira, junte o cream cheese, açúcar e baunilha e bata bem por uns 3 minutos até virar um creme homogêneo e fofo.
- Adicione os ovos e bata apenas até incorporar.
- Junte o creme de leite e misture rapidamente.
- Por último, junte a farinha e bata apenas até incorporar.
- Numa fôrma redonda de aro removível (a minha tem 18 cm) passe manteiga e forre com papel manteiga (círculo no fundo e uma tira nas laterais).
- Despeje a massa líquida na fôrma e leve para assar em forno pré-aquecido a 250C graus.
- Asse por uns 20 minutos vá observando que a massa esteja escurecida, e diminua a temperatura para 180C graus e asse por mais uns 20 minutos.
- Quando perceber que a massa está firme por dentro (não fure!) pode retirar do forno.
- Deixe esfriar e leve à geladeira por umas 5 horas. Sirva com a calda e o chantilly.
para a calda
- Coloque os ingredientes numa panelinha e leve ao fogo médio.
- Deixe ferver, misturando de vez enquando, até espessar.
- Retire do fogo e deixe esfriar.
para o chantilly
- Bata o creme com o açúcar até virar chantilly. Cuidado para não bater demais e ele virar manteiga!

Quiche de Abobrinha com Bacon da Elke, numa tarde com café
Numa tarde ensolarada de outono.
É sempre muita história para contar: ela da sua viagem mais recente - dessa vez para Suécia e Dinamarca -, eu sobre meus perrengues na roça. A gente sempre dá muita risada, fazemos planos para dominar o mundo, tem sempre comida no meio, bebemos demais e terminamos com preguiça no final. E se lembra, que o melhor da vida são esses momentos.
Nossa amizade começou por aqui, virtualmente. Na época, 4 anos atrás, ela tinha um blog de cozinha e viagens. Gostei de cara do que ela escrevia, e comentei: “dá vontade de ser sua amiga". E foi assim que a gente se identificou, logo de cara. Ela veio para casa, contou da sua vida, e eu da minha. Passamos um café e criamos um ritual.
Nem sempre é bonito como nessas fotos. Às vezes tem pizza fria de boteco, pipoca com cerveja, geladeira vazia, bolo de supermercado. Ontem, foi banquete feito na hora; enquanto ela contava as novidades suecas, abria com desenvoltura a massa da quiche, fritava o bacon na frigideira, e batia os ovos com creme. Eu ouvia sentada na bancada da cozinha, preparando a câmera para fazer fotos, ajustando o tripé de pata quebrada. Brindamos com espumante gelado, afinal, também esbanjamos riqueza quando podemos.
A gente ri das nossas diferenças - que não são poucas - eu chamo ela de louca, ela me chama de preguiçosa. Enchemos mais uma taça, porque não temos tempo a perder.
Pedi a receita da quiche, ela me olhou torto, afinal, nunca mede as quantidades e faz tudo no olho. Mas foi só eu postar foto ontem, que já teve gente pedindo receita. Então ela fez o favor de compartilhar. Toma lá a receita da Quiche de Abobrinha com Bacon da Elke Noda.
Quiche de Abobrinha com Bacon da Elke Noda
Você pode utilizar a mesma massa para outros recheios como cebola, presunto e queijo, cenoura ralada, etc.
Rendimento: 06 porções
-
Tempo de Preparo:
Tipo de Prato: torta, quiche
para a massa
- 180g de farinha de trigo
- 80g de manteiga com sal
- aproximadamente 1 ovo - não coloca o ovo todo, apenas o suficiente para dar liga - ou água gelada
para o recheio
- 3 ovos
- A mesma medida dos ovos de creme de leite
- 1 abobrinha
- bacon (opcional)
- 50g queijo meia cura
- Sal, pimenta do reino e noz moscada
para a massa
- Juntar a farinha com a manteiga e faz tipo uma farofa.
- Adiciona o ovo ou a água para “grudar” tudo.
- Faz uma bola com a massa, enrola com papel filme e deixa na geladeira uns 15 minutos
- Abre a massa com um rolo, coloque numa forma (essa medida é para forma de 25cm), fure a massa com um garfo e leve ao forno por 15 minutos a 180°C.
para o recheio
- Numa frigideira doure rapidamente o bacon. Reserve.
- Bater com um fouet os ovos, acrescenta o creme de leite, bater até ficar homogêneo.
- Tempere a gosto com sal, pimenta e noz moscada.
- Adicione o queijo meia cura ralado e o bacon.
- Fatie as abodrinhas com uma mandolina ou corte o mais fino que você conseguir.
- Despeje os ovos batidos na massa e coloque as rodelas de abobrinha.
- Leve para o forno a 220°C, já pré aquecido, por uns 20 minutos ou até dourar.
- Sirva morna ou fria.

Fika com Elke Noda e a pausa para a reunião mais deliciosa da semana
Segundo trimestre de 2016: dizer que o tempo voa chega a ser meio irritante. E, quando a gente pára para tomar café na casa da amiga, discute planos para o próximo trimestre, dá um frio na barriga.
Segundo trimestre de 2016: dizer que o tempo voa chega a ser meio irritante. E, quando a gente pára para tomar café na casa da amiga, discute planos para o próximo trimestre, dá um frio na barriga. Então, a gente decide mudar de assunto, improvisar um waffle congelado com calda de chocolate belga, passa um café na chemex, esquenta a água na hario. Serve em xícara importada, se sente meio besta, fútil, mas ao mesmo tempo, a pessoa mais afortunada desse planeta.
A gente discute, pensa e sonha, sabe que muitas das idéias nem vão sair do papel. E, no final, descobre que tudo era uma grande desculpa, para passar a tarde cultivando aquela amizade que entende o valor de um café no meio da semana. Fika com Elke Noda.
Fotos: Dona da Casa!
Brunch de natal com Torta Cheesecake de Cereja
A mesa sempre foi e sempre será o melhor lugar para dar as boas vindas aos velhos e novos amigos. Com os velhos amigos, compartilhamos e colecionamos momentos gastronômicos fraternos de alegria.
Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo (…)
Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.
{ Fernando Pessoa }
A mesa sempre foi e sempre será o melhor lugar para dar as boas vindas aos velhos e novos amigos. Com os velhos amigos, compartilhamos e colecionamos momentos gastronômicos fraternos de alegria. E com a mesa bem posta, dizemos aos novos: “quero você mais próximo de mim também”.
Quando decidimos preparar essa mesa de brunch de Natal, em casa, com a Dani Coelho e a Elke Noda, pensamos numa mesa simples, mas que fosse bonita nos detalhes: com folhas de eucalipto, guardanapos bordados, e torta de cereja. Uma mesa que não fosse exatamente de uma ceia natalina, mas que tivesse cara de convite entre amigas para celebrar uma tarde gostosa de um jeito especial. Fiquei encarregada da comida, a Elke dos arranjos florais e da decoração, e a Dani da decoração e dos detalhes mais lindos. Foi ela quem bordou as nossas iniciais em todos os guardanapos. De cair o queixo, para não dizer outra coisa.
Engraçado que a gente não planejou muito. Foi até tudo meio em cima da hora, mas acabou que a sintonia era tanta, que tudo ficou perfeitamente bonito. Como nos versos do Pessoa, no fundo, a gente supunha, que a gente queria a mesma coisa.
Para se juntar aos bons, convidei duas pessoas queridas, que também sou grande admiradora: a Camila Dutra do Feitocom.amor e a Renata Barella, ou Gória Huk, que conheci pessoalmente pela primeira vez. Não poderia ter sido melhor. O encontro fluiu, trocamos figurinhas, fotografamos e curtimos a tarde.
No cardápio, ovos recheados, bruschettas com queijo de cabra, nozes e cogumelos, torta cheesecake de cereja e sorbet de ameixas frescas. Para finalizar, gingerbread cookies.
O que eu posso dizer do encontro? Que foi tudo tão gostoso, que a gente passou parte dele, pensando nos próximos. Que não haveria melhor forma de eu conseguir finalizar esse ano, com um post de celebração que me preenchesse tanto meus olhos. Que estou muito feliz de ter reunido numa mesa tão singela, mas ao mesmo tempo tão linda, comida boa, pessoas lindas e um papo delicioso.
Ah, e como a maioria dos pratos já tem receita publicada por aqui, divido com vocês a da torta cheesecake de cerejas que, modéstia a parte, ficou deliciosa.
Confere as fotos de como ficou, e espero que ela te sirva de inspiração para sua mesa também.
Feliz Natal!
Ah, para quem quiser conferir o que a Renata postou sobre a tarde, é só conferir aqui no blog lindo dela! Adorei, Gória! (12.dez.2015)
Ah (2), para quem quiser conferir o que a Camila postou sobre a tarde, é só conferir aqui no blog lindíssimo dela! Beijos, Cá! (16.dez.2015)
Torta Cheesecake de Cerejas
cerca de 08 porções
para a base
½ xícara de nozes pecã
110g de manteiga derretida
1/3 xícara de açúcar
300g de biscoitos tipo cream cracker de cereais
para o recheio
450g de cream cheese amolecido
½ xícara de açúcar
02 ovos caipiras
01 colher de sopa de extrato de baunilha
250g de creme de leite fresco
para a calda
200g de cerejas
01 colher de sopa de açúcar
½ colher de sopa de extrato de baunilha
raspas de 01 limão
Misture as nozes pecã com a manteiga e o açúcar. Coloque-as numa assadeira forrada com papel manteiga. Leve para assar em fôrno a 180 graus por uns 15 minutos, até que o caramelo se derreta. Deixe esfriar. Desenforme a barra (vai virar uma bala gigante de crocante) e quebre para bater num liquidificador ou processador junto com os biscoitos, até virar uma farofa úmida. Espalhe a massa numa fôrma redonda desmontável (a minha é de 19cm de diâmetro). Faça as bordas da torta até 2/3 da altura da fôrma.
Numa batedeira, misture o cream cheese com o açúcar por uns 5 minutos, até ficar um creme leve. Junte os ovos, um a um, e o extrato de baunilha. Diminua a velocidade e adicione o creme de leite, batendo apenas até misturar o creme. Despeje o creme sobre a massa da torta (deixe um dedo de sobra da massa, para não vazar quando estiver no fôrno) e leve para assar em fôrno pré-aquecido a 180 graus, por uma hora. Deixe esfriar e leve para gelar no refrigerador.
Numa panelinha coloque as cerejas, o açúcar e as raspas de limão e leve para aquecer em fogo baixo. Deixe ferver por uns 5 minutos ou até que as cerejas fiquem macias. Junte o extrato de baunilha. Deixe esfriar e coloque na geladeira.
Você pode tirar as sementes das cerejas, se preferir. Mas eu deixei, porque acho que elas ficam mais bonitas inteiras. Só não se esqueça de avisar os convidados das sementes!
Para servir, desenforme a torta e decore com as cerejas e a calda (ela fica rala mesmo).
Fotos: Dona da Casa!
Fusilli al limone, Cartas Amarelas e saudade
Quando eu era criança, poucas coisas me deixavam tão feliz quanto receber uma carta. O envelope destinado a mim, o desenho do selo carimbado, a caligrafia pessoal.
Quando eu era criança, poucas coisas me deixavam tão feliz quanto receber uma carta. O envelope destinado a mim, o desenho do selo carimbado, a caligrafia pessoal. Abria com todo cuidado e, meu dia ou minha semana estava feita, lendo aqueles parágrafos que diminuíam aumentavam a saudade pelo remetente e, certamente, aqueciam o coração. Hoje, com os celulares, emails, chats e whatsapps, a comunicação é mais direta; fala se muito, conversa-se pouco. Nem vou começar a cair de pau na tecnologia, como se ela fosse a grande vilã, responsável pelo fim das cartas de papel e toda fabulosidade envolvida. Mas que dá uma saudade, isso dá.
Por quase 2 anos, minha mãe viveu no Japão, durante minha pré-adolescência. Foram anos difíceis, para eu e meus irmãos que ficamos, para meu pai que teve que cuidar da gente. Minha mãe foi trabalhar, e imagino que para ela tenha sido mais penoso ainda, deixar a gente pequenos, longe, do outro lado do planeta. Difícil não pensar nessa época e não ficar com um nó na garganta e com o peito apertado e chorar um pouco. Nessa época, a saudade se tornava menos insuportável com as correspondências quinzenais, às vezes mensais, que a gente se escrevia. Não guardei aquelas postagens, não sei o porquê, coisa que me arrependo.
O Natal também era época de trocar cartas. Escolher quais cartões enviar, para quem, canetinhas coloridas… Em volta da árvore, a gente deixava todos os cartões recebidos - e eram tantos! -, para mostrar o quanto a gente era amado e queridos pelos amigos e familiares. Havia muito amor envolvido nessa troca. As correspondências conectavam a gente na tristeza e também na alegria, mas numa camada mais profunda de afeto, eu acho. Porque você pode reler, reinterpretar e moldar o tempo; dá tempo da leitura quase se encaixar com as sensações.
Em Cartas Amarelas, de Gui Poulain, é quase palpável a quantidade de amor que se transborda em páginas e páginas de cartas. Alternadas com receitas e ilustrações igualmente mergulhadas em carinho, sem o rótulo de livro de cozinha, porque ele serve de cabeceira também, cheio de poesia.
“A saudades algumas vezes dói, é verdade. No fundo tenho é pedido menos preto no branco. Falado menos objetivamente. Calado mais. Utilizado de olhares e sorrisos e palavras soltas, assim, sem nenhuma agenda maior.
Não quero mais pressa de nada. Na verdade, existe é uma vontade enorme de guardar as coisas boas. Não esgotar todos os dias bons. E quando eu falo o que penso com todas as palavras, faço questão que o assunto não se resolva ali na hora.
Pra fazer a sensação durar.”
{ Gui Polain, p. 127, em Cartas Amarelas }
Como não amar? Como não querer pegar um lápis e uma folha em branco e escrever sem destino certo.
A receita? Então, querido amigo, um penne al limone, adaptada para um fusilli que era o pacote que eu tinha aberto em casa. Como ficou? Muito afeto, servido num prato.
Fusilli al limone | receita adaptada do livro Cartas Amarelas
02 porções
- 250g de fusilli ou penne
- 200ml de creme de leite
- 200g de queijo parmesão ralado
- 02 limões
- ½ cebola
- noz moscada, sal, pimenta do reino e azeite
- 01 colher de sopa de manteiga
Coloque água para ferver com sal e um fio de azeite, o suficiente para cozinhar o macarrão. Quando começar a ferver, coloque o macarrão e cozinhe segundo as instruções do fabricante.
Numa panela derreta a manteiga com um pouco de azeite em fogo médio alto. Jogue a cebola bem picadinha e doure bem. Jogue o suco dos limões e quando começar a ferver, junte o creme de leite, as raspas dos limões e o queijo ralado. Esquente, mas não deixe ferver. Junte o macarrão escorrido, misture bem, e retire do fogo. Tempere com sal, pimenta do reino e bastante noz moscada ralada. Sirva com mais queijo se desejar.
Canelés de Bourdeaux para Páscoa
Páscoa tem cara de chocolate, ovos, coelhos. Me lembro o quanto adorava essa época por conta dos doces, cheguei até a ficar alérgica por chocolate em uma das páscoas (graças a deus, foi passageira).
Páscoa tem cara de chocolate, ovos, coelhos. Me lembro o quanto adorava essa época por conta dos doces, cheguei até a ficar alérgica por chocolate em uma das páscoas (graças a deus, foi passageira). Acho que todo mundo tem foto de quando criança, sentada no sofá, tentando colocar o ovo quase inteiro na boca. As mães costumam ter um senso de humor bem particular, quando se trata de tirar fotos dos filhos.
Enfim, mas durante este período, as lojas se enchem de papel celofane e bombons por todos os cantos. E o espírito de compaixão, fraternidade e amor ao próximo ficam de lado, esquecidos. Com intuito de resgatar a simplicidade, criatividade e, quem sabe, amenizar em parte o consumismo da data, compartilhamos algumas idéias para inspirar você a presentear com mais amor. O importante é personalizar com seu carinho algo feito por você. A idéia é bem simples: bolinhos de baunilha, ou canelés de bordeaux numa caixa de ovos caipira, pintada e decorada, com um cartão personalizado.
Para tanto, pedi para a Dani Coelho - ou Danny Bunny - a me ajudar na elaboração do presente, já que seu talento craft consegue deixar tudo mais bonito. A Dani, além de amiga de anos, é minha parceira criativa, amiga confidente e irmã de alma. Já falei algumas várias vezes dela por aqui, já produzimos também muita coisa juntas; essa foi mais uma delas. Ela ilustrou duas etiquetas graciosamente perfeitas, que estão disponíveis para você baixar e imprimir.
E, como se não fosse demasiado bom, para completar tanta lindeza, coelhinhos de pano, perfumados com lavanda, da Ju Padilha, uma artesã fofa e talentosa. Fui presenteada por ela com duas fofuras, e você pode encomendar e escolher os que mais gostar para deixar seu presente ainda mais querido.
A receita foi novamente retirada do livro maravilhoso da Mimi Thorisson, o A Kitchen in France | A year of cooking in my farmhouse. A textura do canelé é uma fina casca por fora e bem úmida, macia e cremosa por dentro. O sabor acentuado da baunilha e o aroma suave do rum, tornam a perfeição algo sensível ao paladar a cada mordida.
Canelés de Bordeaux | receita original do Manger
rende 15 porções
- 02 copo de leite;
- 01 copo de farinha;
- 01 copo de açúcar;
- 02 colheres de sopa de manteiga derretida;
- 01 favo de baunilha; e
- ¼ de copo de rum
Coloque a baunilha e suas sementes raspadas no leite e leve para ferver. Quando levantar fervura, apague o fogo. Deixe esfriando por 5 minutos. Junte a farinha peneirada e o açúcar, misturando bem, sem deixar empelotar. Adicione a manteiga e o rum e misture tudo. Coloque num recipiente fechado e leve à geladeira por 24 horas.
Encha até ¾ de cada orifício de forminhas para bolinhos e leve para assar em forno preaquecido à 230 graus por 5 minutos.
Como utilizei fôrma de silicone não precisei untar. Se você utilizar de metal, unte com manteiga.
Depois, abaixe o fogo a 180 graus e asse por mais 50 minutos, ou até que estejam bem dourados. Retire do forno espere uns 5 minutos antes de desenformar. Deixe esfriar. Se decidir não presentear ninguém e comer você mesma todos canelés, acompanhe com um belo chá.
Feliz Páscoa!
Para presentear, utilize uma caixa de ovos vazia de 06 unidades. Pinte com guache ou tinta acrílica para deixá-la uniforme, da cor desejada. Forre os buracos dos ovos com papel manteiga, antes de encaixar os bolinhos. Coloque também um pedaço do papel para cobrir os doces, antes de fechar a caixa. Amarre com cordões e fitas coloridas de sua preferência. Imprima uma etiqueta feita por você - ou esta da Danny Bunny - num papel de alta gramatura (mais grosso).Eu utilizei papel reciclato.
Lembre-se, o importante é usar sua criatividade: cores e materiais para decorar da forma que mais gostar. E se quiser seguir a tradição da data, você pode substituir os canelés por bolinhos de cacau, bombons ou ovinhos de chocolate.