Talharim caseiro com molho de tomate com funghi
Tem chovido todos os dias aqui na Serra, faz umas três semanas. Noé já teria construído sua barca e fugido daqui. Dias de lama, muitas nuvens e pouco Sol. Dá pouca vontade de sair de casa e eu me pego horas na janela, vendo a tempestade molhar, sem trégua, fazendo cascata pelo telhado. Apesar de gostar do barulho da chuva, não gosto de dias frios e úmidos - me dá preguiça além do usual, e eu tenho que fazer um esforço para seguir a vida. A sensação que eu tenho, é que o tempo fica numa pausa indefinida, enquanto goteja lá fora; ou a gente fica em espera, contendo a ansiedade, ou a gente sai por aí, com grandes chances de atolar no barro.
Viver no mato é adaptar-se às forças da natureza: bruta, absoluta e instável. É manter os humores em baias e rédeas, apesar dela; é não sucumbir às suas variações, aos céus nublados, às tempestades perenes. É aceitar que tudo é cíclico, nada é para sempre, e poucas coisas estão, realmente, sob nosso controle. Minha vida mudou muito nesses onze meses, para além da troca de cenário: a rotina, as atividades, os tempos, meu contato comigo mesma, minha relação com o mundo. É desafiador, de uma estranheza tremenda, mas, ao mesmo tempo, uma verdade e crueza que jamais havia vivido antes. Eu sinto como se meus sentimentos estivessem todos os dias à flor da pele, e ao mesmo tempo, como se uma camada de casca grossa estivesse sendo sedimentada sobre mim.
Há uma reverência crescente que desenvolvo todos os dias por esse lugar. Mas há, em paralelo, a minha capacidade de tornar banal o cotidiano, de querer passar batido, de não se maravilhar ou de me esquecer do que estou a fazer aqui. É preciso manter o compromisso todos os dias, de lembrar e relembrar, das promessas, das bençãos de viver sobre as montanhas.
Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...
Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...
Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...
- Fernando Pessoa -
Essa receita é antiga, as fotos não são de agora, mas de alguns meses atrás. Ficou nos meus arquivos, decidi resgatar e publicar por aqui. Espero que gostem.
Talharim Caseiro com Molho de Tomate com Funghi
Massa caseira e molho de tomate: nada pode ser mais reconfortante que um prato de talharim.
Rendimento: 2-3 pratos
-
Tempo de Preparo:
Tipo de Prato: massa, talharim
para a massa
- 250g de farinha
- 2 ovos grandes
- 2 colheres de água gelada (caso precise para dar ponto na massa)
- pitada de sal
para o molho
- 1/4 xícara de azeite de oliva
- 1 cebola roxa média
- 3 tomates grandes maduros
- 70g de funghi
- 1/2 xícara de vinho tinto
- 2 colheres de sopa de açúcar
- pitada de sal
- orégano
- pimenta do reino
- queijo parmesão ralado para polvilhar
para a massa
- Num bowl, ou numa bancada, faça uma montanha de farinha com um buraco no meio e quebre os ovos lá.
- Misture com as mãos, amassando bem, adicione o sal e sove por uns 10, 15 minutos. - Eu sovo por 5, depois coloco na batedeira com gancho para massas pesadas.
- Forme uma bola, cubra com plástico filme e guarde por uns 30 minutos na geladeira.
- Corte a massa em pedaços e amasse. Polvilhe farinha na massa a ser trabalhada, e passe pela máquina no nível zero (ou o primeiro nível). Depois de passar, dobre ao meio e passe de novo. Repita esse processo por umas cinco vezes.
- Vá aumentando (ou diminuindo) o grau da espessura (cada vez mais fino), para abrir a massa, até chegar ao 8 ou 9. - Se você não tem máquina, acredito que dê para abrir no rolo também, mas deve ser bem trabalhoso e exigir um pouco mais de habilidade.
- Depois de abrir uma tira retangular de massa, passe no cortador de talharim. Coloque a massa polvilhada com farinha para secar.
- Ferva uma panela de água para cozinhar o macarrão, com uma colher de sopa de azeite e sal.
- Quando ferver, coloque o macarrão e cozinhe por uns 3 minutos - a massa fresca fica pronta bem rápido, talvez antes disso.
- Escorra bem - eu costumo jogar um pouco de água fria para interromper o cozimento da massa.
para o molho
- Coloque o funghi numa tigela e acrescente água fervente até cobri-lo por inteiro (e mais um pouco), e deixe de molho por uns 30 minutos até que fique hidratado.
- Corte em pedaços grandes.
- Pique bem uma cebola e refogue-a numa frigideira com o azeite de oliva.
- Quando a cebola estiver dourada, adicione os tomates picados e o açúcar e cozinhe por mais uns 5 minutos.
- Junte o funghi, o vinho tinto e os temperos e refogue por mais uns 3 minutos.
- Sirva o molho sobre o talharim e polvilhe queijo parmesão ralado.