Frango com Pequi
A primeira vez que eu provei pequi foi há uns 10 anos, numa galinhada num restaurante de pratos típicos mineiros na Vila Madalena em SP. Eu lembro de ter me maravilhado com aquele sabor tão diferente de tudo que eu já havia provado: um frutado cítrico de polpa cremosa que equilibra com perfeição a densidade do molho de frango na panela.
A primeira vez que eu provei pequi foi há uns 10 anos, numa galinhada num restaurante de pratos típicos mineiros na Vila Madalena em SP. Eu lembro de ter me maravilhado com aquele sabor tão diferente de tudo que eu já havia provado: um frutado cítrico de polpa cremosa que equilibra com perfeição a densidade do molho de frango na panela.
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Panetone Caseiro
O panetone que não fiz no Natal
Panetone é algo tão delicioso e reconfortante que eu comeria o ano todo, mais ainda no frio acolhedor do inverno. Adoro no café da manhã feito rabanada, um pedaço roubado no meio da tarde ou no lanchinho da noite é para mim é alegria com prazer. Só achava que era algo impossível de fazer em casa, principalmente depois de alguns testes malsucedidos. Lembrei que tinha salvo na minha pasta a receita da querida Goria Huk (Renata Barella) - suas receitas de pão não falham nunca e, principalmente, são fáceis de fazer.
Segui a risca suas indicações e fiz minha própria essência de panetone. As únicas poucas modificações foram na cobertura e ter optado assar o panetone grande ao invés de vários pequenos. A casa ficou perfumada da nostalgia de fim de ano. Então, esse é o panetone que não fiz no natal, até porque no natal a gente pode comprar, coisa que não dá para fazer no resto do ano.
Panetone Caseiro
A receita que não fiz no natal. Receita original da Goria Huk.
Rendimento: 10 a 12 porções
Tempo de Preparo:
Tipo de Prato: lanche
Ingredientes
para a massa
- 70ml de azeite
- 4 gemas
- 3 colheres de sopa de água
- 85g de iogurte natural
- 1/2 colher de chá de sal
- 2 e 1/4 de xícara de farina de trigo
- 2 colheres de chá de fermento biológico seco
- Raspas de 1 laranja
- 1/4 colher de chá de essência de panetone
- 3 colheres de sopa de água
- 1/3 xícara de uvas passas
- 1 colher de sopa de licor de laranja
para a cobertura
- 3 claras
- 125g de amêndoas trituradas
- 100g de açúcar de confeiteiro
para a essência de panetone
- 1/2 xícara da água
- 2 colheres de sopa de açúcar
- noz moscada ralada a gosto
- 2 ramas de canela
- raspas de 1 laranja
- raspas de 1/2 limão
- 1/2 xícara de rum
- 3 cravos
Modo de Preparo
para a massa
- Deixe as uvas passas de molho numa tigela com o licor de laranja por 20 minutos e escorra.
- Numa tigela junte a farinha, fermento e o açúcar.
- Na batedeira, com o batedor de raquete, junte a água, gemas, azeite, sal, essência de panetone e o iogurte e bata em velocidade baixa.
- Vá juntando a mistura de farinha aos poucos.
- Quando ganhar forma, troque o batedor por um de gancho e sove a massa por uns 10 minutos.
- Faltando 2 minutos, aumente a velocidade e adicione as passas e as raspas de laranja.
- Coloque a massa numa superfície enfarinhada, formando uma bola, deixe descansar numa tigela coberta com um pano até dobrar de volume.
- Trabalhe a massa numa superfície e transfira para uma forma redonda com fundo falso untada com manteiga e farinha. Cubra com um pano e deixe descansar até dobrar de volume.
- Prepare a cobertura e coloque sobre a massa. Leve ao forno pré-aquecido a 190C graus e asse por 50 minutos - 1 hora.
para a cobertura
- Bater as claras rapidamente até começar a espumar.
- Adicione o restante dos ingredientes até incorporá-los.
para a essência de panetone
- Numa panelinha, leve ao fogo alto todos os ingredientes.
- Quando começar a ferver, reduza o fogo e deixe reduzir a calda para cerca de 2 colheres de sopa.

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Ovos no Purgatório
Comida afetiva numa versão vegetariana deliciosa.
Essa receita é, para mim, a definição de comida conforto: a simplicidade de um ovo imerso no molho borbulhante de tomate bem condimentado. Para comer em dias frios, raspando a frigideira com um pedaço de pão arrancado com as mãos, intercalado com um gole de vinho, enquanto a gente observa o vapor da comida quente que embaça e condensa no vidro das janelas.
Faz um ano que essa receita foi publicada na Revista Claudia, junto com outras receitas igualmente deliciosas. Também é uma versão vegetariana, dessa receita aqui de anos atrás.
Ovos no Purgatório
Comida conforto, perfeita para dias frios.
Rendimento: 02 porções
-
Tempo de Preparo:
- 5 tomates grandes
- 1 cebola roxa picada
- 1 dente de alho bem picadinho
- 1 colher de sopa do azeite
- 1 colher de sopa de orégano (seco)
- 1 colher de chá de paprica picante
- 2 folhas de louro
- 1 talo de salsão
- 2 colheres de sopa de açúcar
- Sal e pimenta do reino a gosto
- folhas de manjericão
- 1/4 xícara de vinho branco
- 1/2 xícara de água
- 2 a 4 ovos
- pão para acompanhar
- Coloque os tomates direto sobre a fornalha do fogão aceso e deixe a pele queimar - vá virando com ajuda de uma pinça para ir queimando toda a casca. Retire do fogo e descasque com cuidado.
- Corte os tomates grosseiramente e reserve.
- Numa frigideira, coloque um fio de azeite e aqueça bem.
- Refogue as cebolas por uns 3 minutos.
- Adicione o alho, misture e jogue o vinho por cima.
- Coloque os tomates adicione o restante dos temperos (exceto o manjericão).
- Deixe cozinhar por uns 10 minutos e vá adicionando água, se necessário, para não deixar o molho secar.
- Faça uns buracos e coloque os ovos.
- Salpique sal e pimenta do reino.
- Faça uns buracos e coloque os ovos.
- Tampe e deixe cozinhar por uns 2 minutos no máximo se você quiser as gemas moles.
- Jogue umas folhas de manjericão e sirva com um pãozinho torrado.

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Biscoitos de Amêndoas
Depois de 10 dias em São Paulo, voltamos quarta-feira. Chegamos a noite e fomos re-habitando aos poucos a casa que estava com cara de abandono. Desfiz as malas só ontem e aproveitei para cozinhar, enquanto meu marido punha as roupas para lavar. Fiz uma torta de alho-poró para ele e um caldo de frango para mim.
Hoje, amanheceu nublado, como já pressagiava a noite de ontem; espiei da janela o céu escuro e não vi nenhuma estrela. Tinha um pote com as sobras de amêndoas trituradas do leite de sementes, e resolvi assar uns biscoitos com a "farofa".
Enquanto a casa cheirava o doce assado, fui buscar um buquê da couve manteiga florida, que balançava lentamente no alto da horta. Senti a saudade me invadir aos poucos, da simplicidade da minha vida, da rotina descomplicada, sem muitos acontecimentos, mas cheia de quietude no fazer.
Biscoitos de Amêndoas
Usei o resto das amêndoas trituradas que sobraram do leite de sementes.
Rendimento: 10-12 biscoitos
Tempo de Preparo:
Tipo de Prato: chá da tarde, sobremesa
Ingredientes
- 1 e 1/4 do “bagaço” das amêndoas trituradas para leite secas
- 1/2 xícara de açúcar
- 1 ovo
- 50g de manteiga derretida
- 1 colher de sopa de licor de Amarula (pode usar um licor de amêndoas, eu não tinha e acabei substituindo por este.
- 1 colher de chá de fermento em pó químico
- pitada de sal
- Num recipiente, junte a farinha de amêndoas com o açúcar.
- Junte o ovo, a manteiga, o sal, o fermento e o licor.
- Amasse até formar uma bola homogênea.
- Leve à geladeira por 1 hora.
- Faça bolinhas e achate com a mão mesmo.
- Disponha os biscoitos numa assadeira, forrada com papel manteiga - não é necessário deixar muita distância entre os biscoitos.
- Asse em forno pré-aquecido a 180C graus, por uns 20-30 minutos, até ficarem bem dourados.
- Espere esfriar e consuma na hora. Se deixar para o dia seguinte e eles murcharem, dê uma secada no forno novamente.
Modo de Preparo

Rosca de Chocolate com Amêndoas
Receita doce para dias frios.
Ficamos sem luz ontem a noite e quando acordamos, ainda não tinha voltado. E eu levantei querendo fazer uma rosca de chocolate que estava na minha cabeça desde sei lá quando dessa quarentena. Fiz a receita de cabeça, com o que eu suspeitava que deveria ir num pão recheado com chocolate. Sovei na mão, coisa que a batedeira fazia por mim nos últimos anos; foi bom sujar as mãos de massa e sentir aquela esponja macia amortecendo meu embalo sobre a bancada fria.
Derreti o chocolate no creme e decidi que o recheio ia ser uma ganache grossa mesmo - confesso que com um pouco de receio de ela desandar a massa e virar tudo uma bola melequenta, mas a internet não estava ali para me salvar e a mim só restava torcer que mercúrio retrógrado não se lembrasse do meu pão. Enquanto a massa descansava sob a coberta, a tigela posta na cadeira, num cantinho com sol, fui preparar a produção para as fotos, e aproveitar para filmar os últimos pedaços do Curso de Food Styling que estavam faltando.
Abri a massa e espalhei o recheio. Decidi colocar umas amêndoas salgadas trituradas também. Joguei um pouco no processador, quando me atentei que não tinha eletricidade. "Somos bichos de costume", e me lembrei de ter falado essa frase na conversa matinal na cama com meu companheiro, num contexto totalmente diferente. Dispus as amêndoas numa toalhinha, cobri e bati com o martelo. Ficaram lindas, com pedacinhos todos desiguais, e fiquei satisfeita, me gabando pois tinham ficado melhores que moídas no processador. Espalhei sobre a massa e enrolei-a bem devagar. Fiz cortes como vi a Nadiya dia desses na tevê e montei uma trança.
Enquanto a rosca assava, subia o cheiro doce do chocolate queimado chiando na assadeira. O pão cresceu e ficou com uma cor linda, perfumado e macio. Quando tirei minha última foto, ouvi um apito da geladeira. Era a luz que tinha acabado de voltar.
Pão Estrela com Doce de Leite e Nozes
Pão recheado em formato de estrela para dias melhores.
Rendimento: 10 a 12 porções
-
Tempo de Preparo:
Tipo de Prato: pão, chá da tarde
para a massa
- 1/4 xícara de leite morno
- 2 colheres de chá de fermento biológico seco
- 2 e 1/2 xícaras de farinha de trigo
- de 1/2 a 3/4 xícara água morna
- 60g de manteiga sem sal em temperatura ambiente
- 2 colheres de chá de açúcar
- 1 colher de chá de extrato de baunilha
- 1 de colher chá de sal
- 1 ovo batido com 1 de colher chá de leite para pincelar
para o recheio
- 150g de doce de leite
- 1/2 xícara de nozes (usei pecã) picadas
para a massa
- Misture o fermento no leite numa vasilha e espere por uns 5 minutos.
- Num recipiente junte a farinha, açúcar, sal, extrato de baunilha, a manteiga cortada em pedaços, e a mistura do fermento.
- Bata na batedeira com o gancho e adicione a água aos poucos até dar liga. Você pode misturar na mão também se preferir.
- Sove a massa por uns 8 minutos (tempo de batedeira, até ficar lisinha), faça uma bola e coloque num recipiente untado com óleo e cubra com um pano limpo.
- Deixe a massa descansando por 1 hora ou até que dobre de tamanho.
- Divida a massa em 4 partes iguais. Com ajuda de um rolo, abra em formato quadrado, uma a uma numa bancada enfarinhada e deixe descansar por mais 30 minutos.
- Coloque uma das massas abertas sobre um papel manteiga e espalhe 1/3 do doce de leite, deixando 1cm de borda sem o doce, e polvilhe 1/3 das nozes.
- Cubra com outra parte da massa e repita o processo. Depois mais uma vez, finalizando com a massa sem cobertura.
- Marque, com ajuda de um copinho, o centro da estrela.
- Faça cortes, a partir do centro, mas deixando o centro sem cortar, e divida a massa em 16 partes (assista o vídeo para entender melhor).
- A cada dois pedaços, enrole os para fora e una a ponta (assista o vídeo para entender melhor). Ficarão 8 pontas.
- Pincele a massa com o ovo batido. Coloque num assadeira redonda, e deixe descansar e crescer por mais 30 minutos.
- Leve para assar em forno pré-aquecido a 205C graus, por uns 25-30 minutos, ou até que esteja assada e dourada.
montagem

Mini Pavlova com Curd de Amora
Mês passado, a Revista Claudia me convidou para o editorial de Cozinha do mês de junho. O resultado foi que eu tive 10 dias para escolher 5 receitas, produzir, fotografar, editar e entregar todo material. Foi uma loucura e eu adorei. A idéia era preparar um cardápio especial para o dia dos namorados: quem me acompanha por aqui, sabe que eu detesto e não comemoro essa data, hahaha. Motivos?, além de comercial, acho cafona demais.
Mas entrei no espírito e pensei em quais receitas especiais iria curtir fazer nesse friozinho, que têm um peso afetivo tanto para mim e para o Gabriel. Levei em conta também os ingredientes que a gente tem à disposição aqui no sítio. Ovos caipira, batata-doce e espinafre da horta, amoras da vizinha.
Chips de Batata-Doce com Molho de Ervas
Frango Tandoori com Palak Paneer
Ovos no Purgatório
Mini Pavlova com Curd de Amora
Sorvete de Coco com Crocante de Gengibre
A matéria ficou linda, a Marina que escreveu sobre mim foi muito querida, e eu não poderia ficar mais feliz em ter meu trabalho materializado nas páginas de uma revista que eu acompanho desde que eu era criança - ficavam na cabeceira do quarto da minha mãe, eu deitava na cama e ficava folheando por horas.
Nessa postagem, você confere a receita da Mini Pavlova, que para mim sempre foi uma sobremesa desafiadora - já fiz algumas vezes versões dela por aqui:
A dificuldade está no processo e nas etapas, do tempo e temperatura de forno. Não vou mentir, dá trabalho, mas afinal, ela fica linda, deliciosa, e tão perfeita nas texturas e sabores - especialmente com esse curd de amora.
Eu sei que tem sido difícil para todo mundo assimilar o momento em que estamos inseridos: político e social. Estar diante de um governo negligente, irresponsável e criminoso, com tantas pessoas em situação de precariedade, que não podem optar pelo isolamento em meio à pandemia.
Se você tem a opção de escolha, por favor, fique em casa. Se você pode ajudar a quem não tem como optar, por favor, ajude. Nossa única forma, nesse momento é nos organizarmos em células sociais solidárias, cuidando uns dos outros, protegendo quem a gente puder.
Mini Pavlova com Curd de Amora
Sobremesa cheia de charme.
Rendimento: 5 porções
Tempo de Preparo:
Tipo de Prato: sobremesa
Ingredientes
para o merengue
- 4 claras em temperatura ambiente
- 1 e 1/4 xícara de chá de açúcar de confeiteiro
- 3/4 colher de sopa de de vinagre de maçã
- 3/4 colher de sopa de maisena
para o creme batido
- 250g de creme de leite fresco
- 1 colher de sopa de açúcar
para o curd de amora
- 4 gemas
- 1 de xícara de amoras (usei congeladas)
- 1/2 de xícara de açúcar
- 2 colheres de sopa de manteiga sem sal
- suco de 1 limão
para as amêndoas - opcional
- 1/4 xícara de amêndoas
- 1 colher de sopa de açúcar
Modo de Preparo
para o merengue
- Na batedeira, bata as claras em neve em velocidade média-baixa.
- Quando começar a espumar, acrescente aos poucos 1/3 do açúcar peneirado.
- Deixe bater por mais uns 2 minutos e adicione mais 1/3. Vá fazendo isso até que o açúcar se dissolva bem nas claras. Adicione o restante e continue batendo até formar picos firmes.
- Desligue a batedeira, adicione o vinagre bata por mais 5 segundos. Faça o mesmo com a maisena.
- Forre uma assadeira com papel manteiga, e faça 5 discos de uns 12cm de diâmetro e distribua o merengue.
- Com ajuda de uma colher, espalhe e faça pequenas cavidades em cada centro como se fossem pequenos cestos - se preferir, pode fazer os ninhos com um saco de confeitar.
- Leve ao forno pré-aquecido a 130C graus. Dica: eu coloquei meu forno no mínimo e deixe uma colher de pau na porta, para ela ficar entreaberta - sempre de olho para os suspiros não queimarem.
- Asse por aproximadamente 50 minutos ou até que estejam bem sequinhas e firmes por fora. Deixe esfriar dentro do próprio forno semi-aberto.
para o creme batido
- Bata o creme de leite numa batedeira em velocidade média, adicionando o açúcar no início.
- Bata até começar a ficar firme, mas tome cuidado para não bater demais e virar manteiga.
- Reserve na geladeira.
para o curd de amora
- Numa panelinha, leve ao fogo as amoras, o açúcar e 2 colheres de sopa de manteiga até levantar fervura.
- Com ajuda de um amassador de batatas, amasse as frutas até virar uma geléia.
- Numa tigela, bata levemente as gemas. Verta parte da calda sobre elas e misturo bem.
- Volte tudo para a panela para cozinhar em fogo baixo até engrossar.
- Desligue o fogo e coe a calda.
- Junte o suco de limão e misture.
- Cubra com filme plástico e leve à geladeira por umas 4 horas.
para as amêndoas
- Coloque as amêndoas numa assadeira e leve para tostar no forno a 180C graus por uns 8 minutos - fique de olho para não queimar e se necessário sacuda a assadeira no meio do tempo.
- Deixe esfriar e pique com uma faca grosseiramente.
Montagem: Coloque o creme batido sobre os ninhos de suspiro, sirva com o curd e as amêndoas picadas.

Lentilha Apimentada com Farofa de Cebola Caramelizada e Legumes Tostados
Receita Vegetariana por Suzan Zacchi.
Receita de banquete vegetariano em tempos de quarentena? Temos. Esse conteúdo foi criado 3 semanas atrás, quando a Suzan passou por aqui. Esse foi um dos pratos que ela fez para a gente: forte, apimentado e, gente, que lindo - ainda que ela tenha desdenhado da apresentação na hora da foto e chamado de mexidão, hahaha. Saudades daquele clima leve e ingênuo, que vivemos naquele fim de semana.
Sobre o veganismo: a Su recebeu um monte de questionamentos pelo fato desse blog não ser vegetariano ou vegano.
Bom, então, não sou. Não porque eu não respeite ou desacredite no movimento, pelo contrário. Mas minha opção pessoal, hoje, é a redução do consumo de carne. Diminui meu consumo (principalmente de carne vermelha) porque senti que meu organismo respondeu absurdamente bem com essa mudança. Mas continuo consumindo esporadicamente - algo como 3x ao mês -, e seus derivados estão na maioria das minhas receitas (manteiga principalmente).
Aderi ao movimento de transição, de negociação consigo mesma, pois não consigo seguir dietas de restrição. É óbvio que essa é uma ótica/ética particular, e não pretendo entrar nessa discussão. Enxergo no ativismo vegano uma força necessária, importante - admiro demais as pessoas que estão nessa luta - mas acredito também que movimentos agregadores, simpatizantes e menos duros, geram um caminho mais possível.
Até porque as discussões são complexas. Da família que cria galinhas para consumo próprio versus o vegano que compra leite de amêndoas com embalagens que dificilmente serão recicladas. Impacto ambiental versus ética de consumo sobre a vida de outro animal. Coloco aqui não com a intenção de menosprezar o movimento, nem para justificar meus atos. Os movimentos são paralelos, de culturas e visões sociais distintas, mas não podem e nem deveriam ser excludentes. Minha intenção é fomentar a reflexão que já existe dentro de mim.
É preciso questionar os formatos de produção (fazendas de monoculturas, uso de agrotóxicos, produção em massa, confinamento, antibióticos) e de consumo atuais. Optar por pequenos produtores, locais, sazonais - entender a cadeia de produção e evitar o desperdício. Não dá para negar que o que estamos vivendo hoje é resultado de um sistema agressivo e não-sustentável, e que se não mudarmos a rota, o colapso do planeta e iminente.
Covid-19: Difícil manter o otimismo diante de cenários tão devastadores. Difícil não ser pessimista com um governo tão negligente e irresponsável. Difícil manter a fé, com gente encarando quarentena como férias, lotando praias, bares e discotecas. Difícil falar em compaixão, quando funcionários ainda não foram liberados de grandes empresas, porque o lucro vale mais que vidas. Difícil meditar e fazer yoga quando a gente sabe que a desigualdade desse país vai condenar pessoas à morte.
Quero com todas minhas forças ser otimista, estar errada e enxergar coisas boas nesse momento. A rotina segue, porém: acendemos fogão a lenha para cozinhar, brincamos com os cachorros, lavando e colocando as roupas para secar no varal. Sento para meditar e praticar yoga. Tenho Norah Jones tocando o dia inteiro para cobrir os espaços. Festejamos um aniversário online. Mas há no fundo, um silêncio contínuo, de uma espera aguda. Da incerteza que inunda e transborda pelos pensamentos. Seguimos aguardando. Fiquem bem. Me contem como estão.
Lentilha Apimentada com Farofa de Cebola Caramelizada e Legumes Tostados
Receita perfeita da Suzan Zacchi.
Rendimento: 6 porções
Tempo de Preparo:
Tipo de Prato: prato principal
Ingredientes
para a lentilha
- 500g de lentilha vermelha - dal
- 300g de tahini
- 4 folhas de Louro
- 1/4 colher de chá de pimenta caiena
- 1/2 colher de chá de páprica picante
- 1/2 colher de sopa Massala (se não tiver faça uma mistura com cominho, cravo em pó, canela em pó, pimenta do reino, cardamomo em pó)
- Sal a gosto
- Cebolinha para servir
para a farofa
- 1 cebola roxa
- 2 xícaras de farinha mandioca
- 2 colheres de sopa de Azeite
- Sal e pimenta do reino
para os legumes
- 2 pimentões vermelhos
- 2 pimentões amarelos
- 4 fatias de abóbora
- Azeite, sal e pimenta do reino
Modo de Preparo
para a lentilha
- Deixe as lentilhas de molho por 24 horas, trocando água umas 3 vezes durante esse período.
- Escorra bem e coloque numa panela com água e os temperos.
- Cozinhe em fogo médio.
- Quando começa a ferver, agregue o tahini.
- Cozinhe por uns 20 minutos.
para a farofa
- Fatie a cebola e refogue numa frigideira com azeite, até caramelizar bem.
- Junte a farofa, o sal e a pimenta do reino.
- Deixe tostar.
para os legumes
- Fatie os pimentões em tirinhas e as abóboras bem picadinhas.
- Coloque tudo numa assadeira para assar com bastante azeite e sal.
- Leve ao forno a 200C graus por uns 20-30 minutos, até que estejam bem tostados. Na hora de servir, coloque numa tigela a lentilha, a farofa por cima, os legumes e a cebolinha picada.

Crumble de Amoras com Sorvete de Leite
Sirva com uma bola de sorvete! ;)
Faz 20 anos, começava o ano 2000. Vinte anos é quase metade da minha vida. Dez anos atrás, eu tinha acabado de largar a carreira de economista. Eu me assombro com as quantias, com os anos, com a relatividade da percepção do tempo - não há matemática que me faça reconhecer todos esses números sem alarde.
Me sinto um livro de memórias que se acumulam, vivendo em busca constante por significados: dos momentos e dos acontecimentos. Escrevi recentemente o quanto eu já quis ser tantas coisas; perdi a conta das vezes que precisei mudar de plano, e de quantas vezes tive que dar passos para trás. Nada disso, porém, invalida minhas experiências, nada disso me faz menos do que sou. Eu acredito que vivi e criei tantas coisas nesses 10 anos perambulando pela vida, na ânsia por ressignificar e entender minhas escolhas.
Para esse ano, não quero tantas coisas de fora, mas quero ir ainda mais fundo pelo caminho inverso. Quero poder me reconectar ainda mais com o que sou: buscar minhas raízes, resgatar minha história, entender minha família, integrar minha cultura, acolher meu feminino. Quero voltar a pintar, quero ler mais, quero plantar mais, quero meditar, quero viver e celebrar minha casa, quero me nutrir dos meus afetos.
Quero poder viver uma vida tranquila, de bem comigo mesma, e absorver a abundância que me cerca. Quero orar todos os dias, agradecendo pela vida que construí até aqui, honrando as oportunidades (e sim, os privilégios) que recebi.
Cada dia mais entusiasmada com a idéia de ter um canal no Youtube, filmei mais um episódio de receita cotidiana. Dessa vez um crumble de amoras acompanhado por um sorvete de leite. A sobremesa ficou deliciosa e eu adorei as cenas desse vídeo.
Poder compartilhar mais essa faceta do meu trabalho é muito gratificante para mim. Não é fácil, dá uma trabalheira em triplo, ainda estou pegando o jeito, mas estou feliz com os resultados. Se você ainda não me segue por lá, aproveita para me seguir, curtir e me apoiar ok?
Receita de crumble é facil demais, você pode trocar por tantas outras frutas congeladas, ou até mesmo por maçãs verdes. É uma ótima idéia para improvisar quando você precisa de uma sobremesa rápida. Fica uma delícia - o melhor é comer tudo na hora, por causa do crocante. Com um sorvete fica perfeito. Fiz um de flor de leite, que ficou espetacular, e a receita do sorvete fica para outro dia.
Ninguém perguntou, nem pediu, mas vou voltar a dar indicações de filmes e seriados por aqui.
Filme: Bacurau, não dá para deixar de ver.
E Anne with an E, um seriado Netflix que tem me feito chorar todas as noites.
Me sentindo a própria doida desvairada da Janaína Paschoal dando essas duas dicas, mas vai lá.
Crumble de Amoras
Sirva com uma bola de sorvete para atingir a perfeição.
Rendimento: 10-12 porções
Tempo de Preparo:
Tipo de Prato: sobremesa
Ingredientes
- 1 xícara de aveia em flocos
- 1 xícara de farinha de trigo
- 1 xícara de açúcar cristal
- 125g de manteiga com sal cortada em cubinhos
- 500g de amoras - usei congeladas
- suco de 1 limão
- 1 colher de sopa de licor de laranja - opcional
Modo de Preparo
- Num recipiente coloque a aveia, a farinha, o açúcar e a manteiga cortada em cubinhos.
- Amasse com as mãos até virar uma farofa.
- Numa assadeira, espalhe metade da mistura, numa primeira camada.
- Misture o suco do limão e o licor nas amoras.
- Disponha as amoras sobre a camada de farofa.
- Cubra com o restante da mistura.
- Asse por uns 35 minutos - ou até que o crumble esteja dourado.
- Retire do forno e espere esfriar um pouco, mas pode servir quente ou morno, acompanhado de uma bola de sorvete.

Torta de Noz Pecã e Maçã Verde
Não há nada que descreva tão bem o inverno como o perfume de canela saindo do forno.
Lembrei de um dia, quando uma amiga (a Elke) veio me visitar aqui no sítio. Na ocasião, quem cozinhara a maior parte dos pratos tinha sido o Gabriel, inclusive, a sobremesa, uma torta de maçã. Ela tirou sarro da minha cara: "quem tem blog de receitas é você, mas quem cozinha é o seu marido?!” A gente riu pacas e o Gabriel aproveitou para me desdenhar, e eu tive que explicar que a receita da torta de maçã (um crumble na verdade), era receita vinda da Argentina, coisa de família.
Eu até cheguei a publicar essa receita por aqui, mas parece que ela se perdeu, acabei de olhar na listagem e o link está quebrado e não encontro mais o conteúdo. :(
A verdade é que eu nem sempre cozinho por aqui, a gente divide bem as tarefas. Quando estamos sem tempo, geralmente ele faz um grelhado, legumes e carne no fogo. Tem dias que estou com muita preguiça, ou muito cansada, e ele carinhosamente cozinha para a gente. Tudo isso para dizer que a gente prepara nossa comida por aqui todos os dias sim, mas nem sempre sou eu que faço tudo, amém. Agora lavar a louça, eu lavo todos os dias, mas isso é porque sou chata e sou neurótica com minhas louças - e para falar a verdade eu gosto de lavar.
Essa receita é incrivelmente deliciosa e invernal. Para mim, não há nada que descreva tão bem o inverno, como o perfume de canela saindo do forno. A receita foi inspirada na Torta de Pêras e Pecãs de Eva Kosmas Flores. - que faz as melhores fotos dessa internet, deus. Substituí a pêra pela maçã verde e fiz alguns ajustes por conta da acidez da fruta. Ela deveria se chamar então “Torta de Maçã Verde com Nozes Pecãs”, mas quando a gente comeu, apesar do gosto acentuado da fruta, as nozes se destacam por conta da quantidade colocada. Por isso re-batizamos a torta!
Por aqui, a temperatura tem chegado a zero. Geada e folhas que começam a secar e cair. Dias de fogão aceso, de lenha queimando o dia todo. Panelas grandes, caldos, carne de panela. Gosto de ter sempre uma xícara nas mãos, ver o vapor subir, e esquentar as mãos em volta dela. Fazer muitas receitas no forno, para manter a cozinha quente, e sentir o cheiro de torta assando pela casa.
Gosto de me cobrir com uma manta, e sair a andar assim, com ela nas costas. Sempre com meias de lã nos pés. Gosto de sentar no chão de pedras, enquanto o sol bate forte, mas com seus raios ralos, desses que demoram a esquentar. O inverno é assim, cheio de coisas para a gente fazer, para se manter aquecido. Coisas demoradas, coisas que dão mais trabalho. O quentinho é algo que a gente sente no coração, do frio que faz fora.
Torta de Noz Pecã e Maçã Verde
Receita perfeita para o inverno. Perfumada e deliciosa. Inspirada na Receita de Eva Kosmas Flores.
Rendimento: 02 tortas médias (fiz uma de 18cm de diâmetro e outra de 25cm)
-
Tempo de Preparo:
Tipo de Prato: torta, chá da tarde
para a base
- 1 e 3/4 xícaras de farinha de trigo
- 1/4 xícara de açúcar cristal
- 1 colher de chá de canela em pó
- 1/2 colher de chá de sal
- 170g de manteiga sem sal
- 4-6 colheres de sopa de água gelada
- 1/2 ovo batido para pincelar
para o recheio
- 330g de maçãs verdes descascadas e picadas
- 1/2 colher de sopa de manteiga sem sal
- 1 maçã inteira para decorar
- 1 e 1/2 ovo batido
- 1/2 xícara de açúcar cristal
- 1/4 xícara de iogurte
- 1/4 xícara de mel
- 1 colher de sopa de extrato de baunilha
- 3/4 colher de chá de sal
- 3/4 xícara de nozes pecãs
para a base
- Num recipiente, junte os ingredientes secos e misture: farinha, açúcar, canela em pó e o sal.
- Com um ralador grosso, rale a manteiga - ela deve estar firme, recém tirada da geladeira - sobre a mistura de farinha, aos poucos. Ou seja, parando para amassar.
- Amasse com os dedos como se estivesse esfarelando, a idéia é que não fiquem grumos de manteiga inteiros.
- Quando estiver bem esfarelado, junte 4 colheres de sopa de água gelada e aperte bem a massa. Se necessário, adicione as 2 colheres restantes.
- A idéia é que a massa fique bem concisa e talvez um pouco pegajosa.
- Amasse bem por uns 30 segundos e forme uma bola.
- Enrole em papel filme e leve à geladeira por uns 30 minutos.
para o recheio
- Numa frigideira, derreta a manteiga em fogo alto e adicione as maçãs picadas.
- Refogue as maçãs, até que elas estejam douradas e macias, por uns 7 minutos. Deixe esfriar e reserve.
- Num recipiente, misture os ovos, açúcar, iogurte, mel, baunilha e o sal.
- Junte as nozes pecás - pode quebrar algumas com as mãos antes de adicionar - e as maçãs frias. Misture bem.
- Para decoração, descasque a maçá e corte no sentido longitudinal em 4 partes. Retire as sementes. Vá cortando fatias finas, mantendo a parte superior sem cortar. Depois abra como um leque, com cuidado.
- Disponha numa assadeira untada com manteiga e leve para assar num forno pré-aquecido a 180C graus, por uns 15 minutos, até que se sequem um pouco. Deixe esfriar e reserve.
para a montagem
- Abra a massa com um rolo, numa superfície levemente enfarinhada, até ficar com uns 3mm de espessura.
- Disponha sobre as fôrmas.
- Recheie com a mistura de nozes e maçà.
- Coloque os "leques" de maçã por cima de tudo.
- Enrole as bordas da torta e pincele-as com o ovo batido.
- Leve para assar em fôrno pré-aquecido a 180C graus, por uns 45 minutos, até que esteja dourada.
- Deixe esfriar antes de servir.

Pão Australiano do Outback
Fofinho e docinho.
Fazer pão foi uma das coisas que aprendi aqui no sítio. Tanto pela falta de qualquer vizinhança num raio de quilômetros, quanto pelo amor por pães do Gabriel. Nada de fermentação natural, nem horas de sova. O mais simples: sovando um pouco na mão e o restante na batedeira mesmo, deixando a massa descansar do lado da lareira acesa.
Parênteses. O primeiro pão que aprendi aqui foi o Challah, receita da querida Gória. Depois disso, fui testando outras receitas, tive até uma pequena janela de experiência com o levain, - que durou pouco, não vou mentir - infelizmente. Essa bola eu deixo para minha amiga Elke modelar. E, temos uma máquina de pão também que é uma belezinha para o dia-a-dia. Dá inclusive para programar para que horas quer que o pão esteja pronto. Mas quem usa mais é o Gabriel.
Ainda não é inverno, mas aqui parece que já é faz algumas semanas. Pelo vento que corta frio nosso rosto à noite, quando a gente vai espiar o céu. A cúpula estrelada que cai sobre a gente é quase como um beijo gelado de boa noite. Enquanto o pão assava no forno, e o aroma quente se espalhava pela casa misturado com o cheiro da lenha queimando, fui dar a última volta lá fora. Agasalhada e encolhida, fechei os olhos e fiz um pedido.
As coisas simples também são as mais valiosas. Como pão caseiro que tem seu valor justamente por ser feito em casa, e tudo que isso representa. É o cenário desenhado todos os dias, pelo olhar de quem quer viver pelos detalhes. São pequenos feitos que somados fazem a gente se sentir rico, de uma riqueza que dinheiro nenhum compra.
Há mil anos atrás, eu adorava o Outback, na verdade, aquela cebola empanada que levava você a tomar alguns litros de chope para acompanhá-la. Nunca mais voltei, por anos, e a cebola ficou na minha lembrança. Recentemente, passando em frente, com fome, decidi resgatar o prato das recordações. Infelizmente, a memória boa continuou no passado: a cebola não era mais a mesma, não veio tão grande como eu me recordava, na verdade, veio pequena mesmo. Também não estava tão crocante, nem tão gostosa, o que foi bem decepcionante.
Mas para que não digam que sou só crítica, antes de servirem a cebola, trouxeram o couvert. Nele, serve-se um pão australiano, escuro com gosto acentuado de mel, acompanhado de uma manteiga cremosa. O pão salvou a noite, antes que ela ficasse ruim, e eu fiquei obcecada em encontrar a receita dessa delícia de pão.
A que elegi foi da Eline Prado do blog Mel e Pimenta. Que aliás, descobri que tem dicas e pratos ótimos - que comunidade maravilhosa é essa de blogueirxs de gastronomia na internet. A receita dela é uma adaptação publicada pela Bia Freitag do Desafios Gastronômicos. Obrigada, meninas! Adoramos o resultado.
Aqui, fiz algumas alterações, por conta do que eu tinha na minha despensa, ficou ótimo, e devo continuar minhas experiências sobre o pão, pois quero que ele fique bem escuro, bem fofinho e com bastante gosto de mel.
Quem tiver dúvidas em moldar o pão, assiste a este vídeo do Luiz Américo.
Faz tempo que não deixo sugestões de filmes ou seriados, até porque a Netflix tem me cansado demais, tenho achado as produções originais bem pouco originais; bem ruins, para ser sincera: vê-se que se gastou muito dinheiro com produção, mas pouco em roteiro ou em criar qualquer coisa que valha. Umas histórias fracas, sem pé nem sentido. A sensação que eu tenho é que eles tentam tornar tudo um capítulo de Black Mirror. Saturada, decidi voltar aos básicos, neste caso, à HBO.
Assisti Chernobyl, que me chocou à beça. É um chute no estômago, como a falta de um tiro de misericórdia pela humanidade. É também uma obra-prima de fotografia, com atuações excelentes. Impossível não pensar nas realidades controladas de Orwell em tantas cenas ali. Assisti em dois dias, e fiquei mal. Piorei quando descobri no mapa que Angra II está a 30 km de distância de casa.
O retrato da burocracia arrogante do governo soviético me deixou a pensar sobre o quanto realmente estamos seguros sob a proteção do Estado que deveria zelar pela vida. Os desastres de Mariana e Brumadinho estão aí para escancarar a falta de capacidade das instituições (públicas ou privadas), com lama derramada sobre sangue. Pensar que ainda tem gente que defende o uso de energia nuclear, sendo que nem barragens hidroelétricas foram capazes de manter sob segurança. E isso, nada tem a ver com comunismo ou capitalismo, pelamor, tem a ver com a incapacidade e estupidez humana mesmo.
No momento, estou assistindo a Big Little Lies, que tem atrizes ótimas, história bem narrada, e dá para levar bem, com humor. Estava com saudades das produções do David E. Kelly, e por enquanto (estou a 2 capítulos para terminar a primeira temporada) não tenho nada a reclamar da série, ao contrário, estou adorando. E Meryl Streep está na segunda temporada, então as expectativas são boas.
Pão Australiano do Outback
Receita original do blog Mel e Pimenta e Desafios Gastronômicos, com adaptações.
Rendimento: 02 pães médios
-
Tempo de Preparo:
Tipo de Prato: pão, entrada, chá da tarde
- 360g de farinha de trigo
- 70g de farelo de trigo
- 3 colheres de sopa de cacau em pó
- 1/4 de xícara de mel
- 4 colheres de sopa de açúcar mascavo
- 1 colher de sopa de fermento biológico seco
- 30g de manteiga derretida
- 300ml de água morna
- 1 pitada de sal
- fubá para polvilhar
- Dissolva o açúcar mascavo e o fermento em metade da água morna, num recipiente pequeno e reserve.
- Junte todos os ingredientes secos numa tigela, e deixe um buraco no meio.
- Adicione à mistura do fermento, o mel e a manteiga.
- Vá incorporando os ingredientes com a ponta dos dedos, juntando o restante da água se necessário.
- Sove bem a massa por uns 5 minutos. Eu coloquei na batedeira com o batedor gancho e sovei por lá.
- Deixe a massa descansando num bowl por 1 hora, tampado com filme plástico ou um pano. Se possível deixe num local aquecido, protegido da luz e de qualquer corrente de ar.
- Quando a massa estiver crescida, molde os pães como preferir. Eu dividi a massa em duas partes e fiz dois pães.
- Para moldar, abro a massa, e vou dobrando várias vezes. Coloquei um link para um vídeo ensinando a moldar na postagem acima.
- Faça cortes diagonais com uma faca bem afiaca, no topo do pão. Polvilhe a assadeira e os pães com fubá.
- Cubra e deixe descansar por mais 1 hora, para crescer.
- Leve para assar em forno pré-aquecido a 180C graus, e asse por uns 35-40 minutos.
- Deixe esfriar numa grade.

Quiche de Abobrinha com Bacon da Elke, numa tarde com café
Numa tarde ensolarada de outono.
É sempre muita história para contar: ela da sua viagem mais recente - dessa vez para Suécia e Dinamarca -, eu sobre meus perrengues na roça. A gente sempre dá muita risada, fazemos planos para dominar o mundo, tem sempre comida no meio, bebemos demais e terminamos com preguiça no final. E se lembra, que o melhor da vida são esses momentos.
Nossa amizade começou por aqui, virtualmente. Na época, 4 anos atrás, ela tinha um blog de cozinha e viagens. Gostei de cara do que ela escrevia, e comentei: “dá vontade de ser sua amiga". E foi assim que a gente se identificou, logo de cara. Ela veio para casa, contou da sua vida, e eu da minha. Passamos um café e criamos um ritual.
Nem sempre é bonito como nessas fotos. Às vezes tem pizza fria de boteco, pipoca com cerveja, geladeira vazia, bolo de supermercado. Ontem, foi banquete feito na hora; enquanto ela contava as novidades suecas, abria com desenvoltura a massa da quiche, fritava o bacon na frigideira, e batia os ovos com creme. Eu ouvia sentada na bancada da cozinha, preparando a câmera para fazer fotos, ajustando o tripé de pata quebrada. Brindamos com espumante gelado, afinal, também esbanjamos riqueza quando podemos.
A gente ri das nossas diferenças - que não são poucas - eu chamo ela de louca, ela me chama de preguiçosa. Enchemos mais uma taça, porque não temos tempo a perder.
Pedi a receita da quiche, ela me olhou torto, afinal, nunca mede as quantidades e faz tudo no olho. Mas foi só eu postar foto ontem, que já teve gente pedindo receita. Então ela fez o favor de compartilhar. Toma lá a receita da Quiche de Abobrinha com Bacon da Elke Noda.
Quiche de Abobrinha com Bacon da Elke Noda
Você pode utilizar a mesma massa para outros recheios como cebola, presunto e queijo, cenoura ralada, etc.
Rendimento: 06 porções
-
Tempo de Preparo:
Tipo de Prato: torta, quiche
para a massa
- 180g de farinha de trigo
- 80g de manteiga com sal
- aproximadamente 1 ovo - não coloca o ovo todo, apenas o suficiente para dar liga - ou água gelada
para o recheio
- 3 ovos
- A mesma medida dos ovos de creme de leite
- 1 abobrinha
- bacon (opcional)
- 50g queijo meia cura
- Sal, pimenta do reino e noz moscada
para a massa
- Juntar a farinha com a manteiga e faz tipo uma farofa.
- Adiciona o ovo ou a água para “grudar” tudo.
- Faz uma bola com a massa, enrola com papel filme e deixa na geladeira uns 15 minutos
- Abre a massa com um rolo, coloque numa forma (essa medida é para forma de 25cm), fure a massa com um garfo e leve ao forno por 15 minutos a 180°C.
para o recheio
- Numa frigideira doure rapidamente o bacon. Reserve.
- Bater com um fouet os ovos, acrescenta o creme de leite, bater até ficar homogêneo.
- Tempere a gosto com sal, pimenta e noz moscada.
- Adicione o queijo meia cura ralado e o bacon.
- Fatie as abodrinhas com uma mandolina ou corte o mais fino que você conseguir.
- Despeje os ovos batidos na massa e coloque as rodelas de abobrinha.
- Leve para o forno a 220°C, já pré aquecido, por uns 20 minutos ou até dourar.
- Sirva morna ou fria.

Biscoitos de Café com Doce de Leite da Joyce
De onde vem a inspiração.
Apesar de ter me mudado para o mato, a gente ainda tem muitos compromisso durante o ano longe daqui. Meu marido ministra retiros de meditação e de terapias corporais, estamos sempre viajando e nos deslocando entre pousadas, por São Paulo, muitas vezes na estrada, indo ou vindo. Confesso que, para uma pessoa que adora rotina e ficar em casa, esse sempre foi o meu desafio dentro da relação: viver com essa sensação de mudança constante. No começo, eu realmente sofria em ter que empacotar e desfazer malas a cada 3 semanas. Hoje, já me acostumei. Ainda sofro em ter que conviver com a bagunça que é ter mochilas cheias encostadas por preguiça de desfazê-las. Mas um dia ainda aprendo um método fácil de organização da minha vida, me aguarda Marie Kondo.
Quando a gente retorna para casa é sempre um alívio. Não brinco quando digo que adoro ter tempo livre para fazer faxina em casa, organizar, varrer, limpar cantos. Eu amo a rotina de ter que cozinhar aqui todos os dias, porque, como já mencionei em postagens anteriores, o restaurante mais próximo está a 20km daqui, delivery nem sonhando. Adoro estar em casa e ter que cuidar dela; dar de comer para as galinhas, cuidar da horta, semear as flores da estação em copinhos.
Então dá um aperto pensar que, já nesse final de semana, a gente volta para a cidade grande, porque as pendências estão por lá. E que a gente vai ficar fora daqui quase um mês, porque tem viagem marcada no meio desse período. Eu não reclamo (tanto), adoro viajar e aproveito quando estou fora também. Mas almejo pelo dia, quem sabe quando, a gente vai poder descansar de verdade aqui, sem compromisso ou prazo para ir embora. Quando esse dia chegar, serei a pessoa mais feliz do mundo.
Dia desses, recebi uma mensagem de uma leitora perguntando se tem jeito da gente ter inspiração, mesmo com contas a pagar e problemas a resolver. Achei curiosa a mensagem, tal qual a projeção que talvez ela tenha sobre minha vida. Eu digo: gente, minha vida não é perfeita e eu nem sempre vivi aqui no meio desse mato lindo. Além de ter pastado bastante nessa vida, eu continuo tendo problemas e boletos vencendo no final, começo e meio do mês. Se parece que eu não trabalho, vamos corrigir essa percepção: eu trabalho muito, com muitas coisas que nem sempre curto, e ainda arranjo tempo para trabalhar com coisas que não me remuneram, como é o caso desse blog.
Então, vixe, é uma idéia equivocada e idealizada de que a vida precisa ser incólume a problemas para poder se inspirar no dia-a-dia. As percepções são pessoais, é claro, mas creio que há uma escolha implícita no olhar. Se existe algo que eu fiz, que definiram os meus passos até onde estou hoje, foi abrir mão de um monte de idéias de o que é felicidade para sociedade, que geralmente estão atreladas a coisas, bens materiais e status. Abri mão, inclusive, da idéia de ser mãe. Uma decisão que me doeu por muito tempo, mas que foi essencial para eu estar, da forma como estou estou hoje. Se você pensa que essa vida aqui é feita só de flores, é porque não costumo fotografar e postar minha cara de c%, quando estou preocupada com os problemas mundanos da vida. Mas além de flores, tem também sacrifício, suor em nome do amor. Tem trabalho, tem estudo e muita dedicação. E graças a deus, tem tempos de bobeira, descanso de pausa e meditação também.
O outono definitivamente chegou aqui na Serra com seu ar mais gelado mesmo sob o sol. As cosmeas começando a florir, cor-de-rosa e magenta pelo mato verde. A velocidade do tempo parece se reduzir, e o silêncio pode ser ouvido como o canto dos pássaros. É como se segundos de felicidade fossem dissolvidos pelos minutos, como gotas de mel num chá de camomila e lavanda: a calmaria do outono vai entrando a cada gole e correndo pelas veias. O coração em batidas cada vez mais lentas; não há nada a fazer a não ser observar o tempo passar, com uma xícara quente nas mãos.
Quando vi essa receita no site da Joyce, sabia que iria fazer seus biscoitos, assim que o frio chegasse por aqui. Adoro suas receitas, e mais ainda suas idéias e pensamentos, que ela gentilmente compartilha em suas redes. Há uma adoração/dedicação tão bonita à confeitaria: sua precisão, técnica e conhecimentos infindáveis. Mas o que me toca é que ela também consegue transformar a confeitaria num lugar de sensibilidade, de leveza e muito humano. Dá até vontade de virar confeiteira, mas no meu caso, só daqui algumas vidas.
A receita é fácil, só adaptei o chocolate (só tinha 80% cacau aqui em casa) e fiz na batedeira, pois não tenho processador. Casou perfeitamente com o doce de leite caseiro que recém tinha preparado essa semana. A receita do doce de leite fica para outro dia.
Biscoitos de Café com Doce de Leite da Joyce
Receita original da Joyce Galvão. Estava aguardando os ventos gelados do outono chegar para experimentar esses biscoitos. Café, chocolate e doce de leite. Mimosos para acompanhar uma xícara de chá, e passar o dia olhando a janela.
Rendimento: 20-25 unidades
-
Tempo de Preparo:
Tipo de Prato: docinhos, chá da tarde
- 110g manteiga amolecida em temperatura ambiente
- 90g de açúcar mascavo
- 1 gema
- 70g chocolate 80% cacau
- 1 xícara de chá de farinha de trigo
- ¼ xícara de chá de 40g cacau
- 1 colher sopa de café moído bem fino
- doce de leite para comer com os biscoitos o quanto baste
- Derreta o chocolate em banho maria e reserve.
- Numa batederia, bata a manteiga e o açúcar até misturar.
- Adicione a gema e o chocolate derretido.
- Junte a farinha, o cacau em pó e o café e misture até formar uma massa homogênea.
- Envolva a massa em filme plástico e leve à geladeira por 30 minutos.
- Retire a massa da geladeira e faça bolinhas utilizando a medida de uma colher de chá disponde as bolinhas em uma assadeira (não é necessário untar) e pressione com o dedão, fazendo um buraquinho (onde você colocará depois o doce de leite)
- Leve ao forno preaquecido a 180° C por 12 minutos, retire e deixe os biscoitos esfriarem em uma grade.
- Adicione 1 colherada de doce de leite sobre os biscoitos

Bolo de Chocolate com farinha integral
Textura, umidade e sabor incríveis. A.k.a.: fofinho, molhadinho e chocolatudo.
Como boa taurina, gosto de coisas que perdurem. De cenários estáveis, de conforto e sossego. Da vida material, de beleza concreta. De chão e de cotidiano. Já o ascendente em aquário dá aquela esquizofrenia boa à minha vida, a cara de desapego, livre de compromissos, bem "vida leva eu". Dizem que o nosso sol astrológico é aquilo que a gente é em essência, e o ascendente traz aquilo que a gente tem como guia para evoluir, num resumo bem simplista.
Sinto que minha vida é bem regida pelos astros, que meu gostar já foi de muitos apegos, mas tem se conformado cada dia mais com a efemeridade das relações, e tudo bem também. Há muita beleza no abstrato e no etéreo. Por outro lado, o ser que vos escreve não é só evolução, magia e encanto. Há muita cabeça dura nessa mente taurina, daquelas que quando enfia algo na cabeça, só se convence quando vê ao vivo e a cores. Também há muita preguiça contida nesse ser, que só se mexe quando a água já passou das canelas. Não vamos nem começar a destrinchar a lua em escorpião e minhas neuras.
Engraçado que sempre acreditei em Astrologia, desde criança. As características, as previsões, os horóscopos, mesmo os de jornal, sempre fizeram sentido para mim. Comprei livros, estudei meu mapa astral e sempre adorei tudo relacionado ao assunto. Adoro o Quiroga, pensar que as estrelas nos regem e que somos parte do cosmos, me parece fascinante.
Bolo com farinha integral, para mim, sempre foi sinônimo de bolo sem gosto, seco e pesado. Daí que esse final de semana, a tpm chegou junto com a vontade de comer um bolo de chocolate. Abri a despensa e para minha tristeza, só tinha farinha integral. 😢
Pensei naquele bolo maravilhoso de chocolate sem farinha, mas eu só tinha uma caixa de cacau em pó no armário. A santa Internet às vezes ouve nossas preces, e na minha busca apareceu um milhão de receitas de bolo de cacau em pó com farinha integral. A que eu escolhi, jurava que passava no teste cego dos bolos de chocolate. Como boa taurina cabeça dura, não iria acreditar até provar pela minha própria boca.
E olha, tenho que dar meu braço a torcer: um dos melhores bolos de chocolate que já comi na vida. Textura, umidade e sabor impecáveis. A.k.a: fofinho, molhadinho e chocolatudo, como deve ser um bom bolo de chocolate. Obrigada, Wesley! A calda - que não é a mesma da receita original - fez toda diferença também; daquelas caldas que você pode até mergulhar uma couve-flor cru e comer que fica bom.
Bolo de Chcolate com farinha integral
Textura, umidade e sabor incríveis. Fofinho, molhadinho e chocolatudo. Com uma calda perfeita. Um dos melhores bolos de chocolate, e nem parece de farinha integral. A receita original é de Wesley Sarto do Blog "Receitas que Amo". A calda foi adaptação do que eu tinha na despensa.
Rendimento: 10 a 15 porções
-
Tempo de Preparo:
Tipo de Prato: bolo, chá da tarde
para o bolo
- 3 ovos
- 1/2 xícara óleo de milho
- 1 xícara de açúcar demerara
- 1/2 xícaras de açúcar mascavo
- 1 xícara de leite integral morno
- 2 xícaras de farinha integral
- 1/2 xícara de cacau em pó (usei 100% cacau)
- 1 colher de sopa de fermento em pó químico
para a calda
- 395g de leite condensado
- 70g de manteiga sem sal
- 1/3 xícara de cacau em pó
- 125ml de creme de leite (usei em lata sem o soro)
para o bolo
- Na batedeira, junte os ovos, o óleo e os açúcares e bata bem até que a mistura fique cremosa e clara, por uns 3 minutos em velocidade média.
- Adicione o leite e bata por mais 2 minutos.
- Peneire a farinha de trigo integral, o cacau em pó e o fermento.
- Diminua a velocidade da batedeira, adicione o secos e misture apenas até incorporar.
- Unte uma fôrma redonda com manteiga e cacau.
- Despeje a mistura na fôrma e leve para assar em fôrno pré-aquecido a 180C graus.
- Asse por uns 45 minutos, ou até que a massa esteja bem dourada.
- Desenforme morno e deixe esfriar numa grade.
para a calda
- Coloque o leite condensado, a manteiga e o cacau em pó numa panelinha.
- Leve ao fogo alto, misturando sempre com um fouet até começar a desgrudar do fundo.
- Desligue o fogo e adicione o creme de leite.
- Misture bem e deixe esfriar.
- Despeje sobre o bolo frio.

Broa de Fubá Cremosa
Uma receita original da Camila do Feito com Amor
Gosto de tomar um chá, acompanhado de um bolo, biscoito ou torrada com geléia, antes de dormir. Já virou vício. Dia desses, enquanto pensávamos no nosso lanche noturno, terminando um filme na cama, Gabriel comentou "estou há dias com vontade de comer bolo de fubá. Mas aquele cremoso, sabe?" . Não tive dúvidas, lembrei da receita que a Camila disponibilizou em seu blog, e eu ainda não tinha testado. Era essa receita que iria saciar nossas laricas. Usei o queijo meia-cura aqui da região. O bolo ficou na consistência perfeita, e foi nosso lanchinho da noite, num domingo desses chuvoso na Serra.
Se você ainda não conhece o blog da Camila, suas receitas e seus curso, te convido a conhecer. Além dela ser uma simpatia em pessoa, é uma professora querida, um talento de confeiteira e você vai amar o trabalho dela.
Link para acessar a receita completa da Broa de Fubá Cremosa.
Manjar de Coco com Calda de laranja-azeda
Da tradição ao improviso.
Há tempos não me animava a fotografar. Os equipamentos ali na mochila, o tripé no canto da sala. E eu desviava pelo outro lado do salão para não me dar de cara com eles. Às vezes arrastava a mochila de um lado para outro, como se fosse uma caixa de tralhas sem uso.
É incrível como a gente se convence de que a vida, para ser boa de verdade, tem que ter entusiasmo em tudo aquilo que se faz. Que fazer tudo com amor, signifique estar sempre disposto, disponível e à disposição, do que quer que seja. E a realidade é que minhas fibras são bem menos resistentes do que eu gostaria.
Eu flutuo em ciclos, eu oscilo em ondas, e eu nem sempre sou legal comigo. Ainda que eu esteja aprendendo aos 37 anos, como eu funciono e negociando constantemente comigo mesma. A vida solitária nas montanhas parece fácil. E é. Difícil é ter que conviver comigo mesma, às vezes.
Mas então, na sexta, a inspiração voltou. Como se do nada, um golpe me tomasse. Me animei a abrir a despensa e tirar os mantimentos das estantes. No sábado, foi dia de manjar. No domingo, de bolo de fubá. Terça-feira, pesto. Carreguei as baterias da câmera. Ajustei as lentes. Fiz um carinho nelas. Tive saudades. É através delas que meu mundo fica mais bonito.
Fiz um manjar de coco na sexta-feira à noite, para desenformar no sábado. Adoro manjar, detalhe: sem muito amido, mas numa consistência boa para desenformar firme e fazer bonito. A calda de damascos com água de laranjeira é boa, mas o sabor floral da versão libanesa me cansa um pouco. Meu coração é do tradicional português, com calda de ameixas secas, que tem gosto de festa de domingo na casa das tias.
Em casa, não tinha nem damascos, nem ameixas. Tinha uma jarra de doce de laranja-azeda do Gabriel. Um almibar delicioso, translúcido e âmbar, que escorreu feito joia líquida sobre a alvura do manjar de coco. A tradição ficou para outro dia. A gente pôde se deliciar com o sabor do improviso.
Manjar de Coco com Calda de laranja-azeda
Um manjar de coco com uma calda diferente e improvisada.
Rendimento: 10 - 15 porções
-
Tempo de Preparo:
Tipo de Prato: sobremesa
para o manjar
- 400ml de leite de coco
- 200ml de leite integral
- 1/3 de xícara de chá de açúcar cristal- 70g
- 6 colheres de sopa de maisena - 55g
- 1/2 xícara de chá de coco ralado - 50g
para a calda
- 1 laranja-azeda
- 2 xícaras de chá de açúcar cristal
para o manjar
- Dissolva a maisena no leite.
- Coloque numa panela o leite de coco, o leite com o amido dissolvido e o açúcar.
- Leve ao fogo baixo, misturando sempre, por uns 10-15 minutos.
- Quando começar a engrossar e ferver, apague o fogo e continue misturando sempre. Utilize um fouet, para não empelotar. O creme deve ficar numa consistência de mingau mole.
- Adicione o coco ralado e misture bem.
- Despeje numa forma untada com óleo e deixe esfriar.
- Leve à geladeira por umas 8 horas.
- Desenforme.
para a calda
- Tire a casca (mas preserve um pouco da parte branca), retire o excesso de pele dos gomos, e corte a laranja em pedaços grandes.
- Leve para cozinhar em fogo baixo, por cerca de uma hora, cuidando para a calda não queimar, e chegar numa consistência de calda.
- Deixe esfriar.
- Coar 1 xícara de chá da calda e leve à geladeira.
- Escorra sobre o manjar na hora de servir.

Salada Verde com Pêra e Romã
Para a realização acontecer.
Essa semana, ouvi emocionada o discurso ovacionado da Glenn Close, em sua premiação durante Globo de Ouro. Como li outro dia nas redes, estou digitando o teclado com os pés, porque as mãos ocupadas aplaudindo e enxugando lágrimas até agora (emoji risos). Ela falou sobre a importância de nós, como mulheres, nos sentirmos realizadas, não apenas pela função social - ter filhos ou um casamento bem sucedido - mas como profissionais, felizes, em nossas carreiras. Transformar um sonho em realidade, e permitir-se realizar-se através dele. É algo relativamente novo em nossa sociedade; essa possibilidade conquistada apesar da nossa condição de nascer sob o gênero feminino.
Até poucas gerações passadas isso não era possível. Minha mãe, por exemplo, dedicou boa parte da sua vida como dona de casa, abriu mão da continuidade de seus estudos, para se dedicar à família e seus três filhos. Minhas avós, então, nem falar. Quando eu penso na minha vida, vejo o tanto de oportunidades que tive, diferente delas. Mas apesar de ter terminado uma faculdade, ter seguido uma carreira e profissão por 10 anos, isso, durante muito tempo, não era o suficiente para mim. Havia uma cobrança social - e interna - sobre constituir uma família, ter um filho até os 30 para que a realização acontecesse. Como se a completude da mulher só pudesse vir através de ser mãe.
Já escrevi aqui sobre a tetralogia napolitana de Elena Ferrante, que fala justamente sobre o machismo social e a forma como ela se expressa em todas as formas violentas de usurpar e destituir a liberdade das mulheres. Nascer sob a condição feminina gera uma séries de limitações de escolhas ou de possibilidades para uma mulher, e isso era ainda mais gritante e pungente até algumas poucas décadas atrás.
Hoje, o mundo caminha para uma nova era (ainda que a passos de bebê) e espero que, em breve, a gente possa ser livre para escolher o tipo de realização, ou as realizações que almejamos em nossas vidas. E que a gente possa ter a oportunidade de seguir nossos sonhos e aquilo que faz realmente nosso coração vibrar, e ser capaz de lidar com qualquer percalço que elas possam reverberar, ou colher todas bençãos que elas possam trazer.
“Naquela ocasião, ao contrário, vi nitidamente as mães de família do bairro velho. (…) pareciam ter perdido os atributos femininos que nós, jovens, dávamos tanta importância e que púnhamos em evidência com a maquiagem. Tinham sido consumidas pelos corpos dos maridos, dos pais, dos irmãos, aos quais acabavam sempre se assemelhando, ou pelo cansaço ou pela chegada da velhice, pela doença. Quando essa transformação começava? Com o trabalho doméstico? Com as gestações? Com os espancamentos? Lila se deformaria como Nunzia? De seu rosto delicado despontaria Fernando, seu andar elegante se transmutaria nas passadas abertas, braços afastados do tronco, de Rino?”
- História do novo sobrenome, Elena Ferrante -
Nunca fui grande fã do verão: a suadeira, os mosquitos - o horário de verão! - sempre me deram a sensação de vida decadente, diluindo os ânimos pela transpiração. Agora aqui no meio das montanhas, os dias mais largos, a luz que ouro que banha a casa até quase 8 da noite, o céu que se transforma numa cúpula estrelada à noite, e os elaterídeos piscando na floresta, mudaram minha percepção dessa estação tão quente e tão tropical. O verde é abundante essa época, as dálias e as hortênsias começam a florescer. Viva o verão!
As refeições também são mais fáceis nessa época. Comemos muita fruta durante o dia todo, tomamos muito suco (e muita água). Um grelhado e uma boa salada verde, com folhas frescas da horta são o suficiente para a gente passar bem o dia. Você pode colocar outras folhas e outras frutas também - manga fica ótima! -, uns pedaços de queijo de cabra ou de búfala, para quem gosta.
Salada Verde com Pêra e Romã
Simples e perfeita para o verão. Para essa salada, você pode usar quais folhas verdes preferir, colocar frutas como manga ou figo. O acompanhamento ideal para grelhados.
Rendimento: 04 pratos
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Tempo de Preparo:
Tipo de Prato: acompanhamento, salada
para a salada
- 04 folhas grandes de couve
- 03 folhas grandes de almeirão
- agrião, rúcula e folhas de espinafre
- 1/4 de romã
- 70g de nozes pecãs
para o molho
- 02 colheres de sopa de azeite de oliva
- 01 colher de sopa de mostarda dijon
- 01 colher de sopa de vinagre balsâmico
- 01 colher de sopa de mel
- 01 colher de sopa de shoyu
para a salada
- Corte a couve bem fininha (tire o talo do meio se não gostar).
- Corte o almeirão em tiras mais grossas.
- Fatie as pêras em lâminas finas.
- Toste as nozes pecãs no forno, uns 5 minutos em forno médio.
- Disponha as folhas numa travessa, colocando as pêras fatias por cima. Salpique as semente de romãs e as nozes picadas por cima de tudo.
para o molho
- Coloque todos os ingredientes numa tigela e misture bem (com um mini fouet se tiver) até emulsificar.
- Sirva por cima da salada.

Pêssegos ao Vinho Rosé
Essa receita é de pêssegos em calda caseiros, feitos no vinho, tem a cara e o frescor do verão.
Passamos o Natal aqui em casa, no sítio, com pouca gente (minha irmã Débora e meu cunhado Léo), coisa bem simples, mas bem gostosa. O Gabriel assou um cordeiro na churrasqueira, fiz um ratatouille para Lucy que é vegetariana, tomamos muito vinho e umas caipirinhas de saquê com lichia, enquanto jogávamos uma partida de War. De sobremesa, sorvete de nata e de gianduia.
A gente estreou a sala, já que o sofá chegou a poucos dias, a casa ficou com uma cara de aconchego e pronta para receber visitas. A virada do ano também foi aqui em casa, passamos só eu e o Gabriel (e os cachorros), brindamos com vinho também, e fomos para a cama cedo, assistir um filme na tevê. Foi tudo bem normal, como tem sido nossa vida cotidiana aqui no sítio. A vida soa meio sem graça, se comparada aos grandes acontecimentos que a gente tinha antes de vir para cá.
Tem dias que dá mais preguiça que o usual, parecendo até desânimo de viver qualquer coisa que valha. Eu vivo para acordar e soltar os pintinhos (que já estão grandes), moer e passar meu café, tomar meu kefir, tirar as folhas secas das minhas flores, dar comida para os cachorros, pensar no almoço que é sempre quase janta. Responder e-mails e trabalhar no computador, dar uma volta pelo mato, se estiver calor, tomar um banho no rio, se estiver chovendo, ficar olhando as galinhas se aninharem debaixo dos arbustos. Essa é a minha rotina.
Agora, no verão, chove muito, quase todos os dias: aquela tempestade pesada, que vai e abre sol logo em seguida, para secar as poças que ficaram na varanda. A gente bebe vinho branco e rosé com muito gelo, dorme de janelas abertas para o vento gelado da Serra entrar, toma sol do lado da cachoeira e deita sobre as pedras quentes. Essa época do ano, geralmente eu estaria em Córdoba ou BsA, na Argentina, sofrendo com o calor de 40 graus à sombra, refletido nos asfaltos e concretos urbanos. Era um inferno, confesso, mas sinto saudades! Foram quase 8 anos passando as festas de final de ano por lá, hehehe.
Os planos para esse ano são muitos - como sempre - mas para o blog, pretendo publicar com mais freqüência. Esse lugar nutre meu coração e é sempre bom compartilhar receitas boas e estórias aqui da roça. Para quem sempre me pergunta, o curso de fotografia está começando a ser esboçado no papel, e quem sabe ele sai ainda no primeiro semestre (oremos!). Eu adoro finais de ano, mas tenho certa dificuldade com o início, para planejar e para começar a colocar o planejamento em prática. Ainda que é sempre gostoso sentir o frisson das possibilidades que um ano novo em folha traz. Mas a verdade é que me sinto cada dia mais como o poema de Mário Quintana. Continuo uma sonhadora nata, e adoro sonhar. Mas sei que muitos deles são ilusões e que cada dia me desprendo um pouco mais deles, deixando-os pelo caminho, sem sofrimento ou pesar.
E agora, com a casinha com um quarto de hóspedes pronto - e uma sala com sofá! - pretendo receber pessoas aqui em casa também. 2018, foi um bom ano de reclusão e de afastamento das relações externas, para me conectar mais comigo mesma. Mas é hora de recuperar os vínculos e laços de amizade e familiares, para viver uma vida mais conectada com as pessoas que amo também.
Essa receita é de pêssegos em calda caseiros, feitos no vinho, tem a cara e o frescor do verão. Usei rosé e branco, pois era o que tinha em casa. Utilizei os pêssegos aqui do sítio que ainda estão meio duros. Ficou uma delícia. O vinho praticamente evapora, e deixa uma cor maravilhosa. O perfume de baunilha inundou a casa, enquanto a calda borbulhava com as frutas na panela. É por esses momentos que pretendo viver 2019. Se fizer a receita, posta no instagram e me marca ou me conta por aqui como ficou!
Das ilusões
Meu saco de ilusões, bem cheio tive-o.
Com ele ia subindo a ladeira da vida.
E, no entretanto, após cada ilusão perdida...
Que extraordinária sensação de alívio!- Mario Quintana -
Pêssegos ao Vinho Rosé
Essa receita é de pêssegos em calda caseiros, feitos no vinho, tem a cara e o frescor do verão. O vinho praticamente evapora, e deixa uma cor maravilhosa. O perfume de baunilha inunda a casa, enquanto a calda borbulha com as frutas na panela.
Rendimento: 04 pratos
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Tempo de Preparo:
- 06 pêssegos firmes
- 01 xícara de vinho branco
- 1/2 xícara de vinho rosé (pode usar tudo branco ou tudo rosé, se preferir)
- 1/2 xícara de água
- 04 colheres de sopa de açúcar cristal
- 1/2 favo de baunilha (opcional, pode usar um pouco de extrato se não tiver o favo)
- raspas de limão
- folhas de erva cidreira
- Descasque os pêssegos e reserve. - *Caso utilize pêssegos bem maduros, para descascar sem desmanchá-los, você pode fazer o seguinte: ferva uma panela com água (o suficiente para mergulhar os pêssegos). Coloque os pêssegos e ferva por 30 segundos. Retire-os em seguida, e coloque-os em água gelada. Retire a pele com as mãos.
- Numa panela, coloque o vinho, água, açúcar, baunilha e as raspas de limão, e leve ao fogo até ferver. Misture para dissolver o açúcar.
- Acrescente os pêssegos um a um - cuidado para não se queimar com o líquido quente!
- Cozinhe em fogo baixo, por uns 30 minutos (se os pêssegos estiverem bem maduros, cozinhe por menos tempo), ou até que estejam macios, virando-os de vez em quando.
- Deixe esfriar e leve à geladeira por umas 2 horas.
- Sirva gelado, com um pouco de creme ou iogurte. Coloque uma folhas de cidreira para acompanhar se gostar.

Sopa de Mandioquinha
Dos deuses.
Foi depois de crescida que eu fui aprender a gostar de mandioquinha, porque de criança, o vapor e o aroma dela tomando a cozinha me tirava o apetite. Mas aqui na Serra, a gente come muito cordeiro assado, e o purê de mandioquinha com bastante noz-moscada é o acompanhamento ideal.
Numa noite dessas, eu estava naqueles dias: bem cansada, com cólica e meio enjoada. Queria um caldo, mas tudo que tinha na geladeira era um saco de batata baroa e meia cenoura. Então, meio a contragosto, resolvi fazer uma sopa com o que tinha, para esquentar o estômago e poder dormir. Da horta, sempre tem aipo. Do galinheiro, nunca falta ovo. Entre descascar os legumes até servir a sopa na mesa, foram 15 minutos contados no relógio. E, supreendentemente, o resultado final ficou dos deuses: um creme aveludado, com uma cor fantástica e um sabor incrivelmente sofisticado.
A receita é super simples - com certeza todo mundo tem uma receita de creme de mandioquinha em casa - mas essa aqui ficou bem especial. Tem cara de outono em plena primavera chuvosa. Tem consistência de amor: aquele que preenche e aquece por dentro.
Sopa de Mandioquinha
Rendimento: 02 porções
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Tempo de Preparo:
- 04 mandioquinhas
- 01 cenoura
- 01 talo de salsão pequeno
- 01 ovo
- 01 folha de louro
- sal e pimenta-do-reino moída na hora
- noz moscada ralada na hora
- azeite, queijo parmesão ralado e salsinha picada para servir
- Lave, descasque e corte as mandioquinhas e as cenouras em rodelas finas.
- Coloque na panela com a água filtrada até cobrir os legumes.
- Junte o talo de salsão, louro, sal, pimenta e noz moscada. Deixe cozinhar, com a tampa entreaberta, por cerca de 10 minutos ou até a mandioquinha ficar bem macia.
- Desligue o fogo e retire o salsão e a folha de louro.
- Bata os ingredientes com o mixer na própria panela até ficar liso - cuidado para que a sopa quente não espirre - ou bata no liquidificador.
- Numa tigela, bata o ovo com um garfo e jogue na sopa quente, misturando bem. Ele irá cozinhar com o calor da sopa e encorpar o creme.
- Sirva com um fio de azeite, queijo ralado e salsinha picada.

Talharim caseiro com molho de tomate com funghi
Dias de chuva.
Tem chovido todos os dias aqui na Serra, faz umas três semanas. Noé já teria construído sua barca e fugido daqui. Dias de lama, muitas nuvens e pouco Sol. Dá pouca vontade de sair de casa e eu me pego horas na janela, vendo a tempestade molhar, sem trégua, fazendo cascata pelo telhado. Apesar de gostar do barulho da chuva, não gosto de dias frios e úmidos - me dá preguiça além do usual, e eu tenho que fazer um esforço para seguir a vida. A sensação que eu tenho, é que o tempo fica numa pausa indefinida, enquanto goteja lá fora; ou a gente fica em espera, contendo a ansiedade, ou a gente sai por aí, com grandes chances de atolar no barro.
Viver no mato é adaptar-se às forças da natureza: bruta, absoluta e instável. É manter os humores em baias e rédeas, apesar dela; é não sucumbir às suas variações, aos céus nublados, às tempestades perenes. É aceitar que tudo é cíclico, nada é para sempre, e poucas coisas estão, realmente, sob nosso controle. Minha vida mudou muito nesses onze meses, para além da troca de cenário: a rotina, as atividades, os tempos, meu contato comigo mesma, minha relação com o mundo. É desafiador, de uma estranheza tremenda, mas, ao mesmo tempo, uma verdade e crueza que jamais havia vivido antes. Eu sinto como se meus sentimentos estivessem todos os dias à flor da pele, e ao mesmo tempo, como se uma camada de casca grossa estivesse sendo sedimentada sobre mim.
Há uma reverência crescente que desenvolvo todos os dias por esse lugar. Mas há, em paralelo, a minha capacidade de tornar banal o cotidiano, de querer passar batido, de não se maravilhar ou de me esquecer do que estou a fazer aqui. É preciso manter o compromisso todos os dias, de lembrar e relembrar, das promessas, das bençãos de viver sobre as montanhas.
Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...
Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...
Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...
- Fernando Pessoa -
Essa receita é antiga, as fotos não são de agora, mas de alguns meses atrás. Ficou nos meus arquivos, decidi resgatar e publicar por aqui. Espero que gostem.
Talharim Caseiro com Molho de Tomate com Funghi
Massa caseira e molho de tomate: nada pode ser mais reconfortante que um prato de talharim.
Rendimento: 2-3 pratos
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Tempo de Preparo:
Tipo de Prato: massa, talharim
para a massa
- 250g de farinha
- 2 ovos grandes
- 2 colheres de água gelada (caso precise para dar ponto na massa)
- pitada de sal
para o molho
- 1/4 xícara de azeite de oliva
- 1 cebola roxa média
- 3 tomates grandes maduros
- 70g de funghi
- 1/2 xícara de vinho tinto
- 2 colheres de sopa de açúcar
- pitada de sal
- orégano
- pimenta do reino
- queijo parmesão ralado para polvilhar
para a massa
- Num bowl, ou numa bancada, faça uma montanha de farinha com um buraco no meio e quebre os ovos lá.
- Misture com as mãos, amassando bem, adicione o sal e sove por uns 10, 15 minutos. - Eu sovo por 5, depois coloco na batedeira com gancho para massas pesadas.
- Forme uma bola, cubra com plástico filme e guarde por uns 30 minutos na geladeira.
- Corte a massa em pedaços e amasse. Polvilhe farinha na massa a ser trabalhada, e passe pela máquina no nível zero (ou o primeiro nível). Depois de passar, dobre ao meio e passe de novo. Repita esse processo por umas cinco vezes.
- Vá aumentando (ou diminuindo) o grau da espessura (cada vez mais fino), para abrir a massa, até chegar ao 8 ou 9. - Se você não tem máquina, acredito que dê para abrir no rolo também, mas deve ser bem trabalhoso e exigir um pouco mais de habilidade.
- Depois de abrir uma tira retangular de massa, passe no cortador de talharim. Coloque a massa polvilhada com farinha para secar.
- Ferva uma panela de água para cozinhar o macarrão, com uma colher de sopa de azeite e sal.
- Quando ferver, coloque o macarrão e cozinhe por uns 3 minutos - a massa fresca fica pronta bem rápido, talvez antes disso.
- Escorra bem - eu costumo jogar um pouco de água fria para interromper o cozimento da massa.
para o molho
- Coloque o funghi numa tigela e acrescente água fervente até cobri-lo por inteiro (e mais um pouco), e deixe de molho por uns 30 minutos até que fique hidratado.
- Corte em pedaços grandes.
- Pique bem uma cebola e refogue-a numa frigideira com o azeite de oliva.
- Quando a cebola estiver dourada, adicione os tomates picados e o açúcar e cozinhe por mais uns 5 minutos.
- Junte o funghi, o vinho tinto e os temperos e refogue por mais uns 3 minutos.
- Sirva o molho sobre o talharim e polvilhe queijo parmesão ralado.

Cinnamon Rolls
Os quereres de uma pessoa.
Últimos quinze dias de inverno e eu arrisco dizer que passamos fácil o frio da serra. Muita lenha no fogo, meias de lã, e de xícara quente nas mãos. Com o início de setembro, o sol volta a lamber quente o rosto - deu para tomar banho gelado no rio e deitar sobre as pedras mornas. Os brotos das dálias brancas já estão saindo da terra. Minha roseira deu o primeiro botão. Uma nova ninhada de pintinhos nasceu essa semana.
O mês de agosto é daqueles meses que a minha fina superstição pede para ficar quieta, sem muito alarde, nem grandes decisões. E foi assim que eu passei: cozinhando dentro do meu 7x7; teve biscoito de massa folhada, cinnamon rolls ou pãezinhos enrolados de canela, lasanha "à bolonhesa" caseira, risoto com o parmesão aqui da região, e cozido com carne de segunda na pressão. Ou então, trabalhando dentro de casa, em frente ao computador, ao lado da lareira. Já são quase nove meses de gestação da vida aqui no alto das montanhas, e a gente se molda todos os dias um pouquinho do cotidiano na roça, feito barro nas mãos de uma ceramista.
Tem gente que gosta do urbano, das linhas feitas de concreto, de viver a cultura que brota nas cidades grandes. Tem gente que gosta do mar, da água salgada ardida sobre a pele, areia nos chinelos e nos cabelos, dos coqueiros, e da brisa quente litorânea. Há gente como eu, que gosta do cerrado, de olhar para as montanhas, do isolamento de viver no mato. Tem gente ainda, que adora viver tudo isso, de momento em momento, com o pé na estrada, coração nômade, passaporte na mão e mochila nas costas. Há tantos diferentes quereres e não sei se eles definem uma pessoa, mas eu acredito que, se não definem, eles dizem onde nosso coração bate mais feliz. E acho que só isso já é uma boa definição sobre uma pessoa.
Meus quereres, por exemplo, de tão simples, chega a dar um pouco de vergonha, da falta de ambição que uma pessoa pode ter. Uma caixa de papelão cheia de pintinhos. Esperar o pão descansar e crescer, para então poder assar. Moer o grão do café antes de passar. Regar os bulbos das dálias, na esperança que amanhã apareça uma folha sobre a terra úmida. Ou passar nos correios, abrir a caixa postal, imaginando que a encomenda com a fôrma nova importada esteja ali depositada. Desses quereres, dá para saber, por exemplo, que meu apreço é por ficar na rotina da minha casa, esperando pelas coisas boas da vida acontecerem.
Eu nunca tinha feito cinnamon rolls antes. Procurei por várias receitas até escolher qual queria experimentar. Acabei misturando receitas diferentes, sem aquela calda escorrida, mas um pãozinho fofinho, com bastante recheio de canela e noz moscada. Enquanto assava, o cheiro doce ia tomando a casa toda, e a gente esperou salivando até sair do forno. Sentamos na mesa e acompanhamos com uma xícara de earl grey.
E para não dizer que fiz pouca coisa, vi The Staircase em 2 dias e terminei com um nó na garganta, tendo certeza de que Michael P. é inocente. Vi e recomendo o filme dinamarquês A Comunidade, simples, sincero e divertidíssimo. E comecei a 4a temporada de Better Call Saul, um dos meus seriados prediletos.
Cinnamon Rolls | Pãezinhos Enrolados de Canela
Um pãozinho fofinho, com bastante recheio de canela e noz moscada. Enquanto assa, o cheiro doce toma a casa toda, e a gente espera salivando até sair do forno. Acompanhe com um chá de earl grey.
Rendimento: 10 a 12 porções
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Tempo de Preparo:
Tipo de Prato: pão, chá da tarde
para a massa
- 75g de manteiga amolecida
- 70g de açúcar granulado
- 250ml de leite
- 10g de fermento biológico seco
- 430g de farinha de trigo
- 1/4 de colher de chá de noz-moscada ralada
- 1/2 colher de chá de extrato de baunilha
- 1/4 de colher chá de sal
- 1 ovo para pincelar
para o recheio
- 3 colheres de sopa de manteiga amolecida, tem temperatura ambiente
- 1/4 de xícara de açúcar mascavo + 2 colheres de sopa
- 1/4 de colher de chá de noz-moscada ralada
- 1/2 colher de sopa de canela
para a massa
- Esquente o leite até amornar (uns 37 C graus) e adicione o fermento biológico seco, e deixe por alguns minutos.
- Adicione o açúcar, manteiga e farinha e misture com as mãos até que a mistura torne se homogênea, desgrudando das mãos. - Se preferir, utilize a batedeira, com o batedor gancho, e sove a massa até que ela esteja bem lisinha e macia.
- Junte o sal, a noz moscada e o extrato de baunilha.
- Amasse mais um pouco, faça uma bola e cubra com um pano limpo.
- Deixe a massa descansando por 1 hora. Se estiver muito frio, você pode colocar dentro do forno (aquecê-lo antes por alguns minutos) e deixar a massa dentro dele desligado.
para o recheio
- Misture todos os ingredientes do recheio numa tigela.
- Abra a massa numa superfície lisa com farinha.
- Faça um retângulo e deixe a massa com aproximadamente 0,5cm de altura.
- Espalhe o recheio sobre a massa com uma colher ou um pincel.
- Enrole delicadamente, como um rocambole.
- Corte rodelas de aproximadamente 7cm, com uma faca bem afiada.
- Disponha lado a lado os rolinhos sobre uma assadeira redonda, com papel manteiga.
- Cubra com um pano e deixe descansar e crescer por uns 40 minutos.
- Pincele um ovo batido e polvilhe açúcar.
- Leve para assar por uns 25-30 minutos, ou até que estejam assados e dourados.
