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Challah

Receita original de Gória Huk.

Os dias vão passando aqui na roça, lentamente. Ainda que cada dia é um tanto de afazeres de não acabar mais, desde cuidar da horta, das minhas plantinhas e, agora, do galinheiro. Manter a casa habitável também é mais um tanto de tarefas e diversas, que requerem bons braços e par de pernas: um enche balde e torce pano, esfrega chão e limpa vidros, tira pó e organiza as coisas em seu devido lugar. A casa não é grande, como gosta de dizer meu marido, um sete por sete, que cabe exatamente nossa vidinha simples. Mas vida no barro, significa muita terra para dentro de casa. 

challah

Eu posso dizer que os dias são densos, mas uma densidade líquida, sem pressão. Dentro do nosso próprio tempo, em recortes orgânicos. Tem também que os tempos são espaçados, entre a nuvem que sobe a Serra e a chuva que cai no meio da tarde. A densidade é fluida, feito a seiva que corre vida pela mata, no ritmo de uma inspiração lenta e profunda, que preenche os pulmões para depois relaxar e despejar o ar quente pelas narinas. Como uma garrafa flutuando pelo infinito do oceano, balançando pelas águas, subindo e descendo, em direção à praia. É a vida das borboletas, que voam por um dia, a dançar pelo vento, felizes pelo calor do sol sobre suas asas de papel de seda.

Só tem que a gente não tem as mordomias de cidade grande, como pedir um delivery quando dá fome, ou a padaria na esquina de casa. E, eu nunca tinha vivido antes essa experiência, de ter que cozinhar todos os dias. Quando eu morava em São Paulo, gostava muito de cozinhar também, mas gostava de tomar o café da manhã no boteco ao lado de casa, comer um p.f. de vez em quando também, e às vezes passar em algum dos nossos restaurantes prediletos para jantar. Ou seja, ter que preparar o café da manhã, cozinhar o almoço e a janta TODOS OS DIAS, é uma experiência completamente nova para mim. E eu tenho que dizer que ESTOU AMANDO e me sentindo realmente uma dona de casa realizada, por mais ridículo que isso possa soar.

Mas é também um desafio, desses de dar vontade de comer um pão, e ter preguiça de percorrer 20 quilômetros até a cidade para comprar e matar a vontade. E não saber fazer pão. Então, eu vi uma postagem da rainha dos pães (e outros quitutes de vó, como já falei aqui uma vez), Goria Huk, e a foto de seu challah maravilhoso. Eu decidi que era meu dia de debutar e aprender a fazer um pão sozinha. O resultado você confere nas fotos a seguir. Quer dizer, essas fotos são da segunda tentativa de fazer o pão, que é bem fácil, por sinal. Abafa o caso das trocas de ingredientes que fiz na primeira vez, por não querer descer até a cidade para comprar o que faltava. 😅 

challah
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challah
challah
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challah
challah

Challah

Uma perfeição em formato de pão. Receita original da rainha dos pães, Goria Huk.

  • Rendimento: 1 pão de 280g

  • Tempo de Preparo:

  • Tipo de Prato: pão

Ingredientes
  • 250g de farinha de trigo
  • 1 colher de sopa de fermento biológico seco (1 pacote de 10g)
  • 1 ovo
  • 2 gemas
  • 1 colher de sopa de açúcar mascavo
  • 20ml de óleo de girassol
  • 80ml de água morna
  • 3/4 colher de chá de sal
  • 2 colheres de chá de mel
  • 1 colheres de chá de azeite de oliva
  • gergelim para polvilhar

Modo de Preparo
  1. Dissolva o fermento fresco com o açúcar na água morna, 1 ovo inteiro, mais 1 gema, o óleo de girassol e mexa.
  2. Adicione a farinha e o sal.
  3. Com um gancho tipo raquete, bata o suficiente para formar uma massa (ainda bem pegajosa).
  4. Tire o batedor, cubra a tigela com um pano e deixe descansar 10 minutos.
  5. Coloque um batedor tipo gancho e bata por mais 10 minutos.
  6. Retire a massa e em uma superfície com farinha, finalize a sova dobrando a massa algumas vezes.
  7. Forme uma bola, cubra e deixe crescer até dobrar de volume.
  8. Divida a massa em 4 partes iguais e modele cordões - veja passo a passo no post da Gória.
  9. Depois de trançar e montar na fôrma, deixe crescendo por mais 30 minutos.
  10. Aqueça o forno a 250° C.
  11. Misture com um garfo, num recipiente pequeno, 1 gema com o mel e o azeite.
  12. Com um pincel, passe a mistura sobre o pão.
  13. Polvilhe gergelim.
  14. Coloque o no forno, diminua para 220° e asse até dourar bem.
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Brigadeiro de colher com Geléia de Amora

E meu amor pelo Bhagwan.

Não costumo comemorar a Páscoa. Quando criança, ganhava ovos de chocolate, é claro, e minha mãe fazia bacalhoada no domingo. Mas nunca houve um sentido religioso ou espiritual dentro de mim relacionada a esta data. Não sou católica, nem cristã, não sigo nenhuma religião. Tenho uma busca espiritual constante em minha vida, desde que me conheço por gente. Rezo, medito todos os dias, pratico yoga sempre que consigo. E tenho um mestre indiano, o Bhagwan Shree Rajneesh, ou Osho, que já partiu. Meu amor por ele, vem pelo amor que meu companheiro, discípulo há mais de 30 anos, tem por ele. Eu nunca li muito dos seus livros, transcrições de seus satsangs. Mas eu adorava seu sorriso e seu silêncio em seus discursos. Ele dizia que seus sannyasins eram os mais alegres, festeiros e criativos desse mundo. E ele estava certo. A gente está sempre em celebração.

Estou escrevendo isso, 3 semanas após ter assistido ao documentário-série do Netflix, Wild Wild Country, de uma tacada só, 6 episódios seguidos. Eu não conhecia a história da comunidade em Oregon. Sabia que fora polêmica e que a coisa tinha ficado feia no final. O seriado mostra pouco do Osho em si; o foco ficou na história do rancho e a briga com os caipiras. Me emocionei demais com a construção daquele lugar fabuloso. Da beleza das pessoas e do amor delas pelo mestre. Mas fiquei triste e mexida de uma maneira ruim, com as cagadas (não consigo pensar em outra palavra) da Sheela e sua panelinha, do ódio e preconceito do entorno, e de como tiveram a capacidade de rotular o amor livre em terrorismo.

O que eu posso dizer de tudo isso? Hoje, a gente tem mais tecnologia, informações e conhecimento disponíveis para quem quiser procurar, livros do Osho em prateleiras de todas livrarias. Mas o mundo continua conservador, chato e intolerante como nunca, por conta do medo e da ignorância. É difícil acreditar que isso um dia irá mudar. Enfim, meu coração ficou na mão, mas eu continuo buscando meu caminho. Meu amor pelo Osho e minha gratidão pela sua vida, coragem e entrega são ainda maiores depois de tudo isso, depois de ter assistido ao documentário completo. E acho que os "vermelhinhos" irão concordar comigo. 


Antes que algum hater de plantão comece a destilar seu veneno por aqui, quero deixar claro que não concordo com tudo que Osho dizia. Diferente de qualquer outro mestre, ele não pregava ou doutrinava em seus discursos. Muito pelo contrário, ele te convidava a duvidar de tudo que dizia, e descobrir a verdade através de sua própria experiência. Às vezes contradizia seus próprios discursos, propositalmente. Era um mestre muito singular.


"Eu gostaria que meus sannyasins vivessem a vida em sua totalidade, mas com uma condição absoluta, uma condição categórica: e essa condição é consciência e meditação.
Primeiro, vá fundo na meditação, de modo que você possa limpar a sua inconsciência de todas as sementes venenosas, de modo que nada exista para ser corrompido e nada exista dentro de você cujo poder possa trazê-lo para fora.
Então, a partir de então, faça tudo o que tiver vontade de fazer."

- Osho -


Fiz esses brigadeiros de colher, para comer de sobremesa nessa Páscoa. A receita é da rainha das doçuras, Franciele do blog Flamboesa. Suas produções parecem ter saído de Alice no País das Maravilhas, suas fotografias são cheias de carinho, coloridas em tons pastéis. Adoro.

Montei no copinho, com uma colher de geléia de amora, outra do brigadeiro, e polvilhei coco ralado com cacau em pó por cima de tudo. Ficou uma delícia. Feliz Páscoa!


brigadeiro
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Brigadeiro de colher com Geléia de Amora

Um mimo, receita original da Franciele do Flamboesa

  • Rendimento: cerca de 8 copinhos

  • Tempo de Preparo:

  • Tipo de Prato: docinho

Ingredientes
  • 395g de leite condensado (1 lata)
  • 1 colher de sopa de manteiga
  • 2 colheres de sopa de cacau em pó
  • 1 pitada de sal
  • 8 colheres de sopa de geléia de amora
  • coco ralado e cacau em pó para decorar

Modo de Preparo
  1. Coloque o leite condensado, o cacau em pó peneirado, a manteiga e o sal em uma panelinha, misture e leve para cozinhar em fogo baixo.
  2. Mexa sempre, até cozinhar e desprender do fundo da panela, e chegar ao ponto de brigadeiro de enrolar.
  3. Adicione o creme de leite, misture bem e desligue o fogo.
  4. Coloque em uma tigela e cubra com filme plástico, em contato com o doce, para não criar crosta e espere esfriar totalmente antes de usar.
  5. Em copinhos de shot, coloque uma colher de geléia, preencha o restante com o brigadeiro.
  6. Polvilhe coco ralado e cacau em pó para decorar.
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Bolo de Cenoura com Calda de Chocolate

Sem muitas novidades.

Dizem que títulos tem que ser chamativos o suficiente para te fazerem ter vontade de ler o restante da postagem, matéria ou reportagem. Mesmo que ela pouco tenha a ver com o assunto a ser discutido e desmembrado, não importa; impactar e chamar a atenção de um maior número de pessoas é o que vai fazer valer o todo.

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Decidi fazer então o contrário, escancarar de cara que a criatividade aqui anda rara, escassa, coisa pouca. Que às vezes nem dá vontade de escrever, e a sensação é de estar inventando assunto para poder escrever algo que, na verdade, não valha. As novidades são velhas, visto a velocidade a que anda nosso mundo, telas e teclados, vidas virtuais, assuntos bombásticos a serem discutidos a enjoar em postagens polêmicas, quando muito por uma semana inteira, para virar assunto velho, página virada e coisa sem valor. 

Minha novidade já tem mais de mês, tem se repetido e rendido quantidade muita de postagens, e já não atrai nenhum olhar curioso, nem surpreende os desavisados, da vida "nova" que venho levando aqui na Serra, no meio do mato. Das tardes bucólicas, doídas de bonitas, do céu estrelado à noite, da cachoeira cheia de água, que corre ruidosa por trás da casa, são assunto passado, repassado e já não fazem os olhos de quem vê e visita esse blog.

Então, não tenho muito o que contar, além do já contado várias vezes antes. De que a vida na roça anda lenta, a passos espaçados, e quase não dá vontade de fazer nada que faça a gente sair da rotina orgânica do mato. A gente no máximo assa um bolo no final da tarde, adapta algumas receitas por conta da disponibilidade de ingredientes locais, e quanto eu digo locais quero dizer minha casa, que é a localidade, e pela falta de vizinhança, acabamos sendo os únicos locais, num raio de quilômetros de distância. Melado de cana, banha ou a nata do leite de vaca tirado no bairro vizinho. Ingredientes de pouco refino, mas muita sustância.

Do pouco contar, acabou rendendo várias linhas e meia dúzia de parágrafos, e assim a gente termina esse papeado besta, sem sentido, sem rumo, e sem assunto.


E o bolo da tarde desse domingo foi o de cenoura, aquele feito no liquidificador, com bastante calda de chocolate. Porque era assim que a gente comia quando criança, mais cobertura que bolo, mas que se comer só a cobertura também não tinha graça, vai entender. O bolo ficou bom demais e, de tão fácil, não tem quem não consiga fazer, para depois receber elogios, no fim da tarde, com chá quente ou café recém coado. A receita não poderia ser de outra, senão da rainha dos bolos, a maga Camila Dutra

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Bolo de Cenoura com Calda de Chocolate

Receita clássica e original da Camila Dutra do Feitocom.Amor

  • Rendimento: 10-15 porções

  • Tempo de Preparo:

  • Tipo de Prato: bolo, chá da tarde

Ingredientes

para a massa

  • 03 ovos
  • 3/4 xícara de óleo
  • 03 cenouras raladas
  • 1 e 1/2 xícara de chá de açúcar
  • 02 xícaras de chá de farinha de trigo
  • 01 colher de sopa de fermento em pó
  • 1/4 de colher de chá de sal

para a cobertura

  • 100g de chocolate meio amargo
  • 60g de creme de leite fresco

Modo de Preparo

para a massa

  1. Peneire os ingredientes secos: farinha de trigo, fermento e sal. Reserve.
  2. No liquidificador bata os ovos, o óleo, a cenoura ralada e o açúcar.
  3. Vire a mistura na vasilha dos ingredientes secos e, com a ajuda de um batedor de arame (fouet), incorpore bem.
  4. Verta a massa numa fôrma untada. Eu utilizei uma retângular.
  5. Leve ao forno pré-aquecido a 180C graus e asse por uma hora, ou até dourar. Desenforme e deixe esfriar.
  6. **Dica da Camila: Na forma de furo no meio o bolo assa em aproximadamente 30 minutos contra os 60 minutos da forma redonda ou retângular. Leve isso em consideração caso queira um bolo mais rápido.

para a cobertura

  1. Ferva o creme de leite e vire sobre o chocolate em gotas ou picado.
  2. Espere uns 5 minutinhos e mexa delicadamente.
  3. Vire sobre o bolo e distribua a cobertura uniformemente.
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Mini Abóboras recheadas com Couve, Nozes e Parmesão

O que faz o seu coração vibrar?

Aquilo que faz o seu coração vibrar. O que chama pela sua alma todos os dias, quando você coloca sua cabeça no travesseiro, antes de dormir, nas tuas orações? O que você faria se não tivesse preocupações diárias e mundanas? De tempos em tempos, essas perguntas me trazem um misto de entusiasmo e frio na espinha. Dá medo de olhar diretamente e descobrir que não tenho nenhuma das respostas que eu deveria ter. Pavor de pensar que talvez eu nunca as responda com certeza. 

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Não fomos treinados para escutar o coração. "Aprender a ouvir nossa intuição" ou "ir atrás dos nossos sonhos" são jargões piegas e coisa de lunático. E a vida é aquilo que a gente vive todos os dias, da rotina, dos problemas, da matéria e do concreto. Pensar nessas questões é perda de tempo, não vale a pena e, afinal, você nunca chegará numa resposta que valha mesmo. Essa resignação chega desde cedo e se instala por dentro. A gente aprende a viver dessa maneira, conviver com o nunca saber de verdade. Mas dessa inquietação eu vivo, há algum tempo, buscando linha para tecer. É algo que transcende a materialidade do explicável; que transborda o visto e palpável. Uma jornada sem trilha e sem mapa, às vezes, sem destino.

Com o tempo, posso dizer, porém, que encontrei algumas coisas que são capazes de aquietar minha mente, e me tiram da dúvida, dessa que não tem começo e nem termina. Uma delas, e talvez a primeira e primordial, é agradecer. Algo simples, mas capaz de movimentar os lodos mais densos. O sentimento de gratidão, quando nasce genuíno e expande inocente, pode curar as mágoas mais profundas, transformar perspectivas, colocar por outro ângulo, o que era antes inflexível. Eu achava que o perdão era o sentimento que antecipava a gratidão, e que sem o primeiro não era possível passar para segundo. Até que aprendi que a ordem é contrária, que às vezes, o perdão nunca vem, a gente pode se cansar de tentar abrir mão, e morrer sem conseguir. A gratidão é capaz de colocar um pequeno sorriso em tudo, cobrir como uma tela fina de alegria - como uma capa mágica que transforma em invisível - sobre as memórias mais tristes e rancorosas da vida, e sobre os arrependimentos mais difíceis de se lidar. Ela é capaz de fazer florir um lótus.

A segunda delas, das coisas que aquietam minha mente e me ajudam a estar nesse mundo, mais calma e mais lúcida, é a organização. Eu não sou uma pessoa disciplinada, nem ordenada. Gostaria de ser e isso sempre foi um grande desafio para mim. Mas eu tenho aprendido que organizar minhas coisas, minha casa, minhas finanças, minhas planilhas, minha agenda, meus arquivos, me ajudam a aclarar idéias. Organizar o externo, me ajuda ordenar e construir o chão e permite que minha criatividade possa fluir (e não apenas viver no caos da sua natureza). Os sonhos ficam mais lúcidos, a vida mais limpa e o futuro parece mais fácil de se planejar. A ordem não é um fim em si, mas uma ferramenta amiga que ajuda a viver melhor.

A terceira, são as coisas desse blog: cozinhar, produzir, fotografar, editar, escrever. Quando produzo uma postagem, receita e cenário, eu tenho as respostas do primeiro parágrafo na minha frente. Ao menos, pelos momentos em que estou em atividade, não há dúvidas. Sinto meu coração preenchido e minha alma feliz. E o que tem acontecido de bacana, ao longo desses anos compartilhando receitas e histórias por aqui, é que aos poucos, tenho recebido retorno da comunidade em torno do blog, nas minhas postagens. Há um diálogo em curso. Recebo mensagens carinhosas de uma audiência tímida, amigável, e que entende minha linguagem. Então, eu te pergunto: o que faz o seu coração vibrar?


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. (...)

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.

- Fernando Pessoa, Tabacaria.


Foram 12 dias seguidos, vivendo na casinha das montanhas. Foi o tempo mais longo que a gente conseguiu ficar lá até agora (que eu me recorde), e eu já me sinto oficialmente mudada. Rotina de dona de casa, limpar, cozinhar e arrumar. Todo dia é sempre igual, mas incrivelmente, é sempre diferente.


Mini abóboras, couve, almeirão.
Nozes, manteiga e parmesão.
Pimenta, sálvia e limão.

Com uma rima boba, eu apresento um prato simples, mas muito saboroso. Vegetariano e gracioso: pode ser servido de entrada num jantar bacana, ou numa refeição para quando não se tem muita fome. 

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Mini Abóboras recheadas com Couve, Nozes e Parmesão

Um prato simples, mas muito saboroso, que pode ser servido de entrada num jantar bacana, ou numa refeição para quando não se tem tanta fome.

  • Rendimento: 04 pratos

  • Tempo de Preparo:

  • Tipo de Prato: acompanhamento, entrada

Ingredientes
  • 4 mini abóboras
  • 5 folhas médias de couve manteiga
  • 3 folhas de almeirão grandes
  • 1 dente de alho
  • 1 limão siciliano (raspas e suco)
  • 250g de queijo tipo parmesão ralado
  • 2 fatias de pão de forma torrados (pode usar o pão francês, só se atente ã quantidade)
  • punhado de nozes picadas
  • 8 colheres de chá de manteiga
  • folhas de sálvia
  • pimenta calabresa seca
  • sal, pimenta e azeite

Modo de Preparo
  1. Lave as abóboras e corte uma "tampa" com ajuda de uma faca pequena.
  2. Retire as sementes. Pincele com azeite e sal por fora e dentro.
  3. Coloque umas folhas de sálvia por dentro.  
  4. Leve para assar em forno pré-aquecido, a 180C graus, por uns 15-20 minutos, até que as abóboras fiquem tenras (mas não muito!).
  5. Corte a couve manteiga e o almeirão bem fininhos.
  6. Numa frigideira, em fogo médio algo, coloque azeite e refogue o alho.
  7. Junte as folhas de couve e almeirão, apenas até que murchem um pouco (uns 3 minutos).
  8. Apague o fogo e junte as fatias de pão picadas, o queijo ralado, as nozes, as raspas e o suco de limão, sal, pimentas e folhas de sálvia, e misture tudo.
  9. Recheie as abóboras, apertando com uma colher para ficarem bem cheias.
  10. Complete com 2 colheres de chá de manteiga para cada abóbora e algumas folhas de sálvia.
  11. Feche as abóboras, e leve para assar em forno pré-aquecido e asse por mais uns 15-20 minutos, até que as abóboras estejam bem macias.
  12. Sirva quente ou mornas.
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Pêras ao Vinho

A luz perfeita.

A luz perfeita caiu sobre a tarde de ontem, entrando pela janela. Abri meia persiana, e deixei ela entrar pelas frestas, iluminando parte da sala. Arrastei a mesa da cozinha para lá e, de repente, consegui montar o cenário que eu sempre quis para a produção das minhas fotos. Tinha colhido algumas dálias, bem vermelhas, para um arranjo no vaso cor-de-rosa degradê novo. Na beira da mesa, olhando a janela, elas ficaram lá. 

Ontem à noite, deitada na cama, fiquei pensando sobre as escolhas que fiz até aqui. Algumas ainda não sei se fiz certo, nem sei se algum dia vou saber. Só sei que elas me trouxeram até essa vida, de rotina incomum, um relacionamento pouco convencional, numa casa isolada nas montanhas. Com um rio que corre ruidoso, em volta da casa. Com um jardim cheio de pereiras carregadas de frutos. Ontem as pêras viraram protagonistas de um cenário que eu sempre sonhei. 

pera ao vinho

Eu adoro pêras, de todos os jeitos. Elas têm na sua textura um aspecto arenoso, frescor e acidez na medida. A árvore, quando antiga, tem troncos largos. Na primavera, ela se carrega de flores brancas, pequenas e delicadas. As pêras aqui do sítio são mais firmes e pouco doces. Para cozinhar, ela é perfeita. Por isso, decidi cozinhá-las numa calda com vinho e especiarias, e servir com o iogurte caseiro que tinha feito no dia anterior. Elas ficaram deliciosas, e se tornaram minha sobremesa ideal para o verão: fácil e sofisticada.

Você não terá dificuldades com essa receita. Pode acrescentar diferentes especiarias como o cravo, ou a canela em pau. Acredito que com pimentas ou gengibre, também deva ficar bom. Eu usei anis, cardamomo e folhas de louro. Gosto de pensar que a cozinha é livre para para a gente fazer dela o que bem gostar. Ano passado a Manu, do Cozinho Logo Existo escreveu em seu post "Como escrever uma receita", que, para escrever ou mudar uma receita, o que ela requer da gente é coragem. E eu não poderia concordar mais.

Eu nunca meço a quantidade exata de sal, pimenta, orégano, cebola, alho ou qualquer outro tempero numa receita. Vai no olho, e nas provas de colher, enquanto se cozinha. E, invariavelmente, tem dias que fica melhor, tem dias que não. Acho de aplaudir de pé as receitas da Rita Lobo, que foram testadas e mensuradas, para que você consiga reproduzir com sucesso em sua casa**. Mas acho mais gostoso, quando você passa a barreira da técnica e do modelo que deu certo, adapta ao que tem na sua cozinha e ao que funciona ao seu paladar. Quando você tem a receita certa, tem a praticidade, e ganha tempo para fazer outras coisas. Quando não tem, cozinhar passa a ser o evento principal, não há pressa, não há certeza de que o prato vai ficar gostoso. Você tem que abrir um espaço na sua agenda para poder criar, inventar, fazer diferente e tentar de novo. E daí, a cozinha passa a ser quase um organismo vivo e que requer de você. Requer vida, coragem e criatividade.


O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria, 
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem

- Guimarães Rosa, Grande Sertão Veredas.


** Antes que alguém interprete o que não foi dito aqui, eu adoro as receitas da Rita Lobo, sou fã dela e já aprendi muito sobre cozinha com seus livros.


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Pêras ao Vinho

Você não terá dificuldades com essa receita. Pode acrescentar diferentes especiarias como cravo, canela em pau. Acredito que com gengibre e pimentas também fique muito bom.

  • Rendimento: de 5 a 7 porções

  • Tempo de Preparo:

  • Tipo de Prato: sobremesa

Ingredientes
  • 5 a 7 pêras maduras firmes - com cabinhos, de preferência
  • 1 e 1/2 xícara de vinho tinto seco - Utilize um vinho de qualidade, não precisa ser dos mais caros, mas que não seja aqueles doces nacionais. Peloamor! Eu usei um malbec argentino
  • 1 xícara de água
  • 1 xícara de açúcar
  • 4 estrelas de anis
  • 5 bagas de cardamomo/li>
  • 2 folhas de louro
  • iorgurte grego sem açúcar para acompanhar - opcional
  • canela em pó para polvilhar

Modo de Preparo
  1. Descasque as pêras e mantenha os cabinhos. - Lembre-se de utilizar pêras firmes.
  2. Numa panela (em que caiba todas as pêras), coloque o vinho, açúcar, água, anis, cardamomo e as folhas de louro.
  3. Leve ao fogo médio alto, mexendo até que o açúcar dissolva.
  4. Quando começar a ferver, coloque as pêras.
  5. Tampe a panela, abaixe o fogo e deixe cozinhar por uns 45 minutos, ou até que elas estejam macias.
  6. Deixe esfriar e depois mantenha na geladeira, pelo menos de um dia para outro. 
  7. Sirva com um pouco de iogurte, calda e polvilhe a canela por cima de tudo.
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Budín Ingles da D. Stella com passas, nozes pecã e chocolate

Um clássico, revisitado, com dicas para o bolo sair perfeito.

Depois de semanas sem publicar nada, e mais de um mês na estrada viajando, hora de habitar novamente a casa (e o blog). A primeira postagem do ano vai ser com a receita do Budín Ingles da D. Stella, já publicada aqui 3 anos atrás, mas que merece ser relembrada sempre que der.

Dessa vez, numa forma bundt, linda e antiga, trazida na bagagem, que fazia parte de seu acervo de louças de cozinha. Trouxemos no bagageiro, caixas com seu jogo de jantar intacto e impecável, mesmo após 70 anos de uso. Preciosidades da velha.

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Stella era cuidadosa com sua casa e suas coisas. Além do jogo de jantar da vida toda, tinha lençóis com mais de meio século de vida, sem um furo, rasgo ou mancha sobre sua tela.

Parênteses. É incrível como falamos tanto em sustentabilidade hoje em dia, mas praticamos tão pouco no concreto. Naquela época não se consumia tanto como hoje, as coisas duravam porque eram feitas para durar, e porque se cuidava para que não fosse necessário substituir. Nada era descartável.

Ela seguia sua rotina à risca e sempre tinha boas receitas na memória. Levava à sério sua função como dona de casa e colecionava dicas que adorava compartilhar; desde como tirar manchas de roupa das mais diversas, como secar a melancia para fazer marmelada, ou como fazer petisco com os talos de acelga. Foi uma mulher de fibra e caráter forte e hoje quando sentamos à mesa com sua família na Argentina, sempre temos boas histórias para contar e lembrar, de como abuela foi realmente uma mulher ímpar.

Já contei a história dessa receita e do quanto ela mudou algo dentro de mim. Desta vez, vou listar algumas dicas para quem quer fazer esse bolo em casa, porque a verdade é que eu já fiz e refiz ele várias vezes, e com o tempo fui aprendendo o que funciona e é essencial para que ele fique com a textura, umidade e sabor perfeitos. 

  • Utilize a manteiga amolecida, em temperatura ambiente, ou a massa pode talhar.

  • Os ovos também em temperatura ambiente, pela mesma razão, ao entrar em contato com a manteiga.

  • Bater em batedeira, durante os tempos indicados na receita, para obter uma massa fofa.

  • Utilize um extrato de baunilha de qualidade, ou as próprias sementes de um favo.

  • Não bata em excesso a massa, ao adicionar a farinha, apenas até que seja incorporada.

  • Quanto mais frutas secas e castanhas colocar, mais gostoso fica. Pedaços de chocolate também ficam ótimos.

  • Esse é um bolo com à base de muita manteiga. A massa fica pesada e o melhor é comer no dia seguinte, que fica mais sequinha.


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Budín Ingles da D. Stella com passas, nozes pecã e chocolate

Um clássico feito numa forma bundt para momentos memoráveis. Siga as dicas, que escrevi acima, e a receita será um sucesso.

  • Rendimento: 15-20 porções

  • Tempo de Preparo:

  • Tipo de Prato: bolo, chá da tarde

Ingredientes
  • 250g de manteiga sem sal amolecida
  • 1 xícara de açúcar cristal
  • 4 ovos
  • 2 xícaras de farinha de trigo
  • 1 e 1/2 colher de chá de fermento químico
  • 1 fava de baunilha (sementes)
  • 1/4 de xícara de nozes pecãs picadas
  • 150g de chocolate 75% picado
  • 100g de uvas passas (como estavam muito secas, deixem de molho em 4 colheres de sopa de vinho do porto, por 6 horas para amolecer)
  • 2 colheres de sopa de manteiga derretida
  • 2 colheres de sopa de licor de laranja (utilizei o Cointreau)
  • 1/4 de xícara de açúcar confeiteiro para polvilhar

Modo de Preparo
  1. Bata bem a manteiga com o açúcar até se formar um creme (por pelo menos uns 5 minutos).
  2. Adicione as sementes de baunilha ou o extrato.
  3. Junte os ovos, um a um, batendo bem após adicioná-los (20 segundos).
  4. Junte a farinha peneirada com o fermento e apenas misture até ficar homogênea. 
  5. Desligue a batedeira e junte as nozes picadas, o chocolate e as uvas passas, e misture.
  6. Untar com manteiga e farinha, uma fôrma redonda com furo no meio. - Se a assadeira for muito trabalhada como a minha, espalhe a manteiga derretida com um pincel e depois passe a farinha.
  7. Coloque a massa na fôrma e leve para assar em forno pré-aquecido a 180C graus e deixe por pelo menos 1 hora e 10 minutos, ou até que fique bem dourado.
  8. Apague o fogo e deixe o bolo dentro do forno até que esfrie para deixar a massa mais sequinha. - Se você fizer de noite, após apagar o forno, deixe dentro de um dia para outro.
  9. Misture a manteiga derretida com o licor de laranja e espalhe sobre o bolo.
  10. Polvilhe açúcar de confeiteiro por cima e decore com umas nozes pecãs.
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Fim de ano e fotos da bebê Lara

Já tinha desistido de postar mais este ano. Falta de ânimo e o cansaço usual dessa época minaram minha vontade de colocar algo especial para as festas de final de ano por aqui. E a verdade é que esse não foi um ano fácil. Os altos e baixos pareceram passar pela vida numa velocidade rápida demais para se assimilar e continuar a seguir, apesar de que, mesmo assim, seguimos. Mas esses últimos dias parecem se arrastar como nunca. Quero acreditar que términos de ciclo são invariavelmente difíceis.

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Não posso me queixar, muitas coisas boas, como a casinha nova, e a vida bucólica estão cada dia mais perto de nossa realidade. Meu trabalho com fotografia tem me preenchido cada dia mais. Ontem, aqui na Argentina, passei a tarde tirando fotos de Lara, filha do sobrinho de meu marido. Em seu primeiro ano de vida, tudo vira surpresa, tudo é novo, tudo é fresco. Me deu inveja da vida despreocupada, inocente e infantil dos bebês que ainda têm sua longa jornada pela frente. 

Que pelas próximas semanas eu possa descansar, recarregar as boas energias e as esperanças. Que em 2018 a gente possa se surpreender mais, e viver a vida com mais leveza. Como Lara, rodeada pela sua família, com muito amor, nessas fotos.

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Profiteroles com morango e creme de baunilha

Expectativas ao som de Debussy.

Expectativas. Conviver com elas pode ser o céu, mas num instante, pode converter-se numa tortura. Elas podem ser o combustível que movimenta nossa vida. Para planejar e colocar as coisas no papel. Para ir para ação e tirar as coisas do papel. Catalizadores de sonhos. Da etereidade elas podem se transformar em combustão e, então, trazer o futuro para o presente.

Mas a imaterialidade, muitas vezes, faz com que as expectativas gerem ansiedade, e de modo geral, uma angústia inquietante. Da falta de chão, do aperto no estômago, da cabeça que voa. Ficar esperando, provoca sentimentos complexos que te paralisam, da busca sem resposta, e por sua natureza etérea inflamável, faíscas viram fogo. Que queima e consome.

Profiteroles com morango e creme de baunilha

"Pois tem razão o filósofo ao dizer que entre a felicidade e a melancolia não medeia espessura maior que a de uma lâmina de faca"

- Virgínia Woolf, em Orlando: Uma Biografia. 

 

Tenho vivido as últimas semanas nesse fio de faca: entre a angústia e o anseio. O mundo não acabou e a credibilidade do calendário Maia foi por água, mas a sensação é de que, se o planeta não irá sofrer um ataque que dizimará a humanidade, e nem será invadido por discos voadores, alguma outra mudança, de natureza menos chocante ou catastrófica está por vir. Os dias andam agitados, parece que situações por tanto tempo pendentes, finalmente, encontram seu desfecho. As apostas vão, enfim, definir os ganhadores, e os dados, agora, giram na mesa.

Eu não sei você, mas quando consigo domar minha ansiedade, pressinto a sorte do meu lado. Daí eu me enxergo uma apostadora nata, com uma certa fissura na ponta dos dedos, daquelas que sabem que o jogo vira, quando a gente menos espera. Esperar, no entanto, é sabido, faz parte das regras. Com paciência e alguma disciplina, você faz a sua sorte. Com o camelo amarrado, deus vigia. E amanhã, o dia pode nascer ensolarado.

Esse sentimento crescente de alguma forma está movimentando os meus dias. Num instante, eu vejo coisas boas no caminho. Apesar de em outros, me remoer em ansiedade. De concreto, ainda não posso dizer nada. Como uma noiva a espera do casamento, ou de um réu à espera de sua sentença. Oscilando como os dedos no piano de Debussy em Rêverie. A impotência diante do incontrolável. Nada a fazer, a não ser esperar. E a ânsia corroendo e atropelando como uma orquestra tocando Wagner e sua Cavalgada por dentro. Haja meditação e oração nessas horas.

Mas eu vejo quanta sorte eu tive até aqui. O quanto dela foi presente da vida. O quanto dela foi fruto de escolhas e apostas. O quanto dela foi conquistada no dia-a-dia. E o quanto dela, ainda está por vir. Essa positividade me acalma. E eu convivo na expectativa de mais um dia na espera.


A vida segue seu rumo, a despeito das minhas expectativas. Nos ouvidos, Clair de Lune de Claude Debussy e a Gymnopédie N.1 de Erik Satie. Como eu adoro o som do piano.


Receita da semana: profiteroles. Quando decidi fazer as éclairs, queria que fossem o mais tradicional possível, se é que isso existe, eu gosto de fazer receita do jeito que as nossas avós faziam, com manteiga a dar enfarto e gemas a zerar colesterol da vida.

Fui eu fazer a receita pela primeira vez na minha vida. Primeira e segunda. Porque ao assar pela primeira vez, acabei deixando o fogo muito alto, a massa dourou e quando eu tirei do forno, elas murcharam. Lá fui eu cozinhar a farinha de novo, ensacar a birosca e assar tudo outra vez. 

E daí, decidi não dar bola para as instruções, deixar em fogo baixo, assar bem devagarinho. A massa das carolinas cresceram e lá fui eu a fazer o creme pasteleiro. Leite, maisena, ovos e um favo inteiro de baunilha. O creme não engrossou o suficiente para deixá-la consistente, a receita dizia para bater com a manteiga e quase talhou, adicionei mais maisena e nada. Decidi rechear as carolinas com o creme molengo mesmo. Ficou tudo meio escorrido. Ao final coloquei morangos e chuva de açúcar por cima, e tudo melhorou.


O que pode ter dado e, provavelmente, deu errado:

  • A massa. Coloquei em fogo muito algo, a massa queimou por fora e ficou crua por dentro.

  • O creme. Eu usei o ovo inteiro, ao invés de só gemas. Não sei porque às vezes teimo em coisa simples, e depois choro pelo leite no chão. Usar só gemas têm a função de dar textura e corpo ao creme. Então não seja boba como eu e siga a receita direito.

  • A realidade. Minhas noções de confeitaria continuam péssimas.

O resultado. Os profiteroles ficaram gostosos e no ponto da crocância. O creme, mesmo mole, ficou bem gostoso. Combinou bem com o morango.

 

Profiteroles com morango e creme de baunilha
Profiteroles com morango e creme de baunilha
Profiteroles com morango e creme de baunilha
Profiteroles com morango e creme de baunilha
Profiteroles com morango e creme de baunilha
Profiteroles com morango e creme de baunilha
Profiteroles com morango e creme de baunilha
Profiteroles com morango e creme de baunilha
Profiteroles com morango e creme de baunilha
Profiteroles com morango e creme de baunilha

Profiteroles com Morango e Creme de Baunilha

Uma receita confeiteira tradicional e deliciosa, para dias especiais.

  • Rendimento: 15 unidades

  • Tempo de Preparo:

  • Tipo de Prato: doces, chá da tarde

Ingredientes

para a massa

  • 1/2 xícara de leite
  • 1/4 xícara de água
  • 115g de manteiga sem sal
  • 1/2 colher de chá de sal
  • 1 xícara de farinha de trigo
  • 4 ovos (temperatura ambiente)

para o recheio

  • 1 e 1/2 xícara de leite
  • 1/2 xícara de açúcar
  • 3 colheres de sopa de amido de milho
  • 4 gemas
  • 1 fava de baunilha pequena
  • 15 morangos (aproximadamente)
  • 2 colhers de sopa de açúcar confeiteiro para polvilhar

Modo de Preparo

para a massa

  1. Pré-aqueça o forno a 220° C.
  2. Numa panelinha, junte o leite, amanteiga, sal e a água, e leve ao fogo alto até ferver.
  3. Adicionar farinha e mexa constantemente até formar uma massa que desgrude da panela, e reduza o fogo para médio e cozinhe, mexendo sempre com uma colher de pau, até secar, por cerca de 2 minutos.
  4. Transfira a massa para uma batedeira e vá adicionando os ovos, um a um até a massa ficar homogênea e macia.
  5. Coloque a massa no saco de confeitar, com o maior furo redondo, e faça bolas numa assadeira forrada com papel manteiga, deixando um espaço de cerca de 3 dedos entre cada bola. 
  6. Coloque a assadeira no forno e reduza a temperatura para 170° C. Asse até que elas cresçam e fiquem douradas, por cerca de 45-50 minutos.

para o recheio

  1. Ferva 1 xícara de leite e açúcar, numa panela panela em fogo médio.
  2. Enquanto isso, numa tigela, misture o restante do leite, com o amido de milho e as gemas de ovos com um batedor.
  3. Junte aos poucos metade do leite quente, misturando sempre, e depois adicione a mistura na panela com o restante do leite.
  4. Leve ao fogo baixo novamente e cozinhe o creme, mexendo constantemente com uma colher de pau, até engrossar e ferver.
  5. Junte as sementes de baunilha, misture bem e transfira para uma recipiente, e cubra com filme plástico.
  6. Quando esfriar, leve para gelar na geladeira. 
  7. Bata o creme de leite até fazer picos firmes, mas cuidadeo para nào sobrepassar e talhar
  8. Adicione delicadamente ao creme.

para o a montagem

  1. Corte os morangos em fatias finas.
  2. Parta os profiteroles ao meio com uma faca de pão e recheie-os com o creme e os morangos.
  3. Polvilhe o açúcar de confeiteiro por cima de tudo.
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Muffins de Nozes, Café e Amarula

Quando sonhos se tornam realidade.

Coisa boa é poder sonhar. Pedir, imaginar e continuar sonhando até se tornar realidade. Eu acredito realmente que se a gente jogar nossos desejos para o universo, e esses desejos realmente forem seu de direito - e você fizer sua parte -, o tempo se encarregará de trazê-los, um dia. Há alguns anos, eu sonho com uma casinha no meio do mato. Tinha que ter rio correndo ao lado da casa, um bosque para o piquenique, janelas largas, uma cozinha com fogão a lenha, uma mesa central de apoio para cozinha feita de mármore branco. Tive a sorte de encontrar alguém que compartilhasse o mesmo sonho que eu. Não com tantos detalhes pouco etéreos, como no meu caso (sou taurina cabeça dura, que sonha material, de concreto e paredes), mas que também quisesse um refúgio verde isolado.

Então, o nosso sonho se tornou realidade. E essa semana a gente vai habitar a casinha devidamente, já que a reforma por dentro terminou, após 8 longos meses. Estou levando minhas caixas com tudo aquilo que fui reunindo durante os anos em que tudo era só um desejo, para quando esse momento chegasse, enfim. Uma panela de ferro pintada de azul com desenhos de flores, alguns cata-sonhos em forma de pipa feito de linhas coloridas, colcha e almofadas de linho, um vaso de cerâmica cor de degradê cor-de-rosa, várias peças de madeira do Studio Elke Noda, um jogo para o café da Noni SP

Receita de Muffins de Nozes, Café e Amarula

Encaixotar foi meditativo e terapêutico. Depois de uma semana difícil, pesada e doída, fazer as malas e ir embora, é tudo que eu anseio. A verdade é que mesmo que seus sonhos se realizem, a realidade sempre irá se encarregar de trazer problemas para dentro deles. Apesar de sonhadora, tenho uma veia pessimista que corre em paralelo. Que me faz preocupar antes do tempo, e buscar resolução antes dos problemas de fato aparecerem. 

A semana passou e os problemas continuam até agora os mesmos, mas diante da falta de solução, já diz o ditado, então, deixa para lá. Fui botando as coisas para dentro das caixas e enquanto fazia isso, eu me esquecia de todos eles. E fui aos poucos me lembrando do etéreo virar real, e do quão bom é poder viver a vida desse jeito, sendo o que ela é. Ter coisas boas para celebrar, ter coisas ruins para sentir a dor de estar vivo. E se lembrar que o melhor da vida não são coisas. 


Já estamos no final de outubro, e o ano já caminha para a reta final. Os grandes mistérios da vida continuam sem resposta, mas em compensação, as receitas de sorvete estão sendo finalizadas. Voltei a fazer academia 3 vezes por semana, a meditar todos os dias, a fazer terapia, e a ouvir música clássica no dia-a-dia. Frédéric Chopin e Claude Debussy são meus prediletos. A lista de metas de janeiro para se tornar um ser humano um pouco melhor foi ticada.


A receita da semana são esses muffins sensacionais de nozes, café e licor de amarula. A base da massa é amanteigada, pouco doce e muito aromática. Com pedaços de nozes e chocolate. Buttercream de café e amarula - uma feliz descoberta que será reproduzida em muitos bolos de aniversário. 


Receita de Muffins de Nozes, Café e Amarula
Receita de Muffins de Nozes, Café e Amarula
Receita de Muffins de Nozes, Café e Amarula
Receita de Muffins de Nozes, Café e Amarula
Receita de Muffins de Nozes, Café e Amarula
Receita de Muffins de Nozes, Café e Amarula
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Muffins de Nozes, Café e Amarula

A base da massa é amanteigada, pouco doce e muito aromática. Com pedaços de nozes e chocolate. Buttercream de café e amarula - uma feliz descoberta que será reproduzida em muitos bolos de aniversário.

  • Rendimento: 16 unidades

  • Tempo de Preparo:

  • Tipo de Prato: docinhos, chá da tarde

Ingredientes

para a massa

  • 200g de manteiga com sal amolecida em temperatura ambiente
  • 3/4 de xícara de açúcar cristal
  • 4 ovos
  • 1 e 1/3 de xícara de farinha de trigo
  • 2 e 1/2 colheres de chá de fermento em pó
  • 1/2 colher de chá de bicarbonato de sódio
  • 1/3 de xícara de nozes moídas
  • 50g de chocolate meio amargo (usei 70% cacau)
  • 1 e 1/2 colher de sopa de café solúvel
  • 3 colheres de água quente

para a cobertura

  • 250g de manteiga sem sal amolecida em temperatura ambiente
  • 1 e 1/4 de xícara de açúcar confeiteiro
  • 2 colheres de sopa de café solúvel
  • 1 colher de sopa de água quente
  • 3 colheres de sopa de licor de amarula

Modo de Preparo

para a massa

  1. Dilua o café na água quente e reserve.
  2. Bata a manteiga com o açúcar até virar um creme fofo esbranquiçado.
  3. Adicione os ovos, um por um, batendo bem a cada adição.
  4. Num bowl, penere e misture os ingredientes secos: farinha, fermento e bicarbonato e as nozes, vá incorporando ao poucos à massa, misturando, alternando com o café.
  5. Adicione o chocolate picado.
  6. Coloque a massa nas forminhas de muffins, forrada com papel, preenchendo-as com a massa até 2/3.
  7. Leve ao forno pré-aquecido a 180C graus, e asse por uns 30 minutos.
  8. Retire do forno e deixe esfriar.

para a cobertura

  1. Bata o creme que deve parecer uma pomada.
  2. Vá adicionando aos poucos, por colherada o açúcar.
  3. Depois, aos poucos, o café diluído já frio.
  4. Por final, o licor.
  5. Quando creme estiver fofo, macio e homogêneo, utilize-o para cobrir os bolinhos. - Eu usei o saco com bico de confeitar para decorar os bolinhos. 
  6. Pode guardar os muffins na geladeira, mas como a massa e cobertura são à base de manteiga, retire uns 10-15 minutos antes de servir. 
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Ravioli de acelga "argentina" e molho branco

Com muita noz moscada. E uma pitada de amor.

Hoje a postagem vai ser meramente culinária, sem muito o que contar da vida. No começo do ano, adquiri uma máquina de abrir massa caseira, ou pastalinda como diz o Gabriel. E desde então, tenho feito massa nos finais de semana, sempre que dá.

Se você me perguntar se não é muito trabalhoso, se não é mais prático comprar a massa pronta no supermercado, se não dá preguiça, eu vou te responder com um simples e sonoro NÃO!. (ok, ando assistindo demais "Alienígenas do Passado"- quem acompanha também, vai entender minha piada sem graça). Exceto pela última parte, a da preguiça, sim, às vezes dá. Mas no meu caso, as coisas mais banais me dão preguiça, então nesse caso, ela não é exclusiva do ato de fazer massa em casa.

ravioli-caseiro

 

Cozinhar é um processo que dá trabalho. Dá para ser prática, comprar industrializados e enlatados para facilitar a vida, é claro. Não acredito que a gente precise fazer catchup caseiro em casa para comer o hambúrguer de carne de cordeiro gourmet artesanal. Mas quanto mais eu entro na onda de cozinhar em casa, eleger bons ingredientes, abrir mão dos conservantes e entender o sabor daquilo que é feito em outro ritmo, o ato da refeição também tem se tornado outro.

Gosto de cada etapa, da escolha dos temperos, das ervas; de selecionar os ovos na caixinha, de peneirar a farinha. Do improviso necessário em qualquer cozinha viva que se preze. Do ritual de amarrar o avental de linho, folhear livros de receita, montar a mesa com louças e talheres especiais. Não é só o sabor da massa caseira que é outro, o tempo dedicado e vivido durante o processo feito à mão transforma a cozinha num santuário muito particular, de cuidados e de amor.

Para deixar claro, não cozinho todos os dias em casa, muitas vezes o tempo é curto e corrido, com freqüência não me animo mexer nas panelas. Esse não é um incentivo a você comprar uma máquina de massa caseira, cultivar levain na geladeira, ou produzir seu próprio leite de sementes germinadas. Acredito que a vida é feita de fases, e assim a cozinha é também. Cada um tem o seu ritmo e sua disponibilidade. E em alguns momentos, um miojo de pacotinho ou uma pipoca de microondas fazem parte da vida cotidiana. Mas se você se sentir inspirado em passar algumas boas horas sovando, abrindo massa, e não se importar com farinha por todos os lados, voilà.

ravioli

O recheio do ravioli é feito de acelga "argentina". Não sei se tem outro nome aqui, mas nunca encontrei para comprar, algumas pessoas já me falaram que no Sul do país é mais fácil de achar. A acelga é verde escura e os talos são finos. Ou seja, não é aquela acelga branca (não entendo porquê tem o mesmo nome se são tão diferentes), nem aquela verde escura de talos largos.

Eu trouxe as sementes da Argentina, plantei no quintal de casa e ela dá fácil. Seu sabor é bem terroso, muito particular (confesso que no início eu não curtia muito; hoje eu adoro), e ela fica ótima refogada. Você pode substituir pela acelga que tiver, apesar que eu acho que a branca não tem muita similaridade. Nesse caso, eu acho que você pode substituir por espinafre que deve ficar bom também.

Quanto à massa, se você não se animar a fazer a sua, pode comprara a massa pronta fresca. Nunca vi no supermercado para comprar, mas talvez você encontre naquelas lojas/fábricas de massa caseira. A de lasanha (fresca!), deve servir para abrir no rolo também e usar.

Para o molho branco. Essa é a receita que eu gosto: com muita, mas muuuuuuuita noz moscada. E um queijo parmesão de boa qualidade para finalizar. Segue à risca os temperos que estão descritos na receita, e você não vai se arrepender.


Me animei e tomei coragem (e o trabalho) de fazer o meu primeiro vídeo, com essa receita. Não é bem vídeo com passo-a-passo de receita, é mais uma filmagem do processo de fazer a massa caseira. Ainda não ficou bem do jeito que eu gostaria (não digo isso para colher elogios!), mas também não ficou ruim. Se filmar, cozinhar e editar, tudo sozinha, não é tarefa fácil. Mas valeu a pena. Assiste, dá um like e me diz o que achou.


Ravioli de acelga "argentina" com molho branco

cerca 2 porções ou 24 raviolis

Para a massa

  • 200g de farinha branca peneirada

  • 02 ovos

  • 02 colheres de água fria (se necessário)

Para o recheio

  • 01 colher de sopa de manteiga

  • 08 folhas de acelga com o talo

  • 01 cebola pequena

  • 01 colher de sopa de shoyu

  • 01 colher de sopa de açúcar

  • noz moscada ralada

  • 1/4 xícara de creme de leite

Para o molho

  • 01 colher de sopa de manteiga

  • 1/2 cebola

  • 02 xícaras de creme de leite

  • 1/2 xícara de água quente

  • 01 colher de sopa de maisena

  • 1/2 colher de sopa de açúcar

  • sal e pimenta a gosto

  • muita noz moscada ralada

  • queijo parmesão para ralar

 

Modo de Preparo

Para a massa

Num bowl, ou numa bancada, faça uma montanha de farinha com um buraco no meio. Quebre os ovos lá. Misture com as mãos, amassando bem, e sove. Sove por uns 10, 15 minutos. Eu sovo por 5, depois coloco na batedeira com gancho para massas pesadas. Forme uma bola, cubra com plástico filme e guarde por uns 30 minutos na geladeira.

Corte a massa em pedaços e amasse. Polvilhe farinha na massa a ser trabalhada, e passe pela máquina no nível zero (ou o primeiro nível). Depois de passar, dobre ao meio e passe de novo. Repita esse processo por umas cinco vezes. Depois vá aumentando (ou diminuindo) o grau da espessura (cada vez mais fino), para abrir a massa, até chegar ao 8 ou 9. Se você não tem máquina, acredito que dê para abrir no rolo também, mas deve ser bem trabalhoso e exigir um pouco mais de habilidade.

Para o recheio

Pique bem a cebola e a acelga em tirinhas (inclusive o talo). Refogue a cebola na manteiga, até dourar bem. Acrescente o açúcar. Quando estiver caramelizada, junte a acelga e o shoyu. Refogue até as folhas murcharem, acrescente o creme de leite. Misture e apague o fogo. Rale bastante noz moscada por cima (bastante!). Deixe esfriar.

Para o molho

Refogue a cebola (bem picadinha) na manteiga até dourar. Abaixe o fogo e junte o creme de leite e misture. Numa tigela misture a maisena na água quente até dissolver. Adicione ao molho e misture bem, em fogo baixo até começar a engrossar. Acrescente o açúcar e misture bem. Tempere com sal, pimenta do reino, e muita, mas muita noz moscada.

Para os raviolis

Jogue farinha sobre a fôrma de ravioli e disponha a massa aberta. Preencha com uma colher de chá do recheio, cada cavidade. Cubra com outra parte da massa, vá acomodando e aperte para sair o ar. Passe o rolo para cortar, retire os excessos e desenforme. Polvilhe farinha por cima de tudo. 

Você pode fazer sem o molde também, abrindo a massa numa bancada com farinha. Vá colocando em fileiras espaçadas os montinhos, deixando uns 5cm de distância entre um e outro. Acomode outra parte da massa por cima, e vá cortando com o cortador os quadradinhos.

Numa panela com água fervente, um punhado bom de sal (lembre-se que a massa não vai sal!) e azeite, coloque os raviolis e cozinhe por uns 5-7 minutos. Retire e escorra. Coloque o molho branco. Rale mais noz moscada por cima. Sirva com queijo ralado parmesão.

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Torta gelada de Doce de Leite

E como começou o blog.

Faz pouco mais de 4 anos que eu escrevo por aqui. Comecei em outra plataforma (o tumblr), tinha outra logo (com um varal de roupas). Como no laboratório de ciências da escola, eu fui testando. Haviam seções, que hoje não existem mais - acho que quando migrei para a plataforma nova, eu apaguei algumas delas. Esse caderninho de anotações - o blog - foi se transformando, assim como eu.

Foi aos poucos me ajudando a definir algumas escolhas na minha vida, daquilo que eu queria ser. Me ajudou a aperfeiçoar minhas habilidades com fotografia, refinou meu olhar estético com o mundo. Me permitiu criar um mundo paralelo, bonito e desenhado por mim. Conheci muita gente através dele e, por conta dele, me aproximei de muita gente como eu. 

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Se vida é uma história que a gente conta para a gente mesma, esse blog é a minha narrativa construída e formada, numa camada mais doce. Até então, isso não fazia tanto sentido, quanto hoje faz para mim. Nasceu numa fase que eu estava bem receosa em sonhar. É triste quando a gente ri dos próprios sonhos e desiste deles. Mas também é cansativo viver ilusão atrás de ilusão, e ver as portas fecharem tantas vezes na sua cara.

Um dia eu acordei, fiquei deitada na cama um bom tempo, olhando para o teto. Tinha acabado de me formar em artes gráficas, e de largar meu trabalho num estúdio de design. Eu queria mesmo era criar algo novo, algo meu. Um espaço em que eu pudesse deixar registrado a evolução dos meus passos. Foi então que me veio a idéia do blog. O nome veio junto, eu gostei na hora. Fui comprar o domínio, procurei uma plataforma para publicar. As fotos eram feitas no celular. 

Hoje, tenho câmera nova, tripé, lentes mais potentes. Faço edição de todas as fotos que publico. Tenho um acervo de louças, cerâmicas, e um monte de bugigangas para a produção. O blog hoje é o meu ponto de apoio, me obriga a sonhar muito, mas sempre com os pés no chão. Olho para meu arquivo e é muita história contada, muita conversa jogada fora. Muita receita compartilhada, muitas horas na frente do computador.

O blog é a soma de muitos pouquinhos da minha vida, que hoje já dá um tantão. Um tantão de coisas doces, mesmo quando tem receita de jiló.


Queria um doce bem doce, feito de doce de leite. Algo que você come um pedaço e fica satisfeito. Com uma boa dose de açúcar para aliviar qualquer amargor. Que fosse gelado para os dias quentes, como esses que precedem e enunciam a primavera. E que fosse fácil. Essa torta de doce de leite é assim. 


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Torta gelada de doce de leite

para a base

  • 200g de biscoito maltado
  • 75g de manteiga sem sal

para o recheio

  • 01 xícara de doce de leite argentino
  • 01 xícara de creme de leite fresco

para decorar (opcional)

  • 02 claras
  • 1/2 xícara de açúcar

Modo de Preparo

Triture os biscoitos num processador ou liquidificador, até virar uma farofa. Jogue a manteiga derretida sobre ela, e misture, até que vire uma massa. Espalhe-a sobre uma assadeira (utilizei uma redonda de 20cm de diâmetro) para a base da torta. Leve à geladeira por uns 15 minutos. 

Numa tigela, misture o doce de leite com o creme de leite, até que fique homogêneo. Jogue sobre a base da torta. Leve para o congelador por pelo menos umas 5 horas, ou até que o creme fique firme (mas não congelado). Se congelar, tire por alguns minutos antes de servir. 

Num recipiente, coloque as claras e o açúcar. Em banho maria, misture até que o açúcar se dissolva completamente. Não deixar que a temperatura passe dos 50C graus. Bata as claras em velocidade alta, até que virem merengue, com picos firmes. Decore sobre a torta.

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Bolo de Laranja com glacê

simples e básico.

Ficar com o simples. Nada pode ser tão reconfortante quanto isso. Como café coado. Um buquê de margaridas. Calça de moletom. Bolo de laranja com glacê. Não surpreendem. Têm a modéstia necessária para não gerar grandes expectativas. E mesmo assim, são garantia de satisfação e conforto na medida perfeita.

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E eu percebi que minha vida, ultimamente, anda assim, bem básica. Cheia de rotina. Sem grandes expectativas. Só muita aceitação. Eu querendo menos do mundo. E o mundo sendo um bolo de laranja com glacê.


Sem textão. Sem indicações para livros, filmes ou seriados, dessa vez.

Sou daquelas que sempre se recusou a assistir GOT e começou a assistir a partir da sétima temporada, e agora fico esperando pelo próximo episódio, mesmo sem nem saber quem são os personagens direito. Decidi que vou me render e assistir desde o começo. Então, pelos próximos meses, estarei ocupada me atualizando com as histórias dos Sete Reinos.

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Bolo de Laranja com glacê

para a massa

  • 180g de manteiga sem sal amolecida
  • 01 xícara de açúcar
  • 03 ovos
  • 02 xícaras de farinha de trigo
  • 02 colheres de cha de fermento em pó
  • pitada de sal
  • 1/2 xícara de leite
  • 1/3 xícara de suco de laranja
  • raspas de 1 laranja

para o glacê

  • 3/4 xícara de açúcar de confeiteiro
  • 02 colheres de sopa de suco de laranja

Modo de Preparo

Bata a manteiga com o açúcar até virar um creme fofo. Adicione os ovos um a um, batendo bem a cada adição - os ovos devem estar em temperatura ambiente. Numa outra tigela, peneirar e misturar os ingredientes secos: farinha, fermento, sal e as raspas de laranja. Vá adicionando aos poucos essa mistura seca, alternando com o leite e suco de laranja. Misture tudo delicadamente, com uma colher, até que fique homogêneo. 

Coloque numa fôrma redonda com buraco no meio, untada e enfarinhada. Leve para assar a 180C graus, em forno pré-aquecido, por uns 50 minutos, ou até que a massa esteja dourada e cozida. Espere esfriar antes de desenformar. 

para o glacê

Misture o açúcar o com o suco. misture até dissolver e virar uma calda espessa. Despejar sobre o bolo. 

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Bolo de Earl Grey com Buttercream de Chocolate Branco

e o fim da tetralogia napolitana

Foi aniversário da minha mamãe esta semana. Ela é a inspiração primária para o que a cozinha representa na minha vida. Seus livros e cadernos de receita permearam minha imaginação e faziam parte dos objetos de amor na infância. Ela fazia nossos bolos de aniversário, brigadeiro e outros docinhos. Gostava de passar o tempo cozinhando. E ainda hoje, aprende novas receitas, troca algumas comigo e me dá dicas de como cozinhar. Feliz aniversário, mãezinha!

Para comemorar seus 61, queria um bolo diferente. E queria testar os bicos confeiteiros que acabei de comprar. Então escolhi um naked, fiz a massa com aroma de earl Grey (meu chá predileto) e um buttercream com chocolate branco. Acho que ficou bonito!


Essa semana acabei de ler a tetralogia da Elena Ferrante, o último livro da série napolitana História da Menina Perdida. Lila e Lenu me fizeram órfã de uma narrativa rica e detalhada da amizade entre duas mulheres, meninas, com sentimentos contraditórios, descritos de maneira fiel e comovente. Não quero tentar escrever nada sobre a série, seria reduzir ou estragar algo tão certeiro e único. Seria transformar em novelesco, algo genial. Se você ainda não leu, faça o favor de ler. 

A sensação que me sobrou é de que irei adiar mais alguns dias, quem sabe semanas, até começar  a procurar algum outro livro para suprir minha leitura noturna. Quero que ela permaneça dentro de mim por mais tempo. Nem deu tempo de digerir toda história, da velocidade que eu ia adquirindo ao ler cada linha. Ia devorando, insaciável, para lidar com a crescente a ansiedade dentro do mim. Mas ao fim, como tudo que é bom, já diz o ditado, acabou. 

O que em mim de imediato ficou, é a sensação de que a gente não vira adulto, nunca. A gente finge, imita o que viu ou aprendeu de pequenos, aquilo que a gente achava que significava ser adulto. Vai sendo atropelado pelas experiências, e tentando lidar com as mazelas e novidades que a vida traz. Mas não tem nada ou passagem concreta que garante que a gente virou adulto ou amadureceu, exceto algumas fantasias que a gente vai vestindo para se parecer com um, e algumas atuações que a gente vai aperfeiçoando ao longo da vida. 

A gente supera e faz que sabe lidar com certas situações, mas as reações primárias, aquelas que saltavam da gente, quando crianças, permanecem encapsuladas, encobertas. Mas ser adulto é isso?, é não se render aos impulsos instintivos, irracionais, Lili. É, eu concordo com isso. Inclusive, é quando as barreiras que limitam a gente a viver dos impulsos cessam ou caem, seja pela velhice, pela loucura, ou pela doença, a gente volta a ser crianças, certo? Ser adulto então é ter essa casca, um molde que contém nossas expectativas básicas, mediando aquilo que vem de dentro, cru e impulsivo, mas que a gente vai abafar sempre, e fingir que elas não estão lá.

É viver a dicotomia esquizofrênica de que as reações e as dúvidas da criança já não existem, ou foram superadas, e que agora a gente sabe lidar com madurez. A gente cresce e aprende a fazer um monte de coisas complicadas. A casca envelhece, e a gente se acostuma com o que não sabe, mas finge saber. Mas bem no fundo, o mistério continua ali, intocado, escondido, dentro da gente.


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Bolo de Earl Grey com Buttercream de Chocolate Branco

para a massa

  • 1 xícara de açúcar demerara

  • 1/2 xícara de manteiga sem sal em temperatura ambiente

  • 1/2 xícara de óleo de girassol

  • 04 ovos

  • 1/2 xícara de leite

  • 3 saquinhos de chá de earl grey

  • 2 xícaras de farinha de trigo

  • 2 colheres de chá de fermento em pó

  • 1/2 colher de chá de sal

para o buttercream

  • 03 claras

  • 1/2 xícara de açúcar confeiteiro

  • 200g de manteiga sem sal amolecida

  • 40g de chocolate branco (utilizei lindt)

Modo de Preparo

para a massa

Aqueça o leite até ferver. Coloque os saquinhos e deixe em infusão por uns 20 minutos. Bata o açúcar, manteiga e o óleo até que vire uma pasta. Junte os ovos e o leite coado aos poucos. Numa outra tigela, peneire e misture os ingrediente secos: farinha, fermento e sal. Adicione aos poucos na massa, misturando com uma colher mesmo, até que fique homogêneo. 

Coloque em duas fôrmas redondas, de fundo removível, untadas e enfarinhadas, de 15 cm de diâmetro. Divida a massa em partes iguais. Leve para assar em forno pré-aquecido à 170C graus, por uns 40 minutos, ou até que a massa esteja dourada e cozida. Deixe esfriar e desenforme. 

para o buttercream

Coloque as claras e o açúcar numa tigela e leve em banho maria, misturando sempre, até que o açúcar esteja totalmente dissolvido nas claras. Vá controlando a temperatura (não deve passar de 50C graus). Leve para a batedeira e bata até virar um merengue de picos firmes. Vá juntando aos poucos a manteiga bem amolecida. Quando estiver totalmente homogênea, junte o chocolate derretido aos pouquinhos. O creme vai ficar brilhante e aveludado.

para a montagem

Corte o bolo ao meio, em fatias iguais. Recheie com o creme, utilizando um saco confeiteiro. Monte em camadas. Leve para geladeira. Retire alguns minutos, antes de servir.

 

 

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Pavê de bolo de chocolate

O que fazer quando o bolo cola na fôrma.

Das receitas que tenho vontade de fazer (e acertar), no topo da minha lista está o bolo red velvet. A massa vermelho rubi, com cobertura branca. Só que minha vontade constitui fazê-la sem corantes sintéticos ou artificiais, com a cor da beterraba mesmo. Busquei receitas pela internet, explicações sobre o ph, alcalinidade, vinagre de arroz, cacau em pó sem lavagem, trigo orgânico - sem tingimento químico que acaba conferindo alcalinidade à farinha. 

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Não sei você, mas tenho uma dificuldade enorme de seguir receitas à risca. Seja pela quantidade que nunca acho suficiente, ou acho sempre que leva açúcar demais. Quero fazer em fôrma quadrada com camadas, quando a receita aconselha em forma redonda desmontável. Trocar o licor por chá, fruta por chocolate, e assim vamos. Às vezes, tenho sucesso e as adaptações acertam o paladar em cheio. 

Outras vezes, as mudanças se mostram equivocadas elevadas à quinta potência, como foi o caso da minha tentativa de fazer um red velvet "autêntico". Quis mudar a receita original, usei óleo ao invés de manteiga, quis fazer 1/2 receita a mais, e no final, por conta da massa mais líquida que eu esperava, decidi optar por uma fôrma maior e não desmontável. Escolhi uma daquelas nórdicas, cheias de curvas, que só com mandinga e reza braba para desenformar um bolo nela, quando feita à base de óleo vegetal.

Ao final, a massa daquela p$%&*#, não ficou vermelha. Terminei com um bolo marrom colado na minha fôrma importada. Quando me dei conta do desastre tive vontade de: (a) arremessar na parede o bolo grudado na fôrma; (b) sentar e chorar, comendo o bolo com a mão no chão da cozinha; (c) jogar tudo fora e começar do zero outra vez. Respirei fundo, dei risada, e não fiz nada disso. Só não queria jogar fora pelo desperdício. Deixei o bolo lá na forma por algumas horas, até que decidi fazer uma sobremesa montada com ele mesmo: uma espécie de torta ou pavê, com o bolo, creme pasteleiro, e cacau em pó. 

Então, da próxima vez que seu bolo colar na fôrma, nem tudo está perdido. Faz um creme, monta numa tigela bacana e serve assim mesmo. Red velvet, não foi dessa vez. Ficamos com um pavê por enquanto.


Pavê de bolo de chocolate

  • 01 bolo de chocolate colado na fôrma
  • 400ml de leite
  • 01 colher de sopa de maisena
  • 02 ovos
  • 1/2 xícara de açúcar
  • 01 colher de sopa de extrato de baunilha

para molhar o bolo

  • 1/4 xícara de leite
  • 02 colheres de sopa de vinho do porto ou licor de laranja

Modo de Preparo

Esquente o leite até começar a subir um vapor. Bata os ovos com o açúcar até ficar um creme esbranquiçado. Junte a maisena e a baunilha. Adicione o leite quente e continue batendo até ficar homogêneo. Leve ao fogo médio, misturando sempre, até engrossar. Coloque um plástico filme por cima, para que ele não forme uma película. Deixe esfriar um pouco. 

Numa fôrma ou travessa, faça uma camada com o bolo e jogue a mistura de leite com vinho sobre ela. Jogue o creme por cima e leve à geladeira. Decore com frutas, caldas, ou cacau em pó. Sirva gelado. 

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Pavlova de Morango com calda cítrica

A vida também é doce.

Vida corrida, falta de tempo e as desculpas usuais para justificar minha ausência por aqui. É um muito disso e mais um pouco. A vida faz quase nenhum sentido nessas horas, ela atravessa a gente, e fica quase nada dela por dentro. Mas a incerteza dos acontecimentos passou a ser o único certo da vida, e a gente se adapta a esse não saber nunca, constantemente, e quando sabe, sabe que não sabe nada, na verdade. 

Mas como nem tudo é lamentação, às vezes a gente tem uma trégua, um intervalo, para lembrar a gente que a vida também é boa. A pior lunação dos últimos dez anos passa, e os astros começam a corroborar boas novas. E como são boas essas horas. 

Na contramão das indefinições, eu que sempre fui indisciplinada com tudo, tenho estabelecido uma rotina de ritmo cadenciado. Academia pela manhã, pausas para uma alimentação mais regrada, meditação à noite, leitura de um bom livro antes de dormir. Sem horários fixos, mas mantendo uma disciplina dentro dos meus tempos internos. Isso tem feito bem para minha alma, cansada das oscilações terrenas; um coração taurino que gosta de um chão firme para pisar. 

Em resumo, tive tempo essa semana para criar, fotografar. Tive tempo para organizar alguns dos meus pensamentos. Como é época de morangos, fiz sorvete, fiz bolo, fiz uma pavlova com eles. Tenho sido menos dura com a vida, e ela tem retribuído, amavelmente. Tenho ficado mais comigo mesma, e isso tem sido restaurador.

Tenho aprendido muito com meu relacionamento, às vezes dá até um medinho de escrever, de tão boa a fase que a gente se encontra atualmente. Digo fase, porque sei que os altos e baixos fazem parte de qualquer relação, querer se estacionar e acomodar pode ser mais confortável, mas infelizmente (ou felizmente) essa não é uma opção viável nem possível que a vida me oferece. E se eu me esqueço disso, ela me chacoalha bem rapidamente, para me lembrar bem lembrado. Estamos há mais de dez anos juntos, e a cada dia que passa, o amo mais.


A reforma no sítio tem se alongado, mas a casinha está ficando cada dia mais do jeito que a gente quer, e a gente vai exercitando o dom da paciência e da confiança na existência de que tudo que é nosso está bem cuidado. Espero em breve ter fotos de lá.


Ter um batedeira planetária robusta e de linha, figurava na minha lista de desejos, mas confesso que era mais uma vontade classificada como luxo que necessidade. Depois de usar essa kMix da Kenwood, meu entusiasmo se tornou um por quê não antes?, e entendi porquê grandes chefs e culinaristas (e decoradores!) a tem como um utensílio básico e imprescindível na cozinha. #ad

Foi com ela que fiz o merengue da pavlova e também o chantilly


Os filmes de recomendação da semana são Sieranevada e A Voz do Coração. O primeiro mostra uma tarde numa família romena que se reúne para prestar as últimas homenagens ao pai falecido. Apesar da religiosidade, manutenção das tradições e rituais, a espiritualidade cultivada dentro da reunião familiar é bem rasa. Humor irônico, ótima filmagem - simples, seca e direta, daquelas com poucos cortes feitos com uma câmera só - cenas e diálogos impagáveis. 

O segundo, um filme francês, que conta a história de um professor/supervisor de uma escola para alunos considerados especiais - por serem indisciplinados - ou órfãos. Um filme bonito, singelo, para se emocionar. A bondade e o amor do professor com estes alunos é um alento para alma. Está no Netflix


A receita da Pavlova está abaixo, e ela foi baseada e inspirada nas receitas da Camila do Feito.comAmor e das meninas do Our Food Stories.


Pavlova da Morangos com farofa de amendoim calda cítrica

para o suspiro

  • 05 claras (temperatura ambiente)

  • 01 e 1/2 xícara de açúcar confeiteiro

  • 01 colher de sopa de vinagre branco

  • 01 colher de sopa de maisena

para o creme batido com farofa de amendoim

  • 01 xícara de creme de leite fresco

  • 02 colheres de sopa de açúcar

  • 1/2 xícara de amendoim

  • pitada de sal

para os morangos

  • 350g de morangos

  • 1/2 limão

  • 01 colher de sopa de açúcar

para a calda cítrica

  • 02 laranjas

  • 01 limão

  • 01 xícara de açúcar

  • 01 xícara de água

  • 03 anises estreladas

 

Modo de Preparo

para o suspiro
Bata as claras até formarem picos firmes. Vá adicionando aos poucos o açúcar peneirado. Quando o merengue estiver firme e brilhante pare a batedeira. Adicione o vinagre e a maisena e misture com uma colher. 

Numa assadeira forrada com papel manteiga, marque um círculo de 20 cm de diâmetro, aproximadamente. Coloque o merengue neste disco preenchendo-o totalmente. Depois faça outra camada, mas com uma cavidade central. Leve ao forno pré-aquecido a 120C graus (eu fiz como a Camila ensinou, coloquei uma colher de pau na porta do forno, à 160C graus) e asse por aproximadamente 1 hora e meia.

Não tenha pressa, não abra o forno antes da hora, e deixe esfriar dentro do próprio forno. Se preferir, faça a noite, e deixe esfriando dentro do forno de um dia para o outro. Se der errado, não chore, xingue ou se sinta só. A minha já afundou ou queimou algumas várias vezes, antes de conseguir fazer uma perfeita. Em tempo, ela está perfeita quando estiver crocante por fora e macia por dentro.

para o creme batido com farofa de amendoim

Torre o amendoim com um pouco de sal, numa frigideira ou no forno. Ela doura rapidamente, fique de olho para não queimar. Deixe esfriar. Depois bata o amendoim no liquidificador, até virar uma farofa. Bater o creme de leite com o açúcar até virar chantilly. Misture com a farofa se desejar. 

para os morangos

Pique os morangos. Junte o açúcar e o suco de limão e misture. Deixe na geladeira por pelo menos 1 hora.

para a calda cítrica

Ferver a água e o açúcar numa panelinha e adicionar as anises. Corte as laranjas e o limão em rodelas finas, e cozinhe na calda por uns 15 minutos. Retire as rodelas e deixe as secando num rack. Continue fervendo a calda até ela se reduzir e ficar espessa. Você ainda pode assar as rodelas no forno para comer depois, junto com a pavlova, se desejar.

para a pavlova

Para montar a Pavlova: Primeira camada é de suspiro. Recheie e cubra com o creme batido e coloque os morangos (escorra eles antes) sobre tudo. Sirva com um pouco de calda e farofa. Monte apenas na hora de servir, para que a massa da Pavlova mantenha-se crocante.


*Essa postagem foi feita em parceria com a Kenwood Brasil (muito obrigada!). Todas as opiniões expressas aqui são exclusivamente minhas. 

 

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Bolo de coco com café e calda de chocolate

Um post sobre a vida como ela é.

Às vezes, ser a gente mesmo cansa à beça, especialmente depois de trinta e seis anos. Ando numa crise de identidade, por já me conhecer tão bem e não me convencer mais, como até pouco tempo atrás. Numa sensação de tédio permanente de meu próprio ego. E eu me pergunto, a vida é isso mesmo, sem tirar nem pôr?

Eu que sou adepta ao ritmo lento, às pausas e vazios; em repetir que as coisas boas da vida estão na simplicidade do pouco, nos detalhes desapercebidos, nos entremeios e nos escondidos; tenho me questionado com sinceridade, qual seria o meu propósito além de buscar essa vida para mim. Porque buscar viver dessa maneira, não quer dizer que eu viva dessa maneira - esse é o truque, e a grande mentira das mídias sociais: te fazer acreditar que a vida é essa que a gente posta, que a gente fotografa, que a gente julga só pela capa do livro. 

A vida cotidiana é feita de impasses, uma colagem de recortes simultâneos, situações, problemas, encontros. Alguns deles geram momentos alegres, alguns deles, frustrações. De vez em quando, o pulso se altera com algo que traz angústia, braveza, euforia ou êxtase. Mais do que uma montanha russa, um carrossel sem música, que a gente não pode pedir para descer, senão saltar fora para sair desse moto perpétuo engenhoso. Eu tento enxergar poesia, mas ultimamente tenho visto a vida como ela é. E, às vezes, ela é feia, sem cor e chata.

Estou escrevendo tudo isso, porque não quero ser mais uma a propagar a idéia de que o sucesso é a felicidade permanente, que é ter trilha sonora e cenário produzido com flores. Só a palavra "sucesso" já me faz querer virar os olhos, ôo idéinha errada das boas. Se tem algo que me cansa é dizer que fulano venceu na vida e conquistou o sucesso. Passe longe de mim, por favor, se você tem essas idéias de classificação dentro de você.

Minha vida é como a sua, ou de qualquer outra pessoa ordinária. É feita de sonhos, de vários desfeitos, períodos de mau humor, períodos de TPM. Às vezes brigo com meu marido por motivo bobo, e às vezes erro feio em coisa importante. Gosto de fazer o que gosto, mas não faço o que gosto 100% do meu tempo. Faço muito menos, aliás, do que gostaria. Sim, tenho alguns planos futuros, que estou revendo, porque, como comecei a escrever, tenho a sensação de estar na contramão da vida, sem criatividade para me reinventar, justamente agora que estou no terceiro ato, indo para o quarto. Estou cansada de mim mesma, mas estou é mais cansada dos outros. A verdade é que, estou com 36 anos, com poucas certezas na vida, sem saber bem o que quero.

E precisa querer? Ando tão nos básicos que a decisão do que comer no café da manhã já é um largo passo. Sim, ando com a reforma no sítio, onde pretendo em breve me mudar para viver, uma vida mais bucólica, conectada apenas pelo wi-fi, bem longe da civilização. Se deu para perceber, sou ranzinza, e essa qualidade só parece piorar com o passar do tempo. Já escrevi post sobre o nada, sobre minha tristeza, e hoje sobre a minha rabujisse. Sim, pode contar que tem foto bonita e receita no final, mas até lá, fica com um pouco do meu azedo entediado.


O lado bom da vida são os amigos. O que seria da vida sem eles? Te fazem sorrir quando você quer chorar e te fazem levantar da cama quando você quer passar o dia afundada nela. Diferente de mim, minha amiga anda numa fase boa da vida, de vento em poupa, colhendo os bons frutos de seu trabalho suado. Acompanho-a, desde alguns poucos anos, e vi sua evolução nítida e concreta galgada no esforço e na coragem. É bom quando a gente tem orgulho de amiga/o e pode dizer que sempre acreditamos nela/e. E nesse caso, ela sabe que é verdade, porque já a mandei à merda algumas vezes por duvidar de si mesma. 

Então, em pleno sábado sagrado de descanso, ela me arrastou para fora de casa, para fotografar, me convenceu a fazer um bolo para comemorar, segundo ela, o mês de maio que foi muito bom (para ela!) e me tirou do fastidio - não consigo encontrar tradução que valha dessa palavra - pelo menos por aquele momento. Falou da vida, de como o Studio Elke Noda anda a pleno vapor, contou de seus planos de viagem para Islândia, para comemorar seus 40 anos. Ela transbordava alegria (e amor) e fui tocada, pelo menos durante àquele momento em que passamos juntas, de uma alegria genuína também. 


O bolo que a gente optou, depois de visitar alguns blogs e livros de receita, é o da Linda Lomelino, com algumas poucas adaptações. Sim, o bolo da receita passada também era dela - eu não te contei que ando bem pouco criativa? Ficou divino, bonito como só ele nessa fôrma nova que quis testar, e perfeito sobre a boleira de madeira, do Studio Elke Noda. Receita bem fácil, garanto, e a fôrma garantiu um bolo "cascudo", como eu bem gosto.


Andei indicando alguns filmes ultimamente, e recebi alguns comentários positivos sobre essas dicas. El Ciudadano Ilustre, está em cartaz em alguns cinemas fora do circuito tradicional e é um típico filme argentino: um tragicômico sarcástico, provocador, que caiu como uma luva sobre o meu momento de cansaço e tédio com a vida.


Li anteontem uma postagem ótima (como sempre) do Math. Uma reflexão sincera sobre essa película cada dia mais superficial que é a internet. Essa postagem é 100% inspirada nele.



Bolo de Coco com Café e calda de chocolate | Receita adaptada de Linda Lomelino

para o bolo

  • 150g de manteiga
  • 1 xícara de coco ralado
  • 1 e 1/4 xícara de farinha de trigo
  • 2 e 1/4 colher de chá de fermento em pó
  • 1/4 colher de chá de sal
  • 03 ovos grandes
  • 01 xícara de açúcar granulado
  • 1/4 colher de chá de açúcar de baunilha
  • 2/3 xícara de café forte

para a calda

  • 1/2 xícara de açúcar granulado
  • 2/3 de copo leite
  • 02 colheres de sopa de manteiga
  • 1/4 colher de chá de sal
  • 02 colheres de chá cacau em pó
  • coco ralado para polvilhar ao final

Modo de Preparo

para a massa

Derreta a manteiga e reserve até esfriar. Numa tigela, misture o coco, farinha, fermento em pó e  o sal. Em outro recipiente, bata os ovos, açúcar e açúcar de baunilha até ficar leve e fofo. Adicione a mistura seca e incorpore até ficar homogêneo. Junte a manteiga derretida e o café, misturando até ficar completamente macio. Despeje a massa numa assadeira untada e enfarinhada, de preferência redonda com furo no meio. Asse em forno pré aquecido a 180C graus, por cerca de 50 minutos ou até que o bolo esteja completamente cozido. Deixe o bolo esfriar na fôrma, por uns 15 minutos e, em seguida, desenforme numa grade, para esfriar completamente. 

para a calda

Misture o açúcar, o leite, a manteiga e o sal numa panela e leve ao fogo médio. Mexa sempre até ferver. Deixe a mistura ser por uns 10 minutos, ou até que ela espesse. Coloque o cacau em pó e mexa até ficar completamente liso (use um fouet). Deixe esfriar um pouco e despeje sobre o bolo e polvilhe com coco.

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Bolo de laranja com doce de leite e morangos

Para comemorar meus 36 anos.

Quando completei 36 anos na quarta-feira, não tive muita vontade de celebrar. Ando cansada, um pouco desanimada, e com pouca inspiração. Reconheço que meu processo criativo funciona em fases, nem sempre previsíveis, mas já me acostumei a respeitar as faltas em mim. Mesmo com o aniversário intercalando esse período, nem isso foi o suficiente para levantar meu ânimo.

bolo de aniversario

Há uma camada em mim, ainda em formação, essa que envolve trabalhar com afinco, realizar tarefas cotidianas, lidar com frustrações, em ritmo cadenciado e estável. Respeitar o próprio ritmo, sem se sobrepassar intermitentemente. Eu preciso de pausas, eu preciso estar sozinha, eu preciso fotografar, estar entre flores e livros de receita. Sem isso, não há meditação, não há inspiração, não há vontade de celebrar a vida. E eu ainda estou aprendendo a sustentar essa camada, tão frágil e tão preciosa.

Além da sutileza das camadas internas, a delirante onda das delações premiadas - que vêm desnudando a podridão do corpo político do nosso país, premiando empresários inescrupulosos e ganâncias sem limites, cujo intento de tanto dinheiro é nada menos que comprar poder sobre poder - tem consumido a fé de qualquer alma que vague sobre a terra. Há desânimo, há uma carga de culpa, há um a sensação de impotência, num país que cria burocracia, para vender privilégios. Num país que defende o livre mercado seletivo ou assistencialismo de araque. Feito de coxinhas e mortadelas. É preciso dizer #foratemer mais do que nunca.


O final de semana chegou, entrei na minha toca e renovei minhas forças, a.k.a., dormi feito bela adormecida. Abri o livro de bolos da Linda Lomelino, e me pareceu justo comemorar o aniversário adequadamente. Encontrei a receita perfeita, um bolo de laranja, recheado com doce de leite. Complementei com morangos e um pouco de licor para dar frescor. Algumas rosas para encantar a produção. Bolo fofinho, perfumado e delicioso. Parabéns para mim!


Já dizia meu orientador, durante minha graduação em Economia, que não haverá diminuição da desigualdade e fim dos privilégios nesse país, até que filhos de ricos e pobres estudem na mesma escola e tenham as mesmas oportunidades. E acho que isso pode se estender da educação para saúde, segurança e até ao sistema penitenciário.

Assisti ao filme/documentário de Michael Moore, O Invasor Americano - tem no Netflix - e fica claro que é a partir da educação e pelo respeito à dignidade de qualquer ser humano (livre de preconceitos e crenças morais), que encontraremos a única resposta para qualquer problema social-econômico-político. A revolução social é individual. E não inclui apontar o dedo na cara do outro.

Vale ainda duas indicações de cinema, rondando o tema, Lion e Uma Boa Mentira. Dois filmes sensíveis e justos, com ótimas atuações.


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Bolo de laranja com doce de leite e morangos | Receita adaptada do livro Lomelino's Cakes

para a massa

  • 03 gemas
  • 04 claras
  • 3/4 xícaras de farinha de trigo
  • 1 e 1/2 colher de chá de maisena
  • 1/2 xícara + 1/4 xícara de açúcar
  • 1 e 1/2 colher de sopa de fermento em pó
  • pitada de sal
  • 04 colheres de sopa de óleo de girassol
  • raspas de uma laranja
  • 04 colheres de sopa de suco de laranja
  • 01 colher de sopa de licor rede laranja
  • 01 colher de chá de açúcar de baunilha (ou extrato de baunilha) 

para recheio e cobertura

  • 01 xícara de creme de leite fresco
  • 250g de doce de leite (argentino de preferência)
  • 150g de morangos
  • 02 colheres de sopa de açúcar
  • 02 colheres de sopa de licor de laranja
  • rosas secas para decorar

Modo de Preparo

para a massa

Misture os ingredientes secos numa vasilha: a farinha, maisena, 1/2 xícara de açúcar, fermento e sal. Em outra, junte as gemas, óleo, raspas, suco e licor de laranja e misture. Adicione os ingredientes secos, misturando pouco, apenas para uniformizar a massa. Junte a baunilha. Bata as claras em neve e quando formarem picos, adicione aos poucos o restante do açúcar, até virar um merengue com picos duros. Junte o merengue aos poucos à massa, misturando com delicadeza, até virar uma massa leve.

Despeje sobre duas fôrmas redondas, com fundo removível (15cm de diâmetro) - detalhe: não untadas. Leve ao forno pré-aquecido a 165 graus e deixe assar por aproximadamente 1 hora, ou até que a massa esteja dourada e cozida. Vire os bolos ainda quentes num aparador de arame, para que esfriem, mas não desenforme ainda. A massa vai se soltando aos poucos da assadeira. Quando já estiver frio, desenforme (pode raspar os cantos com uma ajuda de uma faca, se precisar. 

para o recheio

Bata o creme de leite, até virar chantily (cuidado para não bater demais e virar manteiga). Junte o doce de leite e misture bem. Reserve na geladeira. 
Pique os morangos. Adicione as colheres de açúcar e o licor. Misture e reserve também. Quando estiverem macios, escorra-os. 

para o bolo

Quando a massa estiver fria, corte-as na metade, para montar um bolo de 4 camadas. Monte o bolo da seguinte forma: massa, creme, morangos; massa, creme, morangos; massa, creme morangos; e massa. Cubra o bolo com o restante do creme. Decore com rosas e morangos inteiros. Deixe na geladeira por algumas horas antes de servir.

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Sambayón

ovos, açúcar e vinho do porto. 

Ovos, açúcar refinado, vinho do porto. Uma pitada de sal para ajustar o paladar. Braço forte e um pouco de destreza para bater as gemas, em banho maria, até espessar. Eu procurei receitas argentinas, italianas, e até assisti videos. São muitas versões e receitas para a mesma sobremesa. Não foi fácil eleger uma. Tentei a versão da D. Petroña, guru da minha sogra, uma espécie de Julia Child argentina. Confesso que ela me convenceu quando vi que as medidas dos ingredientes eram contadas em "cascas de ovos". Meu lado bobo comemorou essa hora, e eu tive que experimentar como era isso.

O resultado, entretanto, não foi bem o que se esperava de um sambayón. Virou uma espécie de calda, que se desfez toda. Ficou gostoso, quase como uma bebida, uma gemada com vinho. Eu adorei o resultado errado (o pessoal aqui de casa também). Mas enfim, como lembrou meu marido, ao final, "isso não é um sambayón". - deixo claro que, muito provavelmente, fui eu quem errou durante o processo, não sei bem se as "cascas" me confundiram, ou errei algo no processo em si. Não culpe a D. Petroña por isso!

E eu tive que recomeçar, dessa vez, com outra receita, mensurando prolixamente os ingredientes e refazendo passo-a-passo o processo de forma tradicional. A receita em si é fácil. Você só tem que encontrar o ponto certo das gemas batidas e semi cozidas. Quase um merengue de gemas. Acredito que a consistência é um tema em discussão; há quem goste mais mole, e há quem goste com uma consistência de mousse. Há quem goste com mais vinho (eu!). Requer mais paciência e um pouco de fé, mais do que prática. Um bom vinho do porto também contribui para o sucesso do resultado final. 

Eu provei pela primeira vez essa receita na Argentina, na casa da minha sogra. Não tinha sido ela quem preparara na ocasião, mas Gabriel. Ele usara um marsala que havia na despensa e ovos inteiros ao invés de só gemas. Mergulhamos os biscoitos no creme e curtimos o inverno. Se tem uma coisa que eles sabem fazer na Argentina, é curtir o frio de uma forma tão aconchegante como tem que ser. 

Com o outono nublado na janela, temperatura caindo e vento frio nas canelas, não vejo outra alternativa além de colocar meias grossas nos pés, uma coberta nos joelhos, e servir um sambayón quente com biscoito de maizena, ao lado da lareira. Sim, acende o fogo, que eu adoro o frio.

Pode guardar a sobremesa na geladeira também e comer gelada, fica deliciosa.


O trabalho tem sido corrido e eu mal tenho tido tempo para fotografar, cozinhar, e ficar quietinha como eu gosto. Note, que isso não é uma reclamação, eu pressinto uma boa onda trazendo movimento para a vida. Tenho me ocupado de tarefas e de gente; ainda vou escrever sobre isso, sobre esse ponto da vida em que tenho me encontrado. Ele é estranho, e desafiador, quando eu bem orava por silêncio e tranquilidade, tantas coisas têm demandado minha presença e meu tempo. Lá do outro lado do meu rio, a reforma no sítio está em andamento, e eu tenho reformado minha vida junto. São tantas dúvidas e questões tão longe de respostas, e eu aqui sem tempo para sonhar. Mas a vida tem sido sonho mesmo assim, desses que a gente vive meio acordado, engatando um sonho atrás do outro, às vezes meio pesadelo, mas é sonho no final e faz sentido mesmo sem fazer. 


Assisti dois filmes no final de semana anterior, que fiquei com vontade de de indicar por aqui, se é que você ainda não assistiu. O primeiro é o Miss Sloane, com a maravilhosa Jessica Chastain, que ganhou o Globo de Ouro por sua atuação. A verdade é que só a sua atuação já valeria o filme, mas além de tudo, o roteiro e trama são intrigantes do começo ao fim.

O segundo é um drama, daqueles que você tem que preparar a caixa de lenço e repetir para si mesmo ao final do filme, "calma, isso é apenas um filme". A Luz Entre Oceanos tem uma fotografia e figurino lindos, uma história triste, mas bonita, e com atores que adoro: o casal Alicia Vikander e Fassbender, e Rachel Weisz


Sambayón

serve 03 taças

  • 05 gemas pequenas
  • 1/4 xícara de açúcar cristal
  • 1/3 xícara de vinho do porto
  • pitada de sal
  • nozes pecã 
  • biscoitos waffle, maisena, amaretti ou champagne para acompanhar

Coloque as gemas, o açúcar e o sal numa vasilha redonda de vidro e bata com um fouet. Leve a tigela ao fogo baixo em banho maria e comece a bater bem até que o creme espesse. Adicione o vinho aos poucos e continue batendo bem. A mistura deve dobrar o volume, o açúcar vai dar brilho ao creme e você deve tirar do fogo quando ainda estiver liso, mas espesso. 

Despeje em taças para porções individuais. Se quiser servir apenas num recipiente, transfira a mistura, pois a tigela quente da preparação pode continuar a cozinhar o sambayón e ressecá-lo. Quebre nozes grosseiramente sobre o creme. Sirva ainda quente ou morno com os biscoitos. 

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Vento Sul, Patagônia, Argentina

Essas fotos foram tiradas durante a viagem que fizemos, eu e o Gabriel, no início do ano, pelo Sul da Argentina, Patagônia. Meu marido quis encontrar um velho amigo desconhecido, que era até então virtual, há mais de 5 anos, o Carlitos. Foram poucos dias na Patagônia, mas fizemos tantas coisas que jamais faríamos em outro lugar, ou em outra viagem, que a sensação é de que passamos o dobro do tempo lá. 

Carlitos é assador, entre tantos outros talentos, e nos recebeu com um cordeiro patagônico espetado na cruz a la Francis Mallmann, ao ar livre, sob o vento gelado sul. Seu jeito de assar, é quase uma guerra entre o vento e o fogo, com chapas de aço para proteger o assado da chuva e do frio. Eu quis registrar tudo, filmei e fotografei, me sentindo uma fotojornalista numa emboscada no meio do deserto, tentando controlar a câmera sob a ventania, clicando o que consegui - o fogo, o vento, as faíscas - feito uma louca despenteada.

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O primeiro choque do roteiro, foi deixar a cidade de Córdoba e BsAires em seus pulsantes 39 graus, para encarar o frio gelado de Rio Gallegos seguido por El Calafate e El Chaitén. O itinerário, montado por Carlitos, contava com caminhadas, museus, trilhas, paisagens estonteantes. Sedentários convictos, eu e o Gabriel, percorremos uma trilha de 10 horas, para testemunhar lugares onde, como dizem por lá, "deus descansa e lava suas mãos". Escutamos histórias e lendas indígenas. vimos condores sobrevoando o céu azul, pica-paus recortando árvores centenárias retorcidas pelo tempo.

Na primeira cidade, onde mora Carlitos, além de comer o assado perfeito, passeamos por cafés e museus de cultura local e tehuelche. Estivemos bem acompanhados, sob risadas de gallegos argentinos, de vida tranquila, siestas, mates, vinhos e puchos, cheiro de caldo, calefacción a 9 graus.

Para viajar de Río Gallegos ao Calafate, chegamos a acordar às 2h da manhã. Neve na estrada, vento frio. A gente costuma dizer, eu e o meu companheiro, que somos os piores turistas do mundo. Deixamos para programar tudo de última hora e, geralmente, a gente passa despercebido por lugares de atração e pacote completo. Por vezes, acabamos perdendo muita coisa, por conta dessa nossa preguiça disfarçada de humor blasé. Ia ser assim, esse dia, até a gente descobrir que dava para conhecer esse parque lindo, por nossa conta, com mais tranquilidade, dentro do nosso tempo, devagar, atrasado e lento. Tendo o Carlitos do lado - um luxo, de asador a guia, num passe de mágica. Caminhada boa, muito papo furado e fotos a perder de vista. O céu abriu um azul lindo. Pude testemunhar um dos lugares mais espetaculares que já vi: o Glaciar Perito Moreno em sua Lagoa Argentina.

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Lá pelo terceiro dia, fomos em direção a El Chaitén. Guanacos e avestruzes na beira da estrada, numa paisagem árida e seca pelo frio cortante. Rios e lagos de água azul e gelada, curvando-se nos limites de altas montanhas, rochas e glaciares. Flores violetas de cardo tão perfumadas e delicadas que te fazem quase esquecer da força violenta do vento que uiva e machuca.

Foi por lá que nos aventuramos pela trilha mortal e faltou pouco para o resgate ir buscar a gente de helicóptero. Foi de morrer. Não, não é figura de linguagem para falar que era demasiado bonito (sim, era), é que a gente quase morreu mesmo de tanto caminhar. Acho que só sobrevivemos, porque no final, a gente dava tanta risada da nossa própria desgraça, das dores e bolhas nos pés, da falta de noção em caminhar 20km por um terreno acidentado, de pedras, subidas e descidas intermináveis, quando a única maratona que estamos acostumados é a do Netflix, no sofá de casa. Sabe aquela sensação de estar bêbados de sono e cansaço e te dá ataque de riso feito bestas? Era a gente, só que era de dor mesmo, rindo da gente mesmo.

Carlitos, que foi quem nos convenceu a aceitar tal façanha masoquista esportista insana, só foi poupado da nossa ira, porque nos esperava com uma truta na brasa, pescada por ele. Só não estava tão boa, quanto a história que contou de como a pescou. Dá vontade de rir só de lembrar.

A sensação é de que viajei por uma Argentina diferente da que eu levava na memória de dois anos atrás, tanto pelo nosso percorrido, quanto pelo próprio país, transmutante como sua peculiar política. De cachecol e muito abrigo, este com certeza foi um verão inesquecível na Patagônia.

Nos últimos dois dias, retornamos à BsAires, e nos hospedamos num aconchegante hotel em Palermo. Passeamos pelos seus cafés; un cortado com tostadas e medialunas, por favor. Bairros de arquitetura francesa contemporânea de portas e janelas antigas. Vitrines com letreiros e toldos vintages e modernos em cafés, restaurantes e lojas espalhadas pelos bairros porteños. Vários idosos, passeando pelas calçadas e ruas adornadas com seus característicos e belos jacarandás. Poderia ser clichê se não fosse tão autêntico em Buenos Aires, capital.

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Gracias Argentina, querida! Te quiero mucho. 

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Torta de Pomelo

Cor-de-rosa e inspiração em SP.

Cor-de-rosa e pomelos.

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Passei as últimas duas semanas em São Paulo, com a inspiração rasa. Falta meditação e silêncio na cidade de torres de concreto, por vezes me falta ar para respirar. Me sinto cansada, tenho menos vontade de fazer coisas cotidianas e meu dia se torna mais enfadonho e feio. Fico mais mau-humorada que o usual, angustiada e desanimada. O ciclo da falta de inspiração se retroalimenta, numa ciranda caótica. Não digo que essa cidade é responsável pelos males da minha vida, nem repito que não exista amor em essepê. Mas tem ficado claro, para mim, que parte do que sou cada dia combina menos com seu ritmo, me sinto cada dia menos em casa e mais descompassada de seu labirinto místico, onde os grafites não gritam mais.

Minha casa em São Paulo, com a transição para Minas em curso, começou a adquirir uma cara de abandono. Caixas espalhadas pelos cantos. Alguns desleixos que passam quase desapercebidos - uma lâmpada queimada no corredor, uma parede descascada amarelando, um armário esquecido entulhado, a colcha velha rasgada sobre o sofá - mas que no conjunto da obra, te fazem querer desviar o olhar. Tudo isso vai envenenando aos poucos a alma, empoeirando qualquer entusiasmo e enferrujando o pobre coração.

Decidi fazer uma faxina (ainda não finalizada) nos armários, limpei, doei e joguei muita coisa guardada. Encontrei coisas esquecidas e bonitas, como tecidos comprados para festas que não aconteceram, para almofadas que não foram costuradas; designei novos destinos para eles. E nessas horas, eu pareço uma detetive na minha própria casa, investigando gavetas e caixas, pastas e livros, procurando o que não sei, e encontrando o que não tinha a menor idéia que habitava a mesma casa que eu. 

A faxina resgatou algo esquecido dentro de mim: a sensação de que muitas coisas dependem apenas do nosso esforço para que se tornem agradáveis. Talvez não agradável o suficiente para me fazer mudar de idéia sobre ir morar em outro lugar, mas pelo menos de me sentir inspirada a movimentar a vida com esperança, leveza e alegria.

Quando encontrei o pano cor-de-rosa no armário, vi uma toalha de mesa que há tempos eu buscava. Quando encontrei o pacote de chocolina (biscoito de chocolate argentino) na despensa, pensei numa torta para brilhar na tarde calorosa de verão. Corri para o supermercado e, para a minha surpresa, havia pomelos. Não tive dúvidas, ia inventar uma receita de torta com base de chocolate, recheio de baunilha e pomelo. Bem leve e com gelatina, para combinar com o fim do verão.

Montei a mesa, cortei os gomos. Cozinhei e fotografei. Me senti com a inspiração renovada e novamente em casa. Encerrar ciclos, sem o movimento do abandono, pode ser gratificante e libertador. É trabalhoso e algo a ser amadurecido dentro de mim. Não é fácil manter duas casas, e a transição, às vezes, dá uma cara de vida cigana, que é uma tortura para uma taurina, como eu. Mas enxergar privilégios na vida ordinária, é minha grande qualidade, e meu maior ativo. 

Como no cor-de-rosa e pomelos: eu vejo amor e inspiração.  

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Torta de Pomelo

para a massa

  • 100g de biscoito de maisena
  • 100g de biscoito de chocolate
  • 100g de manteiga com sal derretida

para o recheio branco

  • 01 xícara de creme de leite
  • 01 colher de sopa de extrato de baunilha
  • 02 colheres de sopa de açúcar refinado
  • 01 colheres de sopa de gelatina em pó sem sabor
  • 05 colheres de água fria

para a cobertura de pomelo

  • 02 xícaras de suco de pomelo (01 e 1/2 pomelos grandes)
  • 02 colheres de sopa de gelatina em pó sem sabor
  • 02 colheres de sopa de açúcar refinado

para a decoração

  • 02 pomelos
  • açúcar demerara

Modo de preparo

para a massa

Quebre os biscoitos e bata num liquidificador ou processador até virar uma farofa. Misture a manteiga até ficar com uma consistência maleável e abra numa fôrma redonda de 28 cm de diâmetro, com fundo removível. Espete com um garfo por toda superfície da torta. Leve para assar à 200C graus por uns 10 minutos, ou até a massa dar uma secada. Deixe esfriar.

para o recheio branco

Dissolva a gelatina numa panela com a água fria e deixe por uns 3 minutos. Leve ao fogo baixo até derreter e dissolver por completo. Junte o açúcar, e misture até dissolver também. Bata num liquidificador o creme de leite, extrato de baunilha e acrescente a gelatina. Bata bem por uns 3 minutos. Despeje sobre a massa da torta e leve à geladeira por 1h30 ou até que fique firme.

para a cobertura de pomelo

Coloque o suco numa panela com a gelatina e o açúcar. Leve ao fogo baixo e misture até dissolver por completo. Espere esfriar e despeje sobre a torta. Leve à geladeira por mais uma hora, ou até que a gelatina fique firme.

Para decorar, descasque os pomelos e corte em gomos. Disponha sobre a torta, use sua criatividade.

 

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